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Fim de Bojack Horseman força desfecho vazio depois de examinar tão bem os traumas humanos (e equinos) [ANÁLISE]

Após incansáveis análises sobre as emoções humanas, a animação criada por Raphael Bob-Waksberg subverteu as expectativas com final facilmente solucionável

Nicolle Cabral Publicado em 03/02/2020, às 17h31

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Bojack Horseman (Foto: Divulgação / Netflix)
Bojack Horseman (Foto: Divulgação / Netflix)

[Atenção! Esta publicação contém spoilers de Bojack Horseman]

Como encerrar uma série como Bojack Horseman? Ao longo de seis anos, a comédia escrita por Raphael Bob-Waksberg e produzida pela Netflix pareceu irrefreável ao analisar, com excelência, os impulsos e traumas de cada personagem - em grande parte animais antropomórficos - na cidade dos sonhos: Hollywoo[d]. 

Com um cavalo antropomorfo de meia-idade que fez sucesso na TV americana nos anos 1990 como peça central, a narrativa caminha em torno do grande mito da fama, felicidade e do sucesso para se transformar em um verdadeiro momento de meditação sobre a bagunça que é estar vivo. 

O lado cômico ficam com os lembretes das características animais dos personagens como os arranhadores que cercam a sala do escritório de Princess Carolyn ou a personalidade amável (às vezes até demais) de Mr. PeanutButter e a fácil distração dele por bolinhas (ou com a Erica) assim como um bom labrador. As críticas ácidas sobre a cultura pop e norte-americana também aliviam o pessimismo existencial que assombra Bojack.

Mas agora, depois de seis temporadas e conquistar um público fiel (que inicialmente não deu tanta atenção para a produção quando lançada em 2014), essa narrativa precisou chegar ao fim. Em setembro de 2019, Aaron Paul, que dubla Todd, anunciou que a Netflix "achou que era a hora de fechar as cortinas" para as crises existênciais do personagem. 

Para isso, a série precisou dedicar uma única temporada (18 episódios) para tentar reestruturar a psique danificada de Bojack - ou simplesmente deixá-lo "pagar" por todos os fantasmas do passado que constantemente o perseguiam.

No início da sexta temporada, por exemplo, os criadores nos deram a falsa esperança de uma redenção para o personagem, porque pela primeira vez, vimos Bojack limpo e sóbrio após ele ter buscado ajuda uma clínica de reabilitação e finalmente encarar as lembranças da infância e a morte de Sarah Lynn.

Mas ao final da primeira parte da temporada final, como aconteceu ao longo de toda narrativa, as dores causadas por Bojack, depois de terem sido parcialmente esquecidas, voltaram e quase destruíram tudo.

No momento em que os repórteres Paige Sinclair e Maximilian Banks aparecem para investigar os últimos momentos de Lynn, vemos todo o esforço do personagem em tentar ser "alguém melhor" indo por água abaixo. Sendo esse cenário, o penúltimo suspiro de Bojack para os fãs antes da segunda parte final, grande parte pensou que o personagem não ia conseguir lidar com as consequências das próprias ações e que, com certeza, Bojack Horseman teria um final absolutamente trágico. No entanto, isso não acontece. 

A segunda parte da temporada, que estreou na última sexta, 31, nos mostra Bojack finalmente sendo responsabilizado por pelas ações passadas exatamente no momento em que ele tenta mudar a própria vida como professor de teatro na Universidade Wesleyan e como ele reage a tudo isso. 

Paralelamente a isso, durante os novos oito episódios, os demais cúmplices de Bojack, entre eles Todd, Princess Carolyn, Diane Mrs. Peanuttbutter se reconciliciam com as próprias jornadas - mas ninguém nos dá tempo de entender como eles chegaram até lá. Grande parte dessas narrativas parecem satisfatórias quando levadas em consideração de que a série foi cancelada e precisava buscar algum ponto para se assentar.

Enquanto isso, Bojack viveu um espiral em que encontrou soluções para lidar com os próprios ressentimentos, se afundou mais uma vez e se reergueu (sem grandes dores aparentes como reforçado ao longo de toda a série).

A morte do personagem parecia o único fim plausível depois tantas dores que ele causou nas pessoas que estavam ao redor, o penúltimo episódio, inclusive, soou muito mais como um fim de Bojack do que o o último: o personagem perderia controle mais uma vez e morreria acidentalmente depois de uma overdose de medicamentos.

Mas os escritores subverteram essa expectativa. A série, que nunca foi de simplificar as coisas, desta vez, estranhamente nos apresentou problemas sendo fácilmente solucionados. Talvez mais uma temporada teria feito bem para Bojack Horseman, já que sabemos que algumas dores não desaparecem da noite pro dia. 


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