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Erykah Badu brilha na turnê Out My Mind, Just in Time

Cantora apresentou o melhor do neo soul para o público do Credicard Hall, em São Paulo, no domingo, 29

Por Stella Rodrigues Publicado em 30/08/2010, às 13h47

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Erykah Badu no palco do Credicard Hall, em São Paulo - MRossi
Erykah Badu no palco do Credicard Hall, em São Paulo - MRossi

Erykah Badu define bem o termo "diva": no show da turnê Out My Mind, Just in Time que realizou no domingo, 29, no Credicard Hall, em São Paulo, a cantora foi clássica, moderna, pop e retrô, comandando público e banda com sensualidade e carisma - e, claro, com uma ainda intacta potência vocal.

Em cerca de duas horas de show, a texana dona de quatro prêmios Grammy levou para cima do palco hip-hop, música eletrônica, jazz, R&B, soul, funk, música africana e pop. Enfim, todos os elementos que constituem o chamado neo soul. Essa variedade de estilos lhe rendeu o apelido de "rainha do neo soul".

Badu, que não vinha ao Brasil desde sua apresentação no Free Jazz Festival, em 1997, fez um show baseado em seus dois últimos discos, New Amerykah Part One (4th World War), de 2008, e New Amerykah Part Two (Return of the Ankh), lançado no último mês de março. O primeiro reúne canções mais politizadas, com letras de análise e crítica social, e o segundo traz uma Erykah apaixonada, com músicas mais melódicas.

A cantora subiu ao palco com quase uma hora de atraso. Meia hora antes disso, o DJ que integra a banda surgiu para aquecer a plateia. O show começou como os demais da turnê, com uma introdução instrumental da banda que a acompanha, mas, daí para frente, o setlist foi diferente do apresentado em outros países.

Quando se iniciaram os acordes de "20 Feet Tall", o público sabia que finalmente havia chegado a hora de ver Erykah Badu, de sapatos de salto alto e vestido vintage acinturado: sob gritos e assobios, ela cantou a faixa que abre New Amerykah Part Two. Mesmo a casa não estando lotada, o público soube fazer barulho.

A apresentação continuou com "Out My Mind, Just in Time", música que intitula a turnê. Badu passeia pelo palco, brinca com os nove integrantes do grupo, dança. Ela interpreta suas canções no sentido mais profundo da palavra: gesticula as ações da letra enquanto canta, brinca de voar, chorar, quebrar, odiar (como está nos versos: "I'd cry for you, I'd pop for you, I'd break for you and hate for you"). Para quem não sabe, Badu também é atriz e já teve papeis em filmes grandes, como Regras da Vida, de Lasse Hallström. Essa espécie de "dança teatral" percorreu todo o show, às vezes coreografada com as talentosas backing vocals, que desceram até o chão ao comando da cantora.

A terceira música, "The Healer", uma de suas odes ao hip-hop, foi a primeira representante de New Amerykah Part One. Mas antes Erykah cumprimentou o público de São Paulo e apresentou seus diversos nomes. Não que alguém ali não soubesse quem era ela, mas nem todos deviam conhecer a lista completa de nomes que a cantora usa ao redor do globo: do africano Medulla Oblongata a Fat Belly Bella (que usa no Twitter), passando por Analog Girl in the Digital World (ou Garota Analógica em um Mundo Digital) e Sarah Bellum, uma brincadeira com a palavra "cerebellum" (cerebelo, em português).

Depois de brincar com os espectadores, ela deu as boas vindas aos brasileiros ao mundo New Amerykah: "Eu sei que faz tempo que não venho para cá. Estou muito feliz de estar aqui e vou mostrar o que tenho feito desde aquela época".

Em seguida, foi a vez de músicas menos conhecidas, que não foram singles: "Me" "Umm Hmm" e "No Lover". Badu conseguiu prender a atenção do público, que mesmo quando não sabia acompanhar a letra ficou atento às coreografias sensuais e ao vozeirão notório da cantora.

Depois disso, foi "Appletree" que arrancou gritos da plateia. A faixa de Baduizm, o primeiro disco da carreira de Erykah, parece estar bem gravada na memória dos fãs, que cantaram a letra como se fosse a de um single recente. Outros sucessos dos anos 90 não ficaram de fora: "On & On" e "Otherside of the Game" foram especialmente bem recebidos.

Durante a particularmente dançante "On & On", a cantora se cansou de não ver ninguém dançar e pediu que todos se levantassem (a plateia foi acomodada em cadeiras e poltronas). Depois do chamado, poucos voltaram a sentar e o resto da noite seguiu com muito mais pique. Em meio a diversos "vamos lá, Brasil" e "braços para cima, São Paulo", os fãs obedeceram. Afinal, era ordem de rainha.

O setlist terminou com o recente single "Window Seat", motivo de problemas para a cantora. A faixa ganhou um clipe de protesto no começo do ano, em que Badu tira a roupa em púbico - motivo pelo qual ela acabou sendo processada.

Na hora de se despedir, Badu fez a alegria do público que estava no gargarejo (o que significa o desespero dos seguranças de palco): assinou camisetas e pedaços de papel, cumprimentou os fãs, pegou presentes atirados ao palco. Mas ainda havia o bis. Os hits "Bag Lady" e "Didn't Cha Know" terminaram o show para cima e deixaram o domingo à noite menos amargo. Sob gritos que iam de "diva" a "gostosa", a artista deixou o palco.

Foi um show longo, feito para fãs que esperaram bastante a passagem de Erykah pelo Brasil. E parece ter sido pensado com carinho para esses fãs, com um setlist bem equilibrado - sucessos e músicas mais obscuras, novas e antigas -, conduzido por uma cantora muito bem preparada, do alto dos seus 39 anos com energia de estrela pop teen.