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Há 50 anos, os Rolling Stones criavam um circo roqueiro na TV com Lennon, Clapton, The Who e se despediam de Brian Jones

Especial para a TV seria exibido na rede inglesa BBC, mas seu lançamento foi adiado e só ganhou vida em 1996

Paulo Cavalcanti Publicado em 11/12/2018, às 16h55

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Os Rolling Stones fizeram um circo roqueiro, nos anos 1960, mas só lançaram em 1996 (Foto: Gerhard Rauchwetter/AP
Os Rolling Stones fizeram um circo roqueiro, nos anos 1960, mas só lançaram em 1996 (Foto: Gerhard Rauchwetter/AP

No dia 6 de dezembro de 1968, os Rolling Stones lançavam Beggar’s Banquet, um álbum orgânico que restaurou a posição deles como uma das mais influentes bandas de rock do planeta. O álbum foi recebido Imediatamente de braços abertos pela crítica e público. Mas o quinteto queria mais e tinha a intenção de divulgar o trabalho através de um especial de televisão a ser exibido na BBC.

Foi aí que surgiu o mítico The Rolling Stones Rock and Roll Circus, gravado em Londres 50 anos atrás, em 11 de dezembro de 1968 e considerado, por muitos, um dos maiores tesouros "perdidos" do rock.

Também, pudera, nesse especial para a TV, os Stones recriaram um picadeiro e levaram, para o centro, além de palhaços e malabaristas, grandes nomes da música dos anos 1960, com John Lennon, Yoko Ono, Jethtro Tull, The Who e Eric Clapton.

A gravação também marcou a despedida do guitarrista Brian Jones.

"Respeitável público..."
Para a missão de realizar o especial de TV, Mick Jagger contatou o diretor Michael Lindsay-Hogg, responsável pelo célebre programa de rock Ready Steady Go. Ele também havia dirigido vários vídeos promocionais dos Stones e logo iria pilotar Let it Be, dos Beatles.

A banda queria algo diferente e assim, surgiu o conceito de misturar rock com circo. O cenário teria lona e picadeiro, incluindo aí palhaços, acrobatas, engolidores de fogo e muito mais. A produção alugou o Intertel Studio, em Wembley, para a gravação do programa.

Se não tem Johnny Cash, que tal The Who, John Lennon e Eric Clapon?
A ideia dos Stones era também chamar outros amigos e ícones da música para participar dessa festa circense.

A banda queria Johnny Cash, que, com a agenda cheia, declinou. O emergente Led Zeppelin foi cotado, mas também não deu certo que participassem.

No final, eles conseguiram um time de respeito: Marianne Faithfull, Jethro Tull, The Who, Taj Mahal, o pianista erudito Julius Katchen, e o violinista Ivry Gitlis, além de John Lennon, Eric Clapton, Mitch Mitchell (baterista de Jimi Hendrix) e até Yoko Ono.

E também foram contratados diversos integrantes do circo de Sir Robert Fosett para criar a atmosfera adequada.

E o The Who roubou a cena
O recém formado Jethro Tull fazia na ocasião uma de suas primeiras aparições públicas. A banda do cantor Ian Anderson tocou “Song For Jeffrey”. Na guitarra, estava nada menos do que Tony Iommi, que em breve iria fundar o Black Sabbath.

Marianne Faithfull, na época ainda namorada de Jagger, cantou a densa balada “Something Better”. O bluesman Taj Mahal mostrou "Ain't That a Lot of Love". Mas nenhum dos convidados chegou perto do The Who, sem dúvida a banda mais poderosa e vital em cima de um palco naquele final dos anos 1960.

O quarteto tocou na íntegra “A Quick One While He’s Away”, faixa principal do LP que eles lançaram em 1966. Foi sem dúvida uma performance cheia de energia e de tirar o fôlego, superando de longe a versão que fizeram em estúdio.

Stones, Beatles e Clapton se unem em uma super banda
Um das grandes atrações do circo roqueiro dos Stones foi o The Dirty Mac, super grupo organizado por Keith Richards. O guitarrista dos Stones ficou responsável pelo baixo.
Os outros integrantes fora John Lennon (guitarra e vocal), Eric Clapton (guitarra solo) e Mitch Mitchell (bateria).

A banda de astros do rock tocou “Yer Blues”, que os Beatles haviam lançado alguns dias antes no The White Album. Lennon, o autor da canção, a interpretou de forma sofrida e desesperada.

O Dirty Mac também acompanhou Yoko Ono na experimental e barulhenta "Whole Lotta Yoko", que teve a participação do violinista Ivry Gitlis.

Enfim, era o momento dos Rolling Stones
Depois de 15 horas de gravação no estúdio Intertel, finalmente chegava a hora dos Stones. A esta altura, todo mundo estava extremamente cansado incluindo banda, público e os técnicos que acompanhavam a gravação.

Mesmo assim, a performance da banda foi muito boa. Eles logo de cara apresentaram o single de sucesso “Jumpin’ Jack Flash”. De Beggar’s Banquet eles vieram com o blues “Parachute Woman”, “Sympathy for The Devil” (neste momento, Jagger tirou a camisa e mostrou um demônio pintado no peito); “Salth of Earth” (o encerramento do show, com a banda sentada no meio do público; os vocalistas Jagger e Richards cantaram sob uma base pré-gravada) e “No Expectations”, com uma performance elogiável de Brian Jones no slide guitar.

O quinteto também antecipou “You Can't Always Get What You Want", que só seria lançada oficialmente meses depois no lado B de “Honky Tonk Women”.

Transmissão cancelada
Depois de concluídas as filmagens, o material bruto seguiu para edição e pós-produção. Mas sem que ninguém esperasse, a banda soltou um comunicado afirmando que o especial seria adiado indefinidamente.

Anos depois, a conversa é que os Stones acharam que a performance deles foi fraca e que eles teriam sido eclipsados pelo The Who. Mas a realidade era outra, infelizmente

A despedida de Brian Jones
Embora tenha registrado seu talento na slide guitar em "No Expectations", Brian Jones exibia um estado de saúde debilitado. Seu estilo de vida, com vício em drogas e abuso de álcool, estava acabando com ele.

Cada vez mais distante dos companheiros de banda, Jones se despediu dos Stones naquela gravação. Foi a última vez que tocaram juntos.

Brian Jones foi desligado do grupo em junho de 1969, o que tornava impossível o uso do material. Ele morreu no mês seguinte.

Mudanças na guitarra e no empresariamento
No mesmo período, o grupo parou de trabalhar com o empresário Allen Klein, que havia financiado o projeto. Klein, então, ficou com os direitos do projeto. Com o tempo o material foi esquecido e por muito pouco não se perdeu para sempre.

O fato é que pouco depois das filmagens, os Stones contrataram Mick Taylor para o lugar de Jones e embarcariam em uma outra fase de sua carreira, tornando o Rock and Roll Circus uma relíquia de outros tempos.

Relíquia guardada por 28 anos
Os Rolling Stones deixaram a saga do Rock and Roll Circus de lado, mas os fãs, ao longo das décadas, requisitaram intensamente a exibição do material. O problema é que haviam sobrado apenas fragmentos, que surgiam em edições pirata, em preto e branco, com péssima qualidade.

O diretor Michael Lindsay-Hogg se mobilizou para que o público pudesse finalmente assistir ao material. Ele localizou junto à equipe de produção do The Who uma cópia intacta e assim conseguiu montar o quebra-cabeças.

Em 1996, The Rolling Stones Rock and Roll Circus foi finalmente lançado em DVD, com excelente qualidade e a cores. O CD com o áudio também foi disponibilizado pela Universal Music.

O sonho dos fãs havia se tornado realidade e todos puderam ver que a performance dos Stones, ao contrário do folclore vigente, foi de alto gabarito