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Elvis Presley, Kiss, Gerard Way e como a maquiagem masculina impactou 11 gêneros do rock

Do pó-de-arroz discreto de Elvis Presley até o delineado marcante do Twenty One Pilots - uma linha do tempo de homens do rock usando maquiagem

Julia Harumi Publicado em 06/10/2019, às 10h00

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Elvis Presley, David Bowie, Gene Simmons, Gerard Way (Arte: Julia Harumi Morita)
Elvis Presley, David Bowie, Gene Simmons, Gerard Way (Arte: Julia Harumi Morita)

Homens usando maquiagem não é novidade. No Egito Antigo, os faraós já usavam o que podemos chamar de o precursor do delineador. O pigmento preto - kohl-  tinha propriedades químicas que protegiam os olhos e simbolizavam o status da elite. 

Na Idade Moderna, nobreza e realeza usavam maquiagem para corrigir imperfeições, clarear a pele e realçar traços do rosto. Da mesma forma, as primeiras estrelas de Hollywood também se embelezavam para aumentar a elegância e beleza.

Porém, em algum momento da história, decidiu-se que a maquiagem era algo feminino. Homens usando maquiagem ganhou tom pejorativo, até mesmo em meios artísticos como cinema, teatro e música. Mas rock sempre foi subversão - e bateram de frente com a ideia.

Desde o início do estilo, na segunda metade do século XX, diversos astros do rock ousaram desafiar padrões estéticos - de vestimenta e ações. E também, padrões de maquiagem. Com glitter ou sombra preta nos olhos, os músicos criaram cenários e figurinos para as performances nos shows, e usam a diferença para encarar personas, também - o caso de Stardust e Bowie, por exemplo.

Para mostrar uma evolução histórica do uso de maquiagem alinhado ao rock, separamos 11 subgêneros do estilo e músicos de cada era que nunca se importaram em lambuzar o rosto. Veja:

Contornos definidos, pancake e Rockabilly 


A maquiagem acompanha os astros do rock desde o surgimento do gênero nos anos 1950. No rockabilly, os músicos usavam a maquiagem para destacar traços marcantes do rosto de um modo discreto e quase imperceptível.

Little Richard, por exemplo, já gostava de se maquiar antes mesmo de ser músico - treinava os traços com os produtos da mãe. Mais tarde, com a fama, os discretos olhos contornados se tornaram a marca do cantor. E quem seguiu os passos do precursor do novo gênero para o charme irreverente foi ninguém menos que o Rei do Rock, Elvis Presley. 


O início do Hard Rock e o rompimento dos padrões de gênero 

Ao contrário da simpatia do rockabilly, o hard rock usava a maquiagem para confrontar padrões de gênero e criar um estilo próprio de expressão no final dos anos 1960 e durante os anos seguintes. Nascido em época de contracultura, o estilo queria abalar e quebrar padrões sociais - e então bandas como os Rolling Stones, Aerosmith e Queen abraçaram um visual andrógino propositalmente.

Freddie Mercury, Mick Jagger e Steven Tyler não se tornaram apenas estrelas do rock, mas ícones fashion ao usar cabelos compridos, roupas femininas, lenços, lápis de olho, sombra, unhas pintadas e até mesmo batom. De alguma forma, o visual afeminado intensificava o ar masculino e criou um novo anti-padrão para os rockstars (que manteve-se assim no hard rock). 


Alfinetes, moicanos e maquiagem

O punk chegou nos anos 1970 pronto para rejeitar tudo o que era comercial e provocar os olhos e ouvidos do público. As roupas rasgadas, pichadas, customizadas com alfinetes e rebites junto com os moicanos e as maquiagens excêntricas fizeram  o gênero musical se consolidar rapidamente como um movimento icônico.

O padrinho do punk, Iggy Pop, fugia um pouco dessa descrição. O cantor conhecido pela performance energética muitas vezes completa o visual do cabelos compridos, calças justas e sem camisa com lápis de olho básico e despretensioso.


Heavy metal e o espetáculo das maquiagens 

A profundidade e teatralidade do heavy metal levaram a história da maquiagem no rock para outro nível. A maquiagem deixou de ser apenas um complemento do visual e passou a definir a persona que seria encarnada nos palcos.

As roupas justas e mirabolantes, as botas de plataforma e o rosto branco com desenhos pretos e pratas deram vida aos personagens criados pelo Kiss. Starchild, Demons, Spaceman e Catman são conhecidos por todo o mundo e se tornaram um símbolo da cultural, frequentemente reproduzidos em festas à fantasia.


Rock alternativo: solidão e sombras pretas 

Nos anos 1980, o rock alternativo e melancólico ganhou destaque com as bandas Bauhaus, The Cure e Siouxsie and the Banshees. Influenciados pela moda gótica, medieval e punk, os músicos desse gênero usavam e abusavam das sombras pretas, em pinceladas angulosas, e batons vermelhos.

E quando o assunto é cultura cult e sombras pretas, não tem como não mencionar Robert Smith. O vocalista do The Cure ganhou fama com as músicas tristes, os cabelo bagunçado e a maquiagem carregada. Assim como Smith, Peter Murphy também ficou conhecido pelos olhos esfumados com sombra preta ou vermelha.


New Wave: Cores e glamour, baby 

Ainda nos anos 1980, uma tendência totalmente oposta aos góticos tomou conta do mundo do rock. Com muita cor e extravagância, o new wave e o glam rock deu continuidade à cultura andrógina e pop da década anterior.

Por meio do alter ego Ziggy Stardust, David Bowie foi na direção contrária dos subgêneros da época. Com os cabelos vermelhos, roupas brilhantes e maquiagens coloridas, o astro conquistou o público com a capacidade de mudar completamente o estilo visual e musical que tinha. Entre o rock e o pop, também podemos citar como símbolo fashion Boy George, que usava contornos e delineados neon, e Prince, com os olhos contornados bem definidos.


Glam Metal  

O glam metal surgiu da mistura do metal com a cultura pop andrógina que continuava firme e forte nos anos 1980. Os cabelos ganharam volume, as roupas carregaram no couro e as maquiagens pesada do heavy metal se tornaram mais femininas e parecidas com as das drag queens.

Os integrantes do Mötley Crüe representam o glam rock, principalmente Nikki Sixx com os olhos pintados, contornos vermelhos e traços pretos nas bochechas. Dee Snider também ajudou a moldar a visual do sub-gênero, com a sombra azul exagerada, o contorno geométrico e batom vermelhos.


Entre o rock industrial e hard rock: Marilyn Manson e a arte do bizarro 

Marilyn Manson e a estética bizarra caminham juntos. As lentes de contato brancas, as sombras escuras, que vão desde as sobrancelhas até o início das bochechas, e o batom vermelho-escuro foram um dos fatores que levaram o cantor chocar e ser admirado pelo público. 

Junto com Rob Zombie, vocalista do White Zombie conhecido pelas maquiagens que simulam machucados e sangue, os dois marcaram o início do rock industrial e outros subgêneros similares como post-rock.


O grunge sem gênero de Kurt Cobain

Apesar da introversão do grunge, Kurt Cobain defendia aberta e persistentemente a liberdade de expressão e de gênero. O ícone não usava a maquiagem para criar um personagem e conquistar o público, mas sim para protestar e contra o preconceito fortemente presente na sociedade.

E quando o líder do Nirvana se aventurava com a maquiagem,normalmente, ele fazia um contorno preto forte e definido em volta dos olhos. Além disso, Cobain e os outros integrantes da banda eram conhecido por usar roupas femininas como saias e vestidos nos shows e eventos.


A era do emo, do pop punk e do lápis de olho 

Os anos 2000 foram marcados pelo auge da melancolia e do sentimentalismo emo. O subgênero musical influenciou a moda alternativa da época com a mistura de elementos góticos e esportivos. Franjas longas cobrindo os olhos e lápis preto debaixo dos olhos eram essenciais para quem quisesse seguir o  movimento.

Por mais que Gerard Way não goste do título, ele é o símbolo máximo do emo. O vocalista do My Chemical Romance revezava entre o lápis preto e a sombra vermelha super-esfumada nos olhos. Outros músicos dessa década conhecidos pela maquiagem são Billie Joe, vocalista e guitarrista do Green Day; Pete Wentz, o baixista do Fall Out Boy; Brendon Urie, vocalista do Panic! at the Disco.


A vez do indie 

O indie rock surgiu nos anos 1970, mas no novo milênio, ganhou novo fôlego. Destacaram-se nomes como Arcade Fire, The Strokes e The White Stripes. A primeira e até mesmo a segunda onda do indie rock, composta por The Black Keys, Interpol e Kings of Leon, não eram adeptos da maquiagem, mas o cenário começou a mudar a partir da década de 2010.

Se tivermos que escolher alguma banda para carregar o legado da maquiagem masculina no rock seria Twenty One Pilots. Josh Dun e Tyler Joseph buscam envolver o público em uma performance cativante e cênica, que inclui a apresentação dos músicos com sombra vermelha nos olhos e tinta pretas nas mãos e no pescoço.