Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

George Benson: Nat King Cole ficaria orgulhoso

Em show em SP, jazzista norte-americano homenageia seu ídolo máximo; Esperanza Spalding abre a noite e se confirma à dianteira da nova geração

Por Anna Virginia Balloussier Publicado em 08/06/2009, às 21h09

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
George Benson faz homenagem a Nat King Cole em show; guitarrista volta à Via Funchal nesta segunda, 8 - Stephan Solon/Divulgação/Via Funchal
George Benson faz homenagem a Nat King Cole em show; guitarrista volta à Via Funchal nesta segunda, 8 - Stephan Solon/Divulgação/Via Funchal

De certa forma, o clima era de "eu já eu sabia". George Benson, domador do jazz-pop e do R&B, subiu ao palco da Via Funchal às 22h20 para não fazer mais do que o esperado: um show arrebatador.

Tudo, é verdade, conspirava a favor do guitarrista de 66 anos, quase 60 deles dedicados à música (ele lançou seu primeiro compacto aos 11 anos de idade). O repertório homenageava Nat King Cole. A orquestra, com cerca de 30 integrantes, concedeu ao espetáculo aquela pompa destinada aos grandes, e apenas a eles - "o risco de soar cafona é para amadores", parecia dizer o cavalheiro de smoking azul e bigode fininho. E, afinal de contas, a plateia já se desmanchou em aplausos antes mesmo do trabalho começar: à sua frente, senhoras e senhores, uma lenda vida do jazz.

O site da Rolling Stone Brasil conversou com Benson e Esperanza Spalding, show de abertura da noite. Clique aqui para ler as entrevistas.

A voz aveludada de Benson começou a apresentação com "Mona Lisa". Mas, ao contrário do famoso quadro de Leonardo Da Vinci, nada enigmático era o sorriso de satisfação no rosto do artista. Às favas com o lema "sou mais eu": cantar as músicas imortalizadas na voz de outro - o homem, o mito, o rei "King" Cole, "meu artista preferido" - não era só um deleite. Era uma vocação. "Ele [Nat] mudou a história da música", atestou sobre o cantor morto em 1965. E, particularmente, transformou a existência de um garoto de sete anos chamado George - como prova, o astro da noite pôs para tocar uma gravação sua da época, já cantando Cole. "Minha paixão por ele tem tanto tempo assim."

Enquanto não está com sua guitarra elétrica, Benson toca um instrumento imaginário. De violino à bateria. E quando não está pondo seu vozeirão para dar sua versão suingada do repertório do homenageado, conversa com o público. Ele não para quieto. Não fecha o bico. E todos adoram - pedem mais. Como diria Hunter S. Thompson (o ícone do gonzo jornalismo), taí um "homem de riqueza e gosto" ("a man of wealth and taste").

No cancioneiro, "Walking My Baby Back Home", "Stardust", "Route 66", "Nature Boy" "Breezin'", "Straighten Up & Fly Right", "Biding My Time", "Ramblin' Rose", "Too Young" e "That Sunday, That Summer" - essa, uma das preferidas de Benson. Para "Unforgettable", tão unânime em festas de casamento como bonequinhos de noivo e tios bêbados, ele convocou ao palco Janey Clewer, uma cantora de cabelos loiros e platinados - ela, exagerada, como se quisesse mostrar serviço; ele, impecável. Antes, desejou boa sorte à filha de Cole, a cantora Natalie Cole, que passou por um transplante de rim no mês passado.

O jazzista, que volta nesta segunda, 8, à casa de shows, fechou a noite com sequência de hits de sua carreira. "Nature Boy" veio com pegada mais groove. Não à toa, ele havia declarado ainda no início do show que "mais tarde teremos uma festa". "Love Ballad", "Affirmation", "Turn Your Love Around" e "Nothing Is Gonna Change My Love For You" completaram a noite que só não ganha vaga cativa na lista de melhores shows do ano porque ele está em outra categoria: a dos hors-concurs. E pode até dizer "eu já sabia" depois de ler esta resenha. De George Benson não se espera nem mais, nem menos.

'Esperanza' da nova geração

Benson só a tinha visto uma vez até então, pela TV - e ficara "enfeitiçado". Esperanza Spalding, 24 anos, costuma produzir esse efeito por onde passa. Número de abertura dos shows de domingo e segunda, a moça parecia pequena perto do instrumento brutamonte. A manha com o contrabaixo lhe deu fama e o predicado de "a professora mais caçula da história da Universidade de Berklee (Boston)". Mais do que um "couvert de luxo" para o prato principal, a também cantora fez scats e marcou ritmos com a inquieta perna esquerda.

Ex-namorada do músico e DJ João Brasil, Spalding manja de português o suficiente para não passar a (comum) impressão de que o artista decorou uma ou duas palavrinhas no idioma para agradar a plateia. Mas, para decepção dos canarinhos, nada de músicas brasileiras - logo ela, que toca de Milton Nascimento a Vinicius de Moraes. No set, "Jazz", "Crayola", "Smile Like That", "Endangered", "Species", "Wild is the Wind", "Solo", "I Know You Know" e "She Got To You".

Estrela nata do jazz, Spalding contou à reportagem deste site que não acredita ser esse prodígio todo que alardeiam por ái. "Meus professores não me achavam especial." Modéstia pura da contrabaixista que, em maio, foi convidada pela família Obama a se apresentar na Casa Branca. Um feito e tanto junto ao presidente que já esnobou Scarlett Johansson.