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Há 10 anos, The Libertines lançava o segundo disco e mostrava que ninguém era capaz de detê-los – exceto eles mesmos

A banda mais explosiva dos últimos 15 anos a surgir no Reino Unido chegou ao fim logo após lançar o segundo disco, sem suportar os próprios demônios

Pedro Antunes Publicado em 29/08/2014, às 10h37 - Atualizado às 12h55

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The Libertines - Reprodução
The Libertines - Reprodução

Pete Doherty e Carl Barât já não se suportavam. Sete anos de convivência, um segundo disco com a banda deles, o The Libertines, e tudo ia pelos ares. Há uma década, cujo aniversário será comemorado neste sábado, 30, a banda de Doherty e Barât lançará o segundo e derradeiro álbum, um trabalho que se não trazia a excelência e primazia de Up the Bracket (2002), expunha um relacionamento em frangalhos, tensões de todos os lados e a rebeldia que conduziu a indústria e os jovens ingleses de volta ao rock de garagem mais impuro e cru de que se tinha notícia em muito tempo.

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A relação volátil entre Doherty e Barât pode ser ouvida em qualquer um das 14 faixas oficiais de The Libertines - e até com mais intensidade na menos convencional de todas elas, a faixa escondida “France”, que tem início após o terceiro minuto de “What Became of the Likely Lads” e traz um classudo duelo de violão.

Clipe de “Can’t Stand Me Now”

No estúdio, a dupla não se suportava. Além dos dois, de John Hassall e Gary Powell, que completavam a formação da banda, e do produtor Mick Jones, era preciso que um segurança estivesse presente em todas as sessões, para que Doherty e Barât se mantivessem longe dos pescoços uns dos outros.

Enquanto Barât combatia demônios internos e o álcool, Doherty não conseguia se distanciar de drogas ainda mais pesadas. A batalha do músico com os narcóticos não surtia efeito e ele chegou a abandonar as gravações de The Libertines por uma semana para se internar em uma clínica de reabilitação.

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No início de agosto de 2004, nada parecia ser capaz de se segurar o Libertines – a não ser eles mesmos. No dia 9 daquele mês, a banda lançava o mais bem-sucedido single deles nas paradas britânicas, ironicamente “Can’t Stand Me Now”, uma crônica da relação destroçada daqueles então dois amigos. A faixa chegou ao segundo lugar, o melhor resultado da fulminante carreira da banda.

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O próprio The Libertines atingiu o elogiável feito de chegar ao topo na Inglaterra, escalando da 35ª posição de Up the Bracket ao primeiro lugar em apenas dois anos. O mundo – mais especificamente o Reino Unido – estava rendido ao poder das guitarras explosivas da dupla e dos versos assustadoramente poéticos.

Nada poderia salvá-los, contudo. Desde 1997, Doherty e Barât vivam sob o mesmo teto, um apartamento no norte de Londres, no bairro de Camden. Com o baterista Powell e o baixista Hassall, a banda sob o nome que a consagrou, assinou contrato com a gravadora Rough Trade no fim de 2001, seis meses antes do lançamento do primeiro EP, que trazia “What A Waster” e o hit “I Get Along”. As tensões e os abusos já chamavam a atenção ali.

Clipe de “What Became Of The Likely Lads”

No Reino Unido, na busca incessante pela “próxima grande banda de rock” e pela necessidade que ela seja britânica, o Libertines foi jogado nas alturas. Eles ganharam o prêmio de Melhor Nova Banda do semanário musical NME no fim daquele 2002.

O ano seguinte deteriorou de vez a relação entre os então amigos. Em uma viagem para Nova York para novas gravações, Barât não aguentou mais o companheiro e abandonou as sessões, cansado do abuso de Doherty. Em agosto de 2003, Doherty preparou um show de aniversário para o companheiro de banda, que não apareceu. Revoltado, ele foi ao apartamento de Barât, e furtou os pertences do amigo. Doherty foi sentenciado a seis meses de cadeia – dos quais precisou cumprir apenas dois. Neste meio tempo, “Don't Look Back In The Sun”, single do disco anterior que já mostrava a incompatibilidade dos dois, tornava-se o mais bem-sucedido deles ao chegar ao 11º lugar.

The Libertines só chegou existir porque Barât encontrou Doherty na saída da prisão naquele ano de 2003 e graças à turnê da banda, cada vez mais grandiosa e emocionante. O primeiro show após a soltura, marcado para um pub em Kent, na Inglaterra, foi considerado um dos melhores do ano.

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O excesso de convívio para as gravações do disco também foi responsável pelo fim da banda, com a saída de Doherty e com Barât desistindo de seguir com o nome Libertines sem o antigo amigo. The Libertines foi o canto do cisne da dupla, uma despedida de 42 minutos carregada de versos amargos e guitarras dissonantes. De “Can't Stand Me Now” ao encerramento com “Road to Ruin” e “What Became of the Likely Lads”, passando pela amargurada e excelente “What Katie Did”, Barât e Doherty nos avisavam que o fim estava próximo. A banda se reuniu algumas vezes e, atualmente, até promete um novo disco em 2015, mas é difícil acreditar que tudo será tão explosivo quanto antes. O bromance mais devastador dos anos 2000 na música inglesa estava prestes a chegar ao fim.

Ouça a playlist com o disco completo: