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Harry Styles revela os segredos do disco Fine Line: de cogumelos alucinógenos à voz da ex-namorada

Artista comenta faixa a faixa todas as experiências e sensações ao criar o novo álbum

Rob Sheffield, Rolling Stone EUA Publicado em 14/12/2019, às 14h00

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Harry Styles (Foto: Ryan McGinley para Rolling Stone EUA)
Harry Styles (Foto: Ryan McGinley para Rolling Stone EUA)

Harry Styles gira no centro do palco da casa de shows L.A. Forum, dançando loucamente ao som da música nova dele, "Golden". O local está deserto. É quinta-feira, 12, à tarde, algumas horas antes do lançamento de Fine Line, o tão aguardado segundo álbum da carreira. Ele ensaia para o grande show de comemoração à chegada do disco, no dia seguinte. (O estacionamento do lado de fora da arena está cheio de tendas - fãs de todo o mundo estão acampados a semana toda à espera de um bom lugar.) Depois de algumas horas de ensaio com a banda, Styles se solta e o novo álbum começa a soar pelos alto-falantes do lugar. Provavelmente é a última vez que ele ouve essa música em uma sala onde ninguém mais está dançando.

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No backstage, ele descansa em um sofá de couro com suas calças de veludo cotelê, um colar de pérolas e uma camiseta amarela representando um panda e as palavras "Eu vou morrer sozinho". Ele e o wingman musical Tom "Kid Harpoon" Hull discutem sobre o setlist da próxima turnê mundial, mesmo que ela só comece em abril. A mãe dele busca uma maçã e, como um bom filho/rockstar, Styles entrega a ela a tigela onde as maçãs mais saborosas estão escondidas. Ele está bastante inquieto com a expectativa do mundo ouvir as novas músicas, e não está fazendo um bom trabalho ao tentar disfarçar isso.

Fine Line é a obra-prima pop cheia de alma, expansiva e alegre que Styles vem buscando desde que explodiu quase 10 anos atrás como o galã de One Direction. Enquanto canta em "Lights Up", o single lançado em setembro, ele está entrando na luz. "Tudo se resume a me divertir mais, acho", diz ele. "'Lights Up' chegou no final de um longo período de auto-reflexão, auto-aceitação", conta. "Ao longo dos dois anos de gravação, passei por muitas mudanças pessoais - tive conversas comigo mesmo que nem sempre se tem. E eu me sinto mais confortável sendo eu mesmo.”

A vida do astro se transformou de muitas maneiras - algumas envolvendo o cogumelo mágico ocasional, outras envolvendo o poder ainda mais psicodélico de um coração partido. As novas músicas variam desde a pegada rock suave e hippie de Laurel Canyon em "Canyon Moon" - Styles a categoriza como "Crosby, Stills & Nash com esteróides" - até o ritmo mais pulsante de R&B de "Adore You".

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Fine Line é um triste disco sobre separação, mas entrega também a evolução introspectiva de um jovem de 25 anos que navega por novas experiências sexuais e entristecedoras, mesmo que Styles tenha passado boa parte da juventude sob os holofotes. Ele se recusa a seguir tendências ou se encaixar em qualquer fórmula.

“O arco geral é que tentei redefinir o que o sucesso significa para mim. Tentei reconectar o que pensava sobre isso. Muita coisa muda em dois anos, principalmente depois de sair da banda e descobrir o que é a vida agora. Eu me sinto muito mais livre para fazer esse álbum - você chega a um momento no qual se sente feliz, mesmo que a música seja sobre o momento em que você não era tão feliz. ”

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A primeira vez que Styles tocou esse álbum para mim, em junho, foi a alguns quilômetros de distância de onde estamos agora, no Henson Studios de Los Angeles, a mesma sala em que Carole King, de quem Styles é muito fã, fez o disco Tapestry - para ele, era um local sagrado. "Eu olho para o último álbum", disse ele, referindo-se à sua estréia solo em 2017. "E eu pensava que estava sendo muito honesto só porque havia um verso sobre uma punheta. Eu não fazia ideia. Você escreve uma música que é bastante aberta e honesta, e pensa: 'Essa é a minha música', mas então você dá essas músicas para as pessoas e tudo muda. É como: 'Oh, porra!' Até que as pessoas as ouçam, elas nem são músicas, são apenas anotações de voz."

Aqui está o faixa a faixa de Styles para a Fine Line - ao assim como a longa jornada criativa e emocional experimentada pelo artista enquanto fazia esse disco.

"Golden"

A primeira música escrita para Fine Line, no segundo dia de sessões no Shangri-La Studios, em Malibu. "Essa sempre foi a primeira música que eu toquei para as pessoas", ele diz. “Essa sempre seria a faixa um do disco.” É uma explosão vintage que bebe da fonte do soft rock do sul da Califórnia dos anos 1970. "Quando escrevemos 'Golden', estávamos sentados na cozinha no estúdio, e eu estava tocando no violão. Havia cinco de nós cantando as harmonias - a acústica da cozinha fazia parecer tão legal, então pensamos que essa música funcionaria.”

Mesmo em uma música pop iluminada sol sul-californiano, há um tom agridoce de perda nela: enquanto o sol se põe, ele implora: "Eu não quero ficar sozinho". Como ele diz: "Eu não sei muito sobre a vida de Van Morrison, mas eu sei como ele se sentiu sobre determinada garota porque ele colocou isso uma música. Então, eu gosto de trabalhar da mesma maneira.”


“Watermelon Sugar”

Styles tocou essa geleia de frutas no Saturday Night Live, expandindo a canção com a banda dele, ao vivo. Escreveu "Watermelon Sugar" com o produtor Tyler Johnson, Tom Hull e o guitarrista Mitch Rowland. Como em todo o álbum, ele preferiu trabalhar com um elenco rotativo de amigos e colaboradores em vez de chamar grupo de profissionais de sucesso no pop. "Se você está escrevendo com compositores profissionais ou algo assim, você passa um ou dois dias com eles, mas não há outra pessoa que realmente se importe com o seu disco além de você. Porque, no fim das contas, no dia seguinte eles estarão trabalhando em outra coisa. Eu sei que Mitch, Tyler, Tom, Sammy [Witte], Jeff [Bhasker] queriam que o álbum fosse tão bom quanto eu gostaria. Eles não se importam se é a música deles ou não. Eles não estão preocupados com quantas músicas eles conseguem emplacar no disco. Eles querem que seja o melhor álbum possível. Vamos nos unir à música que amamos e às coisas pelas quais estamos passando. Não é como se houvesse uma pessoa no grupo que dissesse: 'Bem, não, eu não falo sobre isso. Eu apenas faço batidas.'"

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Uma influência maciça no álbum - e na vida de Styles - é experiência em da primeira turnê solo, quando viajou o mundo sem o One Direction. “A turnê me afetou profundamente. Isso realmente me mudou emocionalmente. Ter o público chegando para cantar as músicas. Para mim, a turnê foi a maior coisa em termos de ajudar a me aceitar mais, eu acho. Fiquei pensando: 'Uau, eles realmente querem que eu seja eu mesmo. E que eu saia e realmente faça isso. Para mim, por isso sou tão grato às turnês. Os fãs criam esse ambiente em que as pessoas sentem que podem ser elas mesmas. Não há nada que faça com que eu me sinta melhor com quem eu sou do que quando estou nesses lugares cheios de pessoas. Eu pude perceber que as pessoas querem que eu experimente coisas e me divirta. Ninguém quer ver você fingir."


"Adore You"

"'Adore You' é a música mais pop do álbum", ele diz ao tratar o último single. “Dessa vez, senti muito menos medo de escrever músicas pop divertidas. Tinha a ver com a coisa toda de estar em turnê e se sentir aceito. Ouço coisas como Harry Nilsson, Paul Simon e Van Morrison. E, bom, esses caras tem músicas assim. Van Morrison tem 'Brown Eyed Girl', Nilsson tem 'Coconut', e Bowie tem 'Let's Dance'. Diversão também é importante.”


“Lights Up”

Depois de iniciar sua carreira solo com "Sign of the Times", um épico de piano de glam-rock, Styles surpreendeu muitos fãs com seu primeiro single da Fine Line: um R&B sucinto e elegante. “Quando toquei para a gravadora, eu disse a eles: ‘Esse é o primeiro single. São dois minutos, trinta e cinco segundos. De nada.' A música foi um uma das últimas a ser criada nas sessões de gravação: "Lights Up”,“Treat People With Kindness” e “Adore You” foram compostas em uma semana, numa explosão de inspiração.

Para Styles, isso tem algo a ver com dar um passo sozinho. Quando ele começou a compor, era como um membro do grupo One Direction. "[Com a música] 'Happily' vi meu nome nos créditos pela primeira vez. Eu gostei disso”, ele conta. "Mas eu sabia que só cantaria parte dela. Eu sabia que se escrevesse uma música realmente pessoal, não a cantaria. Era como cinto de segurança. Se uma música fosse muito pessoal, eu poderia recuar e dizer: 'Bem, eu não tenho nada a ver com isso.' Compor era como: 'Bem, se eu ia escrever uma música sobre mim, eu provavelmente nunca cantaria'. É como contar histórias. Às vezes, se você está contando uma história realmente pessoal, a voz muda a cada verso; você não faz exatamente a mesma coisa. À medida que as músicas se tornaram mais pessoais, acho que me tornei mais consciente de que, em algum momento, eu mesmo gostaria de cantá-las.”

o ponto de virada para Styles foi "Two Ghosts", uma balada do disco de estreia solo. "Escrevi 'Two Ghosts' para a banda, para Made in the A.M. Mas a história era pessoal demais. Quando comecei a me abrir para escrever minhas coisas mais pessoais, acabei percebendo um pedaço de mim dizendo: 'Quero cantar a coisa toda'. Agora olho para uma tracklist de um disco e todos esses são meus bebês. Então, toda vez que estou tocando uma música, lembro de escrevê-la e exatamente onde estávamos e exatamente o que aconteceu na minha vida quando a escrevi. Todo o show é essa emoção maciça. Eu viajo, sabe, em vez de a cada 20 minutos pensar: 'Ah, eu lembro dessa aqui'. Essa é a diferença."


"Cherry"

O momento mais poderoso da Fine Line - uma crua confissão de ciúmes. O engenheiro de som Sammy Witte estava tocando um riff no violão, Styles ouviu e amou. "Foi o momento de dizer 'Sim, quero que minhas músicas soem assim'", ele conta. A música termina com uma voz feminina em francês enquanto Harry toca violão. "Isso é apenas a voz da minha ex-namorada falando. Eu estava tocando violão e ela recebeu um telefonema - e, sim, estava falando exatamente no tom da música.”


"Falling"

Uma balada de alma sonhadora. "Tom [Hull] veio à minha casa para pegar alguma coisa, e ele sentou-se ao piano e eu tinha acabado de sair do chuveiro. Ele começou a tocar e nós criamos ela ail. Então eu estava completamente nua quando escrevi essa música.”


“To Be So Lonely”

"A música 'To Be So Lonely' é articulação do cérebro de Mitch", diz Styles. "Mesmo quando Mitch toca sozinho, ele tem um ritmo próprio." A música era composta por um guitalele - um ukulele com seis cordas. "São instrumentos muito bons para compor, porque você pode viajar com eles. Eu tinha um desses comigo no Japão, são realmente bons para registrar ideias.”


"She"

Um épico de rock de seis minutos com uma excursão violenta de guitarra, como se Prince da época de "Purple Rain" fizesse uma jam com Pink Floyd dos tempos de "Shine On You Crazy Diamond".

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"Mitch tocou aquela guitarra quando ele estava um pouco, er, afetado, digamos assim", conta Styles. "Bom, ele tinha usado cogumelos, todos nós tínhamos. E não fazíamos ideia do que estava acontecendo. Esquecemos tudo sobre essa faixa. Voltamos mais tarde e adoramos. Mas Mitch não tinha idéia do que ele fez na guitarra naquela noite, então ele teve que aprender tudo de novo. Essa para mim parece britânica. Eu costumo cantar com um leve sotaque americano, porque o primeiro artista que ouvi foi Elvis Presley. Quando eu pensava em quais músicas deveriam estar no disco, essa era sempre uma das primeiras a entrar. É uma canção fenomenal."


“Sunflower, Vol. 6”

Uma viagem experimental com referências ao próprio disco por toda a parte: “Eu adoraria que as pessoas ouvissem o álbum inteiro. Quero que as pessoas escutem todas as músicas. Mesmo com streaming e playlists, adoro ouvir os discos do começo ao fim. Então, eu quero criar álbuns que eu quero ouvir o início até o fim, porque é assim que eu ouço música."


“Canyon Moon”

"Eu estava enfiado em Joni [Mitchell]", admite Style admite. Inspirado por pelo sul da Califórnia e sua obsessão pelo clássico Blue, disco de Joni Mitchell de 1971 - ele buscou Joellen Lapidus, a mulher que construiu o dulcimer [um instrumento de cordas de origem medieval] que Mitchell toca ao longo desse álbum. No passado, Lapidus apresentou Mitchell às maravilhas do dulcimer; ela o levou na mochila em uma viagem pela Europa e escreveu algumas de suas músicas mais clássicas.

Styles e Tom Hull tiveram sua primeira lição no instrumento da própria Lapidus, na casa dela em Culver City. Ele orgulhosamente chama essa música de "Crosby, Stills e Nash com esteróides". Quando ele tocou Fine Line para Stevie Nicks, ela escolheu essa música como favorita - e, como você deve saber, a opinião de Stevie significa muito para o jovem que ela chama de "minha pequena musa Harry Styles".

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“Treat People With Kindness”

Essa música não soa como nada do álbum. Tudo começou porque essa frase era o slogan da primeira turnê solo de Styles: “Eu disse a Jeff que adoraria escrever uma música chamada 'Treat People With Kindness'. E ele ficou, tipo, 'por que você não faz isso?'. Fiquei desconfortável no começo, porque eu não tinha certeza do que era. Sinto que essa música abriu algo que está no meu âmago."


“Fine Line”

A música mais longa e excêntrica do álbum - uma das primeiras a serem escritas. A faixa começou como uma balada folk, mas continuou se expandindo e evoluindo. "É estranho", diz Styles. “Começou simples, mas eu queria ter essa outra coisa épica. E tomou essa forma. Eu pensei:''É exatamente como a música que quero fazer'. Adoro cordas, sopros e harmonias. Então, porque não colocamos tudo isso?" Isso simboliza espírito de todo o projeto. Mas ele sabe que não conseguirá agradar a todos. "Quando meu avô ouviu 'Lights Up' pela primeira vez, ele disse: 'Eu tive que ouvi-lo algumas vezes para entender. Mas estou feliz que você ainda esteja trabalhando. Foi engraçado, e eu pensei: estou feliz que ainda estou trabalhando."


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