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Fúria, post-punk e poesia: Fontaines D.C. pode ser sua nova banda favorita

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, o guitarrista do grupo irlandês contou como o novo disco uniu instrumentais sinistros a letras otimistas para gerar desconforto

Igor Brunaldi Publicado em 04/08/2020, às 07h00

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Fontaines D.C. (Foto: Divulgação)
Fontaines D.C. (Foto: Divulgação)

Historicamente falando, a morte de um herói carrega em si dois fantasmas: o da euforia desesperadora, e o da esperança motivacional de garantir que o combate exaustivo da vida perdida não tenha sido em vão.

Em A Hero's Death, segundo disco do Fontaines D.C., lançado no dia 31 de julho, a banda irlandesa conseguiu unir esses dois pólos sentimentais em canções que soam urgentemente terminais, mas ao mesmo tempo pregam confiança na esperança de que tudo pode ficar bem. 

Imerso em uma atmosfera sonora mais sombria do que aquela apresentada no álbum de estreia Dogrel (2019), as letras poéticas soam surpreendentemente otimistas para um álbum de post-punk (ainda mais quando o instrumental faz questão de ser gransiosamente apocalíptico), e essa dualidade que pode parecer conflitiva na teoria se mostra satisfatória e perfeitamente complementar na prática.

Sobre esse caráter atípico do novo trabalho, Conor Curley, guitarrista da banda, contou em entrevista à Rolling Stone Brasil que causar esse desconforto "foi uma ideia que nasceu naturalmente enquanto escrevíamos essas músicas".

Para chegar nesse resultado, ele buscou "ir contra as regras do tom em que estava tocando", ou seja, usar acordes inusitados e não convencionais para que as faixas como um todo "soasse sinistras ao invés de soarem alegres". E isso influenciou diretamente na forma como o vocalista Grian Chatten usou as letras, "colocando mensagens positivas por trás de canções com atmosferas ameaçadoras, para fazer o ouvinte se sentir desconfortável".

Segundo Curley, A Hero's Death foi gravado "antes de sequer começarem a falar de Covid-19", e as ideias iniciais das músicas surgiram quase que em seguida após o fim da produção do primeiro disco. 

Para vivenciarem ao máximo o lançamento e o sucesso absoluto de Dogrel, eles deixaram essas novas ideias de lado e focaram as energias em turnês.

Mas conforme eles faziam mais shows e tocavam repetidamente a mesma setlist, surgiu nos integrantes a necessidade imediata de finalizar aquelas ideias que já haviam nascido, "para renovar as apresentações e tornar as coisas mais interessante para nós também".

Para quem já acompanhava o Fontaines D.C. desde o nem-um-pouco-longínquo começo, um dos primeiros elementos do novo álbum que mais deve se destacar nas primeiras audições é a forma como o vocal agora faz parte do grande cenário amplo que é cada canção como um todo, e não um elemento de destaque claramente mixado com o volume mais alto.

"Não é um aspecto negativo, mas no primeiro disco, os instrumentos pareciam brigar entre si. Já no novo, existe muito mais diálogo entre eles", contou o guitarrista antes de explicar que, se Dogrel soava "primitivo, cru e seco", como se cinco caras tivessem "entrado no estúdio e esmurrado os instrumentos", é porque foi basicamente isso mesmo que aconteceu.

Sobre as influências que os levaram a buscar essa sintonia mais digerível entre os instrumentos e a atmosfera mais sepulcral, Curley apontou o compositor e cantor norte-americano Lee Hazlewood "com aquele som meio cowboy bizarro", apontando essa sonoridade como o rumo que eles mantiveram em mente durante o processo de composição.

E como influência direta na guitarra, evidenciou especificamente o músico australiano Rowland Stuart Howard, guitarrista original da lendária banda de post-punk The Birthday Party, que teve como vocalista durante toda a trajetória (1976-1983) ninguém menos que Nick Cave.

A Hero's Death já é um dos discos de rock mais interessantes do ano, e tem tudo para ser o melhor de 2020 dentro desse gênero, da mesma forma como Dogrel foi ano passado. E isso deveria ser mais que o suficiente para te fazer terminar de ler essa linha e dar o play nos caras.