Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Em momento sereno da carreira, Maria Rita fala do apreço pelo samba e da nova biografia de Elis

"Ser filha de Elis Regina nunca foi um peso para mim", garante a cantora

Mauro Ferreira Publicado em 10/06/2015, às 08h07

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
<b>No Batuque</b><br>Artista pretende permanecer no samba em disco futuro - Vicente de Paulo/ Divulgação
<b>No Batuque</b><br>Artista pretende permanecer no samba em disco futuro - Vicente de Paulo/ Divulgação

Maria Rita não nasceu no samba, mas no samba se criou e formou um público jovem que a segue em apresentações e redes sociais. Coração a Batucar, segundo álbum da cantora no gênero, acaba de ser relançado em edição de luxo, que inclui DVD com show, clipe e making of. E a batucada deve continuar. “Meu próximo disco provavelmente vai ser de samba”, ela revela. Aos 37 anos, 13 deles na carreira musical, Maria Rita continua no olho do furacão – tal como a mãe dela, Elis Regina (1945-1982), ícone da MPB cuja vida é recontada na recém-lançada biografia Nada Será como Antes, que a filha ainda não leu, mas cuja publicação autorizou.

70 anos de Elis Regina: relembre covers de sucesso da “Pimentinha”.

Há uma parcela do público que preferiria ouvir o tipo de MPB que você mostrou no primeiro álbum (Maria Rita, de 2003). Considera isso preconceito contra o samba?

Pode ser também um preconceito contra o samba, mas acho que é mais um preciosismo em relação à intérprete Maria Rita. Quando eu fiz um show em Portugal, um casal foi falar comigo no camarim. O homem disse: [imitando o sotaque português] “O show é lindo, feliz, alegre. Mas eu gosto mais da Maria Rita triste”. Aí um cônjuge de outro casal replicou: “Mas tem tristeza no samba!” Deixei os dois discutindo e fui beber uma água [risos]. Como cantora, eu consigo lidar bem com esses dois universos musicais. Sempre vai ter quem me cobre a tradição das cantoras da MPB. Mas essa cobrança não é minha. Meu próximo disco provavelmente vai ser de samba, de novo.

Naquele primeiro álbum havia a curiosidade de se ouvir a filha da Elis. Isso foi um peso para você na época?

Não. Ser filha de Elis nunca foi um peso para mim. O peso foram as acusações na imprensa de que eu imitava minha mãe, as interpretações de que eu tinha começado de onde ela parou. Parecia que a intenção era me dar um soco na boca do estômago. Mas, honestamente, sinto que, da parte do público, essa associação foi se dissolvendo ao longo da turnê do primeiro disco e diminuiu mais no álbum Segundo (2005).

Com paixão e intensidade, Elis Regina mudou a face da música brasileira.

Por falar em Elis, você já leu a biografia escrita pelo jornalista Julio Maria?

Não, mas vou ler. Quando o Julio me mostrou os originais, eu ainda estava um pouco sensibilizada, porque tinha acabado de fechar o ciclo de shows em tributo à minha mãe. Mas dei minha autorização, porque eu confio no cara, conheço a boa índole dele. E, além do mais, o Julio é um apaixonado por música brasileira. Ele pediu para conversar comigo quando ainda estava escrevendo o livro, mas eu argumentei que não tenho relatos da convivência como a minha mãe. Eu não me lembro da minha mãe.

Você autorizou a biografia de Elis sem ler o livro, mas declarou ao jornal O Globo que continua contra a publicação de biografias não autorizadas. Isso não é contraditório?

Não é contraditório. O que eu sinto hoje, de forma generalizada, é uma falta de comprometimento com a durabilidade da palavra impressa. Vive-se de fofoca. Os 15 minutos de fama já viraram cinco. A falta de comprometimento com a verdade me preocupa. Eu gostaria que me dessem o direito de decidir o que pode e o que não pode ser falado sobre a minha vida. Eu tenho direito à minha privacidade. Não sou uma pessoa pública – pública é a minha carreira. Por isso, se um zé mané escrever minha biografia, eu não vou autorizar. Ou talvez até autorize, se tiver lido antes.

Como você se avalia como mãe de dois filhos?

Sou uma mãe legal. Sei que cada um dos meus filhos tem uma necessidade emocional própria. Eu fui mãe na porrada. Tinha medo, porque eu nunca tive mãe. Mas aí veio o Antonio [de 11 anos; ele tem uma irmã, Alice, 2 anos] e o instinto aflorou. O Antonio me ensinou tudo. Sou um pouco dura, às vezes, mas respeito o espaço e a vontade deles.

Os 100 maiores discos da música brasileira.

Essa edição de Coração a Batucar foi lançada na América Latina. Pensa em investir na carreira internacional?

Sim, tenho planos e vontade. Já tenho uma carreira consolidada no Brasil que me permite trabalhar no resto do mundo sem a sensação de que estou perdendo espaço no meu país. Tenho muito orgulho do que eu consegui fazer, mas tenho gana de crescer mais, até do ponto de vista vocal. Quero explorar outros territórios e repertórios.