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Furioso, Dead Fish aposta em intelecto, raiva e crítica à classe média no novo disco Ponto Cego

Nono disco da banda estreia nesta sexta, 31. Com faixas como "Janelas" e "Descendo as Escadas", mostra a vida cotidiana do povo brasileiro

Yolanda Reis Publicado em 30/05/2019, às 18h04

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Dead Fish (Foto: Marcelo Marafante)
Dead Fish (Foto: Marcelo Marafante)

Ponto Cego, novo disco do Dead Fish, traz uma mensagem bem clara: a raiva e o ódio. O nono disco da banda vem recheado de críticas à situação política atual e à revolta da classe média que mudou o governo do Brasil nos últimos anos.

A construção do álbum começou há quase dois anos, um pouco depois do lançamento de Vitória (2015). Rodrigo Lima (vocalista) e Alvaro Dutra ocuparam-se em um brainstorming, e dali saiu o desenho de um prédio de condomínio. Explorando o que acontece dentro desse ambiente e sua influência em todo o mundo, chegaram a Ponto Cego.

“Estávamos num processo de muita raiva da vida cotidiana do Brasil, e começamos a partir do microcosmo da vida privada brazuca e classe média, falando disso, mas falando também de algo mais macro, do que acontece do lado de fora do portão. Trouxemos isso para dentro do condomínio, com a visão do cidadão médio e do mundo, do que tá acontecendo, explicou Rodrigo em entrevista à Rolling Stone Brasil. “Chegamos a Ponto Cego quando começamos a falar dessa bizarrice distópica que a gente tá vivendo, de como a classe média comprou isso de forma criminosa, dessa cegueira…”

Depois disso, deslancharam. Criaram músicas baseadas nos conceitos do prédio, como “Janelas”, “Descendo as Escadas” e “Sombras na Caverna”, conectando uma a outra e sempre destacando a expressão “Ponto Cego” nas letras, moldaram o disco.

Para dar peso às músicas, apoiaram-se em termos intelectuais e bem estudados. “Sombras na Caverna” é uma alusão ao conceito da Caverna de Platão - uma metáfora criada pelo filósofo para ilustrar a ignorância de assuntos de fora da zona de conforto e convívio de uma pessoa. “Doutrina do Choque” fala da teoria homônima de Naomi Klein, filósofa que estudou como alguns políticos capitalistas obtêm poder após a sociedade passar por um choque; a faixa também apresenta o conceito de Guerras Híbridas, também explorado por Malvina recentemente, e expõe o modo como os Estados Unidos manipulam povos de outros países para influenciar no governo desses.

“A gente não é uma academia, não é uma universidade, então não podemos dar muita profundidade nos assuntos”, comentou Rodrigo. “O que podemos é aguçar o sentimento de ir buscar alguma coisa. Não somos protagonistas nisso, somos mais um viabilizador, a música é um viabilizador. À partir do momento que você fala de Doutrina do Choque e Naomi Klein, de sombras na caverna de Platão... O cara vai falar ‘meu, o que é isso?’, e se ele ficar curioso, ele vai atrás.”

Capa de Ponto Cego

As letras refletem-se no som pesado e clássico hardcore apresentado pelo Dead Fish em Ponto Cego. Mas este disco aposta também em melodias mais calmas e o protagonismo da voz. “Quando começamos a fazer o instrumental, percebemos que ficou bem pesadão, bem a cara do Ric [Mastria, guitarrista] e do Marcão [Melloni, bateria]. E eu, desde o começo, queria que ficasse um álbum mais melódico, que eu pudesse usar minha voz”, explicou o vocalista.

Daí surgiram duas linhas para o álbum e dois tipos de música favoritas para Rodrigo: “Apagão” e “Receita Para o Fracasso” estão entre as prediletas por serem confortáveis de gravar, já em “Pobres Cachorros” e “Sangue nas Mãos”, a raiva prevaleceu. “Fiquei mais nervoso nessas, e acho bom a música me despertar isso”.

Ponto Cego foi produzido por Rafael Ramos e mixado por Bill Stevenson, baterista do Descendents. Experiente, o músico também já trabalhou com Rise Against e NOFX. “É um cara que a gente sempre teve como referência, e foi muito agradável. Ele sempre foi muito rápido. Mandávamos as coisas e três dias depois ele mandava com um 'vê se vocês gostam’. Sempre nos respeitou, que estávamos trabalhando com um cara que supostamente não precisava ouvir tantos conselhos ou conhecer tão a fundo a banda, porque sabe o que está fazendo, mas ele sempre queria saber do que gostamos e o que queríamos. Bem solícito, foi tranquilo e fácil trabalhar com ele”, contou Rodrigo.

O Dead Fish vai apresentar Ponto Cego para o Brasil em cima dos palcos do Garage Sounds, de julho a setembro deste ano. A banda é uma das headliners no festival hardcore itinerante que nasceu em Fortaleza e em 2019 se espalha por 11 capitais. Rodrigo viu dois pontos positivos nesse projeto: poder espalhar o hardcore pelo Nordeste e também se integrar a outras bandas.

“[Tocar no Nordeste] é um pouco diferente do que no Centro, Sudeste e Sul. Temos poucas oportunidades de estar também com bandas que a gente gosta e em lugares que a gente gosta, como Recife, Fortaleza e Maceió. Vai ser legal tocar nosso álbum num festival com outras bandas. E não vai ser tão apressado! Estaremos na estrada com outras bandas, não vai ser só hotel, passagem de som, hotel, outra cidade. Com várias bandas do lado, vai ter uma vida cotidiana: em um festival com vários dias você vai almoçar com alguém, vai parar pra comer alguma coisa, vai para a praia… Vai ter tempo de ter essa troca com essas bandas”, animou-se.

Ponto Cego estreia nesta sexta, 31, em três formatos: CD, K7 e vinil. São 15 faixas ao todo, e "Sangue nas Mãos" foi seu primiro single, e já ganhou um lyric video. Assista:

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