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Guns N' Roses e Red Hot Chili Peppers levam mágica à cerimônia do Hall da Fama do Rock

Fãs vaiam Axl Rose, cuja ausência não desanimou os espíritos no evento realizado no último sábado, 14

Andy Greene Publicado em 16/04/2012, às 11h04 - Atualizado às 16h40

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Hall da Fama - Slash e Ron Wood - AP
Hall da Fama - Slash e Ron Wood - AP

Entrando no Auditório Público de Cleveland, Ohio, para a 27ª cerimônia de introdução ao Hall da Fama do Rock, no último sábado, 14, foi difícil não pensar no Titanic batendo em um iceberg nesse mesmo dia, há cem anos. Nos dias anteriores, Axl Rose e Rod Stewart, duas das maiores estrelas deste ano, disseram que não estariam presentes, tornando uma reunião completa tanto do Faces, quanto do Guns N' Roses, impossível. O guitarrista do Red Hot Chili Peppers John Frusciante optou por não ir e o Beastie Boy Adam Yauch ficou em casa, já que continua se recuperando do câncer.

Veja aqui vídeos e entrevistas feitos pela Rolling Stone EUA com os artistas presentes na cerimônia.

Daria para se pensar que essas ausências afundariam a cerimônia no fundo do Oceano Atlântico, mas acabou que elas não importaram muito. Aliás, foi uma das melhores cerimônias dos últimos tempos. "Não sei se importa quem está aqui hoje porque o importante é a música que essas bandas tocaram", disse o baixista do Guns N' Roses Duff McKagan durante o discurso dele. Minutos depois de falar isso, McKagan atravessou o palco para trocar três músicas explosivas do Guns N' Roses ao lado de Slash, o guitarrista Gilby Clarke, o vocalista do Alter Bridge Myles Kennedy e os bateristas Matt Sorum e Steven Adler.

Os fãs gritaram “foda-se o Axl" ao longo de boa parte da noite, mas na hora que o grupo começou a executar "Mr. Brownstone", a decisão de Rose e de Izzy Stradlin de não comparecer foi totalmente esquecida e esse line-up reunido pela primeira vez na ocasião provou que conseguia dar vida novamente ao espírito GNR. Adler estava sorrindo de orelha a orelha durante "Sweet Child O' Mine", tocada com notas perfeitas, e o final com "Paradise City" tinha quase todo mundo na plateia gritando a plenos pulmões. Um cantor poderoso, Kennedy alcançou cada nota patenteada por Axl perfeitamente.

O Faces também encarou o desafio de estar sem seu vocalista principal, escalando Mick Hucknall, do Simply Red, para preencher a vaga. Ele fez muitos shows com o grupo nos últimos anos e soa exatamente como um Rod Stewart do início da década de 70. "Ooh La La" foi bem divertida, mas eles destruíram mesmo com "Stay With Me". Ron Wood tocou guitarra com paixão e quase como se estivesse tentando provar a Mick e Keith que está em forma para uma turnê dos Rolling Stones. Ian McLagan demonstrou que ainda é um dos maiores tecladistas do rock and roll e o baterista Kenny Jones ainda tem o talento que lhe deu o emprego de Keith Moon no fim dos anos 70. E fica a esperança de que um dia Rod tome juízo e concorde em fazer uma turnê com esses caras.

O Beastie Boys não tinha nenhuma intenção de se apresentar sem Adam Yauch, então o Roots, junto a Kid Rock e Travie McCoy, do Gym Class Heroes, fizeram um medley incrível de clássicos do Beastie, incluindo “Sabotage" e "So What'cha Want". Rock, Black Thought e McCoy estavam usando abrigos verdes e idênticos da Adidas e fizeram um ótimo trabalho em canalizar a energia e o espírito do trio revolucionário.

A noite começou com uma performance surpresa do Green Day, que fez uma rendição bombástica de "Letterbomb", lado b do disco American Idiot. Poucos na plateia pareciam conhecer a música, mas Billie Joe Armstrong conseguiu segurar o ambiente como um profissional e deixou todo mundo empolgado para a longa noite de música e discursos que viria pela frente. Conforme é tradição, o cofundador do Hall da Fama do Rock Jann Wenner falou ao público logo no início. "Eu acredito na mágica do rock and roll", ele disse. "Essa mágica pode te dar liberdade. Senhoras e senhores, esta noite vocês entraram em um lugar onde a mágica acontece."

Billy Gibbons e Dusty Hill, do ZZ Top, fizeram o primeiro discurso de apresentação da noite, homenageando o falecido guitarrista do blues Freddie King. A filha de King, Wanda, falou carinhosamente sobre o pai. "Ele inspirou tantos artistas jovens do blues. Lembro de ir a um show quando tinha 14 anos e conhecer Stevie Ray Vaughan pela primeira vez. Ele disse ao meu pai ‘como posso tocar blues como você?’ E meu pai disse ‘se você não sentir o blues, nunca vai poder tocar o blues'."

Após uma eletrizante batalha de blues na guitarra entre Gibbons, Joe Bonamassa e Derek Trucks com as músicas de King "Hideaway" e "Going Down", John Mellencamp subiu ao palco para introduzir Donovan. "Ele foi minha inspiração”, Mellencamp disse. "Eu não simplesmente ouvia Donovan. Eu vivia Donovan, o que quer dizer que roubava tudo de Donovan. Outros artistas – e vocês sabem quem são – chamavam isso de estar inspirado." Donovan leu um curto poema e depois tocou "Catch the Wind" e "Sunshine Superman" antes de fazer um dueto com Mellencamp em "Season of the Witch".

Bette Midler caiu no choro perto do fim do discurso dela sobre Laura Nyro, que morreu de câncer no ovário em 1997. "Em um mundo cheio de imitadores dizendo 'finja até que chegue lá’, ela era completamente original", disse Midler. "Ela estava em uma categoria própria. Quando você coloca um disco dela, parece que foi feito ontem. Ela incorporava tudo que a gente gostaria de ser, se tivéssemos coragem… era um enfeite na Terra. Estamos todos muito satisfeitos de ver esse dia chegar finalmente." Sara Bareilles homenageou Nyro com uma bela versão de “Stoney End" feita ao piano.

Muitos artistas não-performáticos também foram homenageados durante a cerimônia. Carole King introduziu Don Kirshner, que foi chefe e mentor dela durante o período em que foi compositora do Brill Building, no fim da década de 50 e início da de 60. Darlene Love fez tributo ao executivo da indústria com uma versão extremamente poderosa de "Will You Still Love Me Tomorrow", que ela cantou ao lado de Paul Shaffer e a CBS Orchestra. Mais tarde, Robbie Robertson apresentou o Prêmio de Excelência Musical a Cosimo Matassa, Glyn Jones e Tom Dowd.

No meio da noite, o Hall da Fama se redimiu por algumas pessoas que deixou escapar de suas listas, de forma que Smokey Robinson introduziu The Blue Caps (que acompanhava Gene Vincent), The Comets (Bill Haley), The Crickets (Buddy Holly), The Famous Flames (James Brown), The Midnighters (Hank Ballard) e The Miracles, que acompanhava Robinson nas primeiras duas décadas da carreira dele. Os integrantes sobreviventes dos seis grupos subiram ao palco juntos e foi muito comovente ver esses músicos que foram ignorados no passado finalmente ganharem o crédito que merecem pelo grande papel deles na história do rock.

O frontman do Public Enemy Chuck D e LL Cool J se uniram para introduzir o Beastie Boys. "Eles ainda são a maiores atração ao vivo que existe”, disse Chuck D. "Eles desafiaram as convenções na indústria musical e fizeram suas próprias regras sobre o que é ser um cara do hip hop reconhecido mundialmente... eles sempre insistiram em amadurecer como músicos e seres humanos." LL Cool J disse que deve sua carreira toda aos Beasties. "Eu não estaria aqui hoje sem eles”, afirmou. "O Beastie Boys tocou minha demo para Rick Rubin no quarto dele na NYU. Muita gente não sabe disso."

Adam Horowitz leu para o público uma carta de Yauch. "Gostaria de dedicar isso aos meus irmãos Adam e Mike", escreveu. "Eles rodaram o mundo todo comigo. É também para qualquer um que tenha sido tocado alguma vez pela nossa banda. Essa homenagem é tanto nossa quanto de vocês."

O Green Day pareceu a princípio ser uma escolha inusitada para introduzir o Guns N' Roses, mas Billie Joe Armstong falou de forma bastante eloquente sobre o grupo. "Appetite For Destruction é o maior disco de estreia de todos os tempos. Cada faixa bate com força em todos os níveis de emoção e te levam em uma jornada através do submundo de Los Angeles, em uma sequência brutal. A coisa que os destacou em relação a todo o resto foi coragem, coração e alma. Mais importante ainda, eles falavam a verdade."

Nenhum integrante do Guns N' Roses mencionou Axl Rose pelo nome em seu discurso. Matt Sorum brincou com Steven Adler por ele, de alguma forma, conseguido ter sido demitido do Guns N' Roses por causa de vício em drogas e Adler fez um discurso surpreendentemente curto que culminou com ele citando "We Are the Champions", do Queen. Slash admitiu que todo o drama que antecedeu a cerimônia quase fez com que ele desistisse de ir, mas que sua esposa acabou por convencê-lo. O tecladista Dizzy Reed e o guitarrista Izzy Stradlin optaram por não ir.

Era mais ou menos 0h30 quando Chris Rock subiu ao pódio para introduzir o Red Hot Chili Peppers. "Muita gente está chateada porque Axl não veio hoje. Mas vamos encarar os fatos. Mesmo que ele viesse hoje, não estaria mais aqui a esta altura. Onde está Axl?". Ele explicou que a primeira vez que viu o Red Hot Chili Peppers foi quando tentou ver o Grandmaster Flash na Filadélfia, mas entrou na casa noturna errada. "Eu e meu amigos ficamos pensando ‘que merda é essa? Tem muita gente branca aqui'", disse Rock. "Eles começaram e eu não entendia uma palavra do que falavam e eles estavam usando uma meia no pinto! Eu nunca tinha ido em um show de brancos antes então achei que todos eles fizessem isso. Anos mais tarde, eles são um dos maiores grupos do mundo e estão sendo introduzidos ao Hall da Fama do Rock. Eles estão usando gravatas no pinto hoje."

John Frusciante pode ter ficado em casa, mas os ex-bateristas Jack Irons e Cliff Martinez estavam lá. À 01h, o grupo, com três bateristas, fez um set de três músicas com "By the Way", "The Adventures of Rain Dance Maggie" e "Give It Away". "Eu não toco com Cliff faz 25 anos!", Flea disse para a multidão. “Ele é um homem lindo.”

No fim de "Give It Away", Anthony Kiedis convidou todo mundo para subir ao palco. Slash, Ron Wood, Billie Joe Armstrong, Kenny Jones e até George Clinton, que estava na plateia, se apertaram para um final eufórico com "Higher Ground", de Stevie Wonder. De uma maneira típica do Hall da Fama, a jam foi completamente caótica, mas todo mundo parecia estar se divertindo muito. O show de cinco horas e meia terminou à 01h30, conforme as pessoas vazavam pelas ruas de Cleveland procurando seus carros ou alguma festa – e ninguém estava falando de Axl Rose. Acabou que as pessoas nem precisavam dele.