Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

A história do soldado executado 3 vezes no centro de São Paulo - e que, mesmo assim, não morreu

No aniversário da cidade, relembramos uma das histórias mais escancaradas e sinistras que aconteceram por lá - esta, sobre Chaguinha, no bairro da Liberdade

Yolanda Reis Publicado em 25/01/2020, às 18h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Pintura de Chaguinhas na Capela dos Aflitos, em São Paulo (Foto: Wikicommons)
Pintura de Chaguinhas na Capela dos Aflitos, em São Paulo (Foto: Wikicommons)

Neste sábado, 25 de janeiro de 2020, a cidade de São Paulo completou 466 anos. Chegando perto dos cinco séculos, é de imaginar que a maior metrópole do Brasil tenha tanta história que ninguém no mundo poderia contar todas.

Mesmo assim, uma ou outra se destaca. Principalmente aquelas irreais, sinistras e com um quê histórico. Como aquela sobre um padre que foi executado três vezes - e mesmo assim não morreu! Depois, ele ganhou uma igreja com o nome dele: a Capela Santa Cruz das Almas dos Enforcados, que fica na Praça da Liberdade, na Liberdade, um dos bairros mais importantes da cidade.

+++ LEIA MAIS: O fim dos Beatles: como caprichos e raiva destruíram a maior banda de todos os tempos

A história começa em 1821. O Brasil lutava pela independência de Portugal. Um dos soldados do exército, chamado Francisco José das Chagas, ou Chaguinha, revoltou-se com a desigualdade entre os soldados portugueses e brasileiros, que lutavam juntos - mas os europeus tinham muitas vantagens a mais. 

Começou uma pequena revolução. Mas, naquela época, não podia reclamar de alguma coisa como essa, e Chaguinha foi condenado à morte em execução pública. No dia 20 de setembro de 1821, foi levado pra uma forca no Largo da Liberdade (hoje a praça). Colocaram um laço em torno do pescoço dele. Fizeram o palanque abrir. A corda arrebentou!

+++ LEIA MAIS: Phil Collins explica como ‘estragou’ o retorno do Led Zeppelin no Live Aid de 1985

A multidão de quase 10 mil pessoas foi à loucura. Viram aquilo como um sinal divino, a palavra de Deus de que Chaguinha não merecia morrer! Clamaram, imploraram: misericórdia! Mais ainda: "Liberdade." Não adiantou. Passaram, de novo, a corda no pescoço do soldado rebelde. Abriram, de novo, o palanque. A corda, de novo, arrebentou!

Pois imagine: se, da primeira vez que falhou, os cidadãos acharam que Chaguinha (a quem muitos conheciam pessoalmente) era abençoado, isso acontecer uma segunda vez só reforçava a benção. Novamente, pediram para os carrascos obedecerem às vontades de Deus e não matar o homem. Mas eles não ligaram: colocaram, pela terceira vez, uma corda em volta do pescoço de Chaguinha...

+++ LEIA MAIS: Projeto de Lei pode proibir alguns estilos musicais no Brasil - inclusive rock e funk

Dessa vez, a corda não arrebentou. Chaguinha foi enforcado. Mas isso não significou que ele morreu... Normalmente, uma pessoa enforcada morre quando o pescoço quebra no tranco da queda, ou, então, asfixiada. No entanto, ele sobreviveu - embora estivesse bem machucado quando desceu da corda.

Nada disso, porém, foi suficiente para o Estado: Chaguinha foi executado a pauladas por guardas que estavam ali.

+++ LEIA MAIS: Ex de Elvis, Linda Thompson revela por que deixou o Rei: ‘Era exaustivo’

A execução tripla de Chaguinha causou comoção na Liberdade. Ele crescera ali, conhecia os comerciantes. Os cidadão, então, resolveram prestar uma homenagem a ele. Fincaram uma cruz no lugar onde antes estava sua forca, e acenderam centenas de velas - que, algumas pessoas juram, não apagavam nem com fogo ou vento. 

Depois  de muitos anos - mais especificamente em 1887 - resolveram homenagear Chaguinha e todas as outras pessoas que encontraram o fim na forca. Ergueram, na agora Praça da Liberdade, uma capela, batizada Santa Cruz da Alma dos Enforcados.