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Em carta, Sting acusa Bolsonaro de negligência criminal em escala global por queimadas na Amazônia

Dono de uma fundação que ajuda a preservar a Floresta Amazônica e o povo indígena, o ex-baixista do The Police escreveu carta criticando atitudes do presidente brasileiro

Jon Blistein / Rolling Stone EUA Publicado em 27/08/2019, às 18h06

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Sting e Jair Bolsonaro (Foto 1: ANSA/AP e Foto 2: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados)
Sting e Jair Bolsonaro (Foto 1: ANSA/AP e Foto 2: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados)

Sting escreveu uma carta aberta criticando a resposta do governo brasileiro - ou falta dela - ao incêndio devastador que corrói a Floresta Amazônica. Em uma nota publicada no Facebook, o músico fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro, que é cético em relação ao aquecimento global e já expressou desprezo em relação ao povo indígena que vive no Amazonas. 

Também acusou o presidente de abrir a Floresta para desmatamento e exploração comercial, além de minimizar a reação global ao incêndio recorrente. Como informou o New York Times, Bolsonaro também rejeitou uma proposta de US$ 22 milhões para ajudar a combater o fogo oferecida pelo presidente francês Emmanuel Macron durante reunião do G7 (o presidente brasileiro depois voltou atrás e disse que estaria aberto a aceitar a oferta se Macron “retirar os insultos que fez à minha pessoa” e as insinuações de que o Brasil não tem soberania sobre a Amazônia). 

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Sting é há muito tempo ativista na questão de preservação florestal, e inaugurou em 1987 a fundação Rainforest Foundation (“rainforest” significa “floresta tropical” em português), e trabalhou de perto com tribos indígenas brasileiras e em toda a América do Sul. Na sua carta, escreveu como “líderes populistas citando agendas nacionalistas ou afirmando que as mudanças climáticas e suas consequências são uma farsa são culpados de muito mais do que ficar parados e fazer nada. Isso é negligência criminal em escala global.” 

Leia a tradução da carta na íntegra:

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"Reza a lenda que o Imperador Nero “tocava lira enquanto Roma queimava.” Enquanto obviamente nos arrepiamos com os fatos duvidosos de que um homem tão estúpido poderia ter sido um músico, nenhum de nós, eu incluso, poderia ser complacente com as dimensões trágicas do desastre que toma conta da Floresta Amazônica enquanto escrevo. 

A Amazônia pega fogo em uma velocidade sem precedentes - 80% mais do que no último ano e 39% mais de desmatamento - e o mundo de repente começou a se dar conta. 

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Líderes populistas citando agendas nacionalistas ou afirmando que as mudanças climáticas e suas consequências são uma farsa são culpados de muito mais do que ficar parados e fazer nada. Isso é negligência criminal em escala global.” 

Não há mais lugar para clichés ultrapassados de nacionalismo em um mundo onde todos nós respiramos o mesmo ar e no qual todos sofreremos as consequências dessa negligência intencional. 

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Chamar a Amazônia de “pulmão do mundo” pode não ser anatomicamente correto, mas convém com o significado e que é algo vital e insubstituível na cadeia do bem-estar de nosso planeta e o estreitamento crescente dos vetores climáticos com os quais a vida humana pode sobreviver. Simplesmente não podemos arcar com as queimadas. 

Nos aproximamos rapidamente da ponta em que todos os incêndios vão continuar queimando e nada vai poder pará-los. 

Apelamos para o governo brasileiro mudar as políticas que abriram a Amazônia para exploração. Retórica nacionalista foi um dos motivos que inflamou as chamas que ameaçam engolir o mais importante laboratório de vida do planeta. Infindáveis espécies estão em risco iminente de extinção. 

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, falou abertamente que não é amigável em relação ao povo indígena e agora ele está voltando atrás de acordos de preservação de terra já assinados, abrindo territórios e desmantelando organizações de direitos científicos e humanos no Brasil para permitir isso. Ele criticou os países do G7 por hipocrisia, dizendo que nós cortamos nossas florestas faz tempo, mas isso não é motivo para não aprender com esses erros.

Todos nós devemos ajudar a criar um modelo de economia sustentável que tornem a destruição das florestas do Brasil desnecessária. 

No RF trabalhamos há três décadas com os índios e povo amazonense - e não só no Brasil mas em vários países da América do Sul para proteger suas terras e seus direitos. É o mundo deles que está em perigo iminente, e o estilo de vida deles que precisa de proteção. Agora mais do que nunca precisamos apoiá-los para garantir a sobrevivência deles. 

Com toda a certeza é interesse próprio do Sr. Bolsonaro entender e aceitar isso. Nós imploramos para ele a revisão de suas políticas e mudança de suas ações e retórica incendiária antes de ser tarde demais. Não existe tempo para tocar lira: o mundo está queimando."