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“Ficamos mais famosos quando estávamos fazendo nada”, diz guitarrista do Slowdive

Com disco de inéditas recém-lançado – o primeiro em mais de duas décadas –, banda britânica de dream pop faz show de estreia no Brasil

Lucas Brêda Publicado em 12/05/2017, às 16h40 - Atualizado em 13/05/2017, às 13h41

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A banda britânica de shoegaze Slowdive - Ingrid Pop/Divulgação
A banda britânica de shoegaze Slowdive - Ingrid Pop/Divulgação

Duas décadas foi o tempo em que os membros do Slowdive ficaram afastados, depois que a banda se separou, em 1995 (alguns remanescentes chegaram a formar o grupo Mojave 3 na época). “Recebemos uma ligação do festival Primavera”, conta o guitarrista Christian Savill, em entrevista por telefone à Rolling Stone Brasil. “Não pensamos em nos reunir. Somos muito sortudos, na verdade.”

Savill cita o destino, mas o retorno do Slowdive não foi apenas resultado de uma generosidade do festival catalão em sua edição de 2014. O quinteto britânico é mais uma banda do movimento noventista shoegaze a voltar à evidência depois de anos no esquecimento. Foi assim com Swervedriver e My Bloody Valetine, por exemplo, que também passaram mais de uma década longe dos holofotes e retornaram para turnês de reunião e álbuns inéditos.

“A maioria das bandas, quando terminam, são lembradas por um tempo e depois costumam ser completamente esquecidas. Nosso caso foi completamente oposto”, comenta Savill. De fato, não apenas o Slowdive, mas a sonoridade que amarrou barulho e melodia, produzida na Inglaterra na virada nos anos 1980 para os 1990 (reunido no emblemático selo Creation Records) não ressoou no público como sua urgência e originalidade indicavam e acabou engolido pelo britpop emergente de Oasis, Blur e Pulp, entre outros.

O caráter seminal dos dois primeiros álbuns do Slowdive – Just For a Day, de 1991, e Souvlaki, de 1993 –, que praticamente fundaram o dream pop ao sobrepor texturas carregadas de ruído e reverberação em uma atmosfera lúdica e viajada, contudo, acabou sendo redescoberto pelas novas gerações. “O que aconteceu foi: no instante seguinte em que nos separamos, estávamos completamente esquecidos, mas conforme os anos foram passando, mais e mais pessoas começaram a pedir: ‘Vocês têm que voltar, vocês precisam voltar’”, acrescenta o guitarrista. “E isso foi ficando cada vez mais forte até que chegou o momento certo. Ficamos mais famosos quando não estávamos fazendo nada.”

Depois da separação, nem mesmo Savill tinha contato com os discos lançados pelo Slowdive nos anos 1990. “Foi um pouco antes da música digital, YouTube e tudo isso, então eu não ouvia porque não tinha os álbuns”, ri. “Anos se passaram e ninguém mencionava nada sobre a banda. Eu meio que quase esqueci completamente daquilo. Foi mais nos últimos dez anos que as pessoas começaram a comentar e citar como influência, e aí eu voltei a ouvir. Fiquei: ‘Talvez não seja tão ruim assim no fim das contas’.”

Se recordar do antigo grupo era um exercício difícil para Savill há 15 anos, a situação da última sexta, 5, então, era impensável: um novo álbum do Slowdive, autointitulado, chegou aos serviços de streaming. Mais: assim como os singles – “Star Roving”, “Sugar For the Pill” –, o trabalho está sendo imediatamente aclamado pela crítica, saciando uma ânsia duradoura dos fãs antigos e recentes e, ainda, levando o grupo para além do hemisfério norte. O Slowdive sobe ao palco do Cine Joia, em São Paulo, no próximo domingo, 14, como parte de mais uma edição do Balaclava Fest, festival do selo homônimo que já trouxe ao Brasil nomes como Mac DeMarco e Swervedriver, entre outros.

O trabalho é resultado direto do reencontro para o show no Primavera Festival de 2014, ocasião em que se apresentaram para cerca de 25 mil (público nunca reunido na primeira encarnação da banda e completamente antônimo aos shows esvaziados antes da separação). “Sabe o que foi mais estranho? Estávamos juntos no mesmo lugar e muita coisa tinha acontecido nas nossas vidas. Obviamente estávamos mais velhos, e aquilo tudo foi muito, muito estranho”, lembra Savill. “Os primeiros ensaios foram divertidos, porque estávamos revendo antigos amigos e isso trouxe um sentimento animador. E vimos que não queríamos só tocar as músicas velhas, também queríamos um disco novo.”

Se o terceiro álbum da banda, Pygmalion, de 1995, é demasiadamente experimental e focado nas ideias do outro guitarrista, Neil Halstead (as faixas de Pygmalion, por exemplo, nunca foram tocadas ao vivo antes do retorno), o novo registro é um reencontro com o som fundamental do grupo – o que pode ser encarado como uma extensão do reencontro dos integrantes e daquilo que os uniu em um primeiro momento. “Depois do ‘estranhamento’, foi meio fácil tocar as músicas antigas, mas voltar a compor foi mais difícil”, explica Savill. “Era complicado saber qual Slowdive nós gostaríamos de ser: o Slowdive antigo? Algo completamente novo? Demorou um bocado até relaxarmos e conseguirmos recuperar nossa identidade, sem ter que forçar nada.”

Slowdive foi resultado de espaçadas reuniões em estúdio. “Algumas das músicas que reunimos no começo eram, tipo, até boas, mas não tinham o sentimento certo”, lembra o guitarrista. “Leva um tempo para voltar a ser natural, continuamos tocando e fazendo e eventualmente começou a fazer sentido. Mas demorou muito mais do que nós imaginávamos”. Em se tratando do Slowdive, soar natural e espontâneo não é apenas um atributo, mas uma necessidade para as construções essencialmente calcadas nas fluências. “Até podemos nos esforçar e tentar muito, mas dá para perceber, soa forçado”, concorda. “E não tínhamos pressão nenhuma, então pensamos: ‘Não vamos lançar se não for algo de que gostamos’.”

Recém-lançado, Slowdive já é considerado uma espécie de disco complementar para Souvlaki, segundo e mais representativo álbum do quinteto. “Souvlaki é a nossa ‘casa’, se você gostar dessa expressão”, analisa Savill. “Então acho que foi natural as músicas terem ido para esse lado do Souvlaki, entre ele e o Pygmalion, acho. Não escolhemos fazer desse jeito, mas foi assim que as músicas saíram. Acho justa a comparação.”

No domingo, 15, Savill, que durante a entrevista admitiu ter conhecimento praticamente nulo da música brasileira (chegou a perguntar se o Pantera era brasileiro, confundido o grupo norte-americano de heavy metal com o Sepultura), vai ter a oportunidade de conhecer pelo menos uma banda nacional. Antes do Slowdive, sobe ao palco do Cine Joia o E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, completando o line-up do Balaclava Fest com os norte-americanos Clearance e Widowspeak.

Balaclava Fest #5

Slowdive, E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, Clearance e Widowspeak

14 de maio (domingo), às 17h

Cine Joia | Praça Carlos Gomes, 82 – Liberdade – São Paulo/SP

Ingressos: R$ 180 (há meia-entrada) na LivePass