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"Gi e Je" engarrafam a São Paulo Fashion Week

Gisele Bündchen e Jesus Luz, apostas do desfile da Colcci, provocam tumulto no primeiro dia da semana de moda

Por Anna Virginia Balloussier Publicado em 19/06/2009, às 00h18

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Jesus Luz desfila para a Colcci - AP
Jesus Luz desfila para a Colcci - AP

"Gi e Je." Dupla sertaneja? Novos integrantes do NXZero? Nem um, nem outro - embora os apelidos dados por um gaiato da imprensa a Gisele Bündchen e Jesus Luz, os dois maiores atrativos do desfile da Colcci, o último do primeiro dia da São Paulo Fashion Week, resuma bem o espírito da coisa.

Símbolo estampado por tudo o que é canto do Pavilhão da Bienal, o coração vermelho com uma faixa onde se lê "passion" e jeitão de tatuagem de marinheiro carrega o tema da 27ª edição do evento. "Passion/Paixão", daquelas que poderiam ser cantadas em dueto por Jacques Brel e Waldick Soriano, deveria sintetizar a temporada de exibição das coleções primavera/verão de 2010. Deveria.

Se há chance de ver Gisele de pertinho, teoria e prática caem no quebra-pau. Esqueça o clima de paixão. Pela 6ª vez como garota-propaganda da Colcci, a maior estrela da história da moda (quem disse foi o The Independent) causou rebuliço e empurra-empurra antes, durante e depois de sua passagem, exatamente como o fez em edições anteriores. Só que, desta vez, teve um comparsa de proporções bíblicas: o namorado (ou ex, sabe-se lá) de Madonna. Na recente edição de inverno, o modelo esteve na primeira fila do desfile da grife (não de graça, disseram os jornais à época) e, agora, subiu à passarela.

O desfile estava marcado para 21h30. Duas horas antes, entrar no backstage - como de costume, para a imprensa - virou praticamente modalidade esportiva.

Alpinismo: com mais de meia centena de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas amontados à porta da sala 1, onde a Colcci desfilou, quem quisesse enxergar algo e não fosse aspirante a jogador de basquete ou estivesse usando plataformas à la Spice Girls precisava escalar. Para dar impulso, servia de ombro do amigo a mochila no chão.

Corrida de obstáculos: assessores e produtores, os leões-de-chácara do pedaço, eram responsáveis pela triagem da imprensa. Fui com tua cara? Entra. Fez cara feia? Espera mais um pouco. Uma vez lá dentro, era preciso chegar até outra porta. E mais uma. Para isso, desvie da modelo Ana Claudia Michels, do cabelereiro (opa, é "hair stylist") ensandecido comendo sushi e do que mais estiver no caminho.

Fórmula 1 e tiro ao alvo: saiba o que quer. Mire. E solte o pé no pedal. Antes, pit-stop para a estilista da Colcci, Jessica Lengyel, responder à reportagem do site da Rolling Stone Brasil se os nomes famosos não tiram atenção do que deveria ser foco de uma semana de moda, a roupa. "Bobagem. Em desfile da [maison] Christian Dior você tem Gisele e várias modelos bombadas." E quem recebeu mais - Gi ou Je? "Ah, não, isso eu não vou falar", fechou a cara.

Futebol americano: quem se casou com jogador de futebol americano (Tom Brady) foi Gisele. Mas o mano-a-mano, por pouco, não ficou por conta dos fotógrafos atrás do cercado, em um espaço com densidade demográfica mais tensa que arquibancada em final de campeonato do Maracanã. Jesus chega, cara marrenta, e vai embora. Vapt-vupt. Já Gisele é simpática. Rodrigo Hilbert, outro nome-estrela da Colcci, mais ainda. Nem deu tempo de um repórter fazer a pergunta : "Jesus, você vai ficar com ciúmes do novo filho da Madonna?".

O show tem que continuar

As portas para a sala só abrem 21h35 - cinco minutos depois do horário estabelecido para começar o desfile da coleção "estilo califórnia anos 1960, aquela coisa de liberdade", como descreveu a estilista. O assento não é dos mais confortáveis - uma grande tábua corrida, com lugares separados por uma almofada-brinde, forrada com toalha branca (se não era brinde, passou a ser, pois algumas pessoas saíram do show com até seis delas embaixo dos braços).

Na fauna, são tantos "grupos sociais" quanto setores (a plateia se divide pelos setores A, B, C, D e F, com filas de A a F, estilo batalha naval). Nesse ranking, qualquer celebridade vira "material A". Maitê Proença, Zeca Camargo, Carolina Dieckmann, o ex-nadador Xuxa, Ana Furtado e Luciana Gimenez estavam lá. Há, ainda, os produtores que ziguezagueiam de um lado para o outro, tentando fazer com que todos sentem para que o evento possa começar - e falham, claro.

E há os penetras. Longa vida aos penetras. Porque, se você nunca foi a uma semana de moda, entenda isso: não adianta contratar multiforça com agentes da CIA, Swat e Interpol. Esse grupo social (geralmente os mesmos, muitos figurinhas conhecidas) darão um jeito de entrar.

"Toca Madonna!"

As luzes finalmente se apagam, às 22h22. Iluminação, só na passarela, que vem com um fundo praiano, azulão. A trilha começa com "Hung Up", de Madonna, em um mash-up que também contou com outras músicas da cantora, "I Love New York" e "Ray of Light". Gisele entra ao som de aplausos, assovios, "linda!" e outros elogios mais "apaixonados". Volta mais duas vezes, no meio e no fim. Deixa o carão de lado, sorri e chega a levantar um polegar - um joinha - para um fã. A arrancar reação da plateia, só ela, Hilbert e Jesus (que, para espanto de muitos, revelou um peitoral digno de estrelar um comercial para "meu primeiro sutiã").

De 42 modelos, cinco são negros ou afrodescendentes. Ou seja, como a maioria das grifes até agora, a Colcci escolheu passar raspando na cota de 10% para modelos negros, indígenas e afrodescendentes. A medida agora é lei na SPFW, determinada pelo Ministério Público.

Em menos de dez minutos, tudo se acaba. Três horas por míseros minutinhos. Como é que Madonna canta mesmo? "I'm outta time and all I got is 4 minutes" ("não há mais tempo e tudo que tenho são quatro minutos")? Algo por aí.