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Entrevista: Dentro da nave-mãe com George Clinton

O líder do P-Funk fala sobre drogas, gravar com Kendrick Lamar e os 50 anos de funk

Brian Hiatt Publicado em 28/12/2014, às 13h49

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George Clinton - AP
George Clinton - AP

Entre o Parliament, o Funkadelic e seus derivados, George Clinton trabalhou em pelo menos 37 álbuns na década de 1970. “Tínhamos três estúdios funcionando ao mesmo tempo”, conta Clinton, aos 73 anos, oferecendo uma avaliação sincera e divertida sobre seus anos de glória na biografia Brothas Be, Yo Like George, Ain’t That Funkin’ Kinda Hard on You? “Vivíamos e respirávamos e comíamos música. Era um movimento, como a Motown, mas em uma banda só.” Clinton acaba de concluir um álbum novo e também colaborou com Kendrick Lamar em faixas que possivelmente estarão no próximo álbum do rapper. “Ele é um garoto esperto”, Clinton diz.

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A sua carreira passou de doo-wop, com seu grupo original, The Parliaments, a hip-hop e além. Como explica essa longevidade?

Sempre que ouço gente – como por exemplo músicos mais velhos – falando que algo novo “não é música”, corro para ver o que é.

Quando ouviu a palavra funk pela primeira vez?

Pode ter sido com Lightnin’ Hopkins, Muddy Waters, James Brown ou até Louis Jordan – músicos de jazz também usavam [o termo]. Mas nós adicionamos a ideia de que viveríamos o funk.

Você fumou crack até uns cinco anos atrás, mas nunca deixou de ser produtivo.

Foi isso que me encrencou! Como eu era produtivo e capaz de fazer música, não tinha problema nenhum. E isso estava bem longe da verdade, porque o conceito de se drogar é se foder todo. E quando você se fode, faz coisas de foder a vida! Estou tentando recuperar meus direitos autorais [de ex-empresários] e isso fez com que eu me endireitasse, porque não conseguia me concentrar nos processos e em todo o resto ao mesmo tempo.

Como foi que você acabou subindo ao palco de fralda?

Na época era, tipo, a psicodelia no punk – Iggy Pop andava com a gente. A ideia era ser rude, naquele momento. Então fizemos a mesma coisa, mas fizemos com uma piada. Eu sabia que era ousado. Só dissemos: “Vamos ser idiotas em relação a isto”.

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Como o LSD afetou a sua criatividade?

Mudou a minha cabeça em relação a várias coisas pelo lado positivo, me ajudou a sair da mentalidade de agarrar e arranhar e brigar por causa de tudo, ter inveja de tudo. Nos ajudou a experimentar coisas novas que jamais teríamos experimentado. Mas essa parte chegou ao fim em 1970. Para mim, Woodstock acabou, e era necessário recomeçar. Em Chocolate City, e depois em Mothership Connection, nosso panorama era completamente diferente. Agora é uma nave espacial com montes de figurinos caros em vez de fraldas e lençóis.

No livro, o único tipo de música que parece te incomodar é a disco.

Não, eu simplesmente não curtia o fato de que eles queriam resumir tudo em uma batida. [O executivo de gravadora] Neil Bogart tentava equiparar o ritmo cardíaco das pessoas – quando se começa a mexer com o relógio biológico, eu fico meio apavorado. Foi por isso que fizemos “(Not Just) Knee Deep” (1979) – para resgatar a dance music dos sem graça.

Você produziu o primeiro álbum dos Red Hot Chili Peppers – outras pessoas poderiam ter se ressentido por garotos brancos usarem seu som.

Bom, eu já tinha aprendido a minha lição em relação a isso quando conheci o Cream. Fiquei envergonhado por eles saberem mais sobre blues do que eu. Eric Clapton sabia quem era Robert Johnson, e eu, não. Então, se alguém demonstra respeito por algo, tem o direito. E eu acho que os Chili Peppers fizeram jus a sua “funkiness” – “Give It Away” é uma faixa muito funk.