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A história do disco folk de Bernie Sanders, o socialista pré-candidato à presidência dos EUA

Sanders concorre para ser o escolhido para representar o Partido Democrata na disputa que será realizada em 2016

Redação Publicado em 05/12/2015, às 14h02

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Bernie Sanders em evento de campanha pela candidatura à presidência dos EUA em Atlanta, no dia 23 de novembro de 2015 - David Goldman/AP
Bernie Sanders em evento de campanha pela candidatura à presidência dos EUA em Atlanta, no dia 23 de novembro de 2015 - David Goldman/AP

O ano era 1987. O presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, estava enrolado com escândalo Irã-Contras, Hulk Hogan e André the Giant se enfrentavam no Wrestlemania III e, ainda jovem, o hoje pré-candidato à presidência norte-americana pelo Partido Democrata, Bernie Sanders, lançava sua carreira política como prefeito de Burlington, no estado de Vermont.

Comédias políticas norte-americanas.

Antes de Sanders, Burlington era o lar dos antiquados. Era proibido ouvir música em caixas de som em parques e prédios públicos e para agendar um show no auditório municipal um promotor devia dar uma mostra da música do artista a fim de conseguir a provação do conselho da cidade.

“A mentalidade da cidade estava presa nos anos 1950”, lembra Todd Lockwood, dono do estúdio de gravação White Crow Audio.

Mas o prefeito Sanders mudou tudo isso: “Quando ele chegou à prefeitura e limpou a casa, de repente, havia música por todo lado”, diz Lockwood. Hoje, Burlington é sede de um dos maiores festivais de jazz da América do Norte e recebe espetáculos gratuitos em um parque local toda semana. Lockwood credita isso a Sanders.

Donald Trump levado a sério.

O político se tornou uma espécie de herói para o dono do estúdio e para outros músicos locais. Porém, não foi por isso que ele escreveu uma carta para o prefeito há 28 anos o convidando a colaborar em disco de folk.

Ouça a participação do candidato à presidência:

O motivo era mais prático: Lockwood transformou o pequeno estúdio de gravação que montou em seu apartamento em uma grande operação, com equipamentos de ponta, rivalizando com qualquer estrutura na cosmopolita Nova York. Ele tinha uma equipe para manejar os requintados aparelhos e tinha dinheiro para pagar bons salário e benefícios de saúde. Então, ainda que o momento fosse ruim, o empresário tentaria encher o estúdio com projetos locais para lançar seu selo, o BurlingTown Recordings.

A ideia do disco We Shall Overcome era algo do nível de We Are the World, de Michael Jackson, lançado dois anos antes. Eram cerca de 30 artistas, nomes como Nancy Beavens, Jon Gailmor e o futuro senador Dick McCormack.

Alguns deles, como Gailmor – que organizou um dos primeiros shows beneficentes quando Sanders concorreu à prefeitura em 1981 –, eram eleitores declarados de Bernie. “Dez pessoas apareceram”, Gailmor conta sobre a primeira apresentação. “Mas a verdade é que ele venceu por dez votos.”

Alguns eram mais céticos com o prefeito socialista do partido democrata. “Acho que eles não estava completamente convencidos de suas medidas, naquela época ele soava bastante radical”, afirma Lockwood. “As ideias deles não me parecem particularmente radicais agora, mas em 1987, ele estava dizendo basicamente as mesmas coisas. Com a exceção de que ele se referia a ‘milionários’ ao invés de ‘bilionários’. Hoje, provavelmente todos os músicos que cantaram nesse projeto votarão em Bernie.”

Ele pode não estar completamente certo. Danny Coane – então na banda de rockabilly The Throbulators e hoje no Starline Rhythm Boys –, que participou da faixa "Oh Freedom", faz uma objeção quando perguntado sobre seu apoio. “Não sei se eu quero me meter nisso. Eu tenho algumas divergências, mas, enfim, vamos deixar para lá”, ele diz.

O álbum foi feito no período de uma semana e foi vendido a tempo do Natal pelo preço de US$ 10 em 25 pontos espalhados pelo estado. Lockwood lembra que vendeu aproximadamente mil cópias. “Isso foi bastante expressivo para uma marca local que só vendia em um raio de 45 ou 60 km de Burlington."

Quando Sanders concorreu ao congresso alguns anos depois, o empresário doou a última fita cassete para a campanha. Ele não tem nenhum cópia original hoje, mas já viu algumas delas em sites como o eBay: "É um item de colecionador”, afirma.

Sanders, porém, define sua participação como “um grande erro”. Perguntado se a atitude do político de se distanciar do disco o magoa, Lockwood declara: “Um pouco, mas eu entendo perfeitamente. Eu provavelmente faria o mesmo. Ele tinha coisas mais importantes para fazer”.

Na época, Sanders assinou um contrato de gravação lhe garantindo dividendos se o disco se tornasse rentável e informou que iria doar os valores recebidos para a caridade, mas nunca houve lucro. Isso está para mudar. Desde que uma versão remasterizada foi lançada no ano passado, o candidato à presidência parece estar próximo de ver um cheque, finalmente. Segundo Lockwood, as vendas mais que dobraram. Cerca de dois mil CDs foram vendidos, além de muitos outros downloads digitais.

“O documento original do nosso acordo hoje está efetivo novamente, e ele vai, afinal, receber alguns royalties. Não vai ser muita coisa”. Rei das pequenas doações, Sanders diria que todo centavo ajuda.