Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

HQ sombria do autor de Astro Boy chega ao Brasil pela primeira vez

Ayako ajudou a estabelecer o quadrinista japonês Osamu Tezuka como “O Deus dos Mangás”

Ramon Vitral Publicado em 16/02/2018, às 18h45 - Atualizado às 19h49

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Capa do mangá <i>Ayako</i> - Reprodução
Capa do mangá <i>Ayako</i> - Reprodução

Se o quadrinista japonês Osamu Tezuka (1928-1989) entrou para a história como “O Deus dos Mangás”, muito se deve a Ayako. Apesar de a fama do artista no Ocidente ter sido fomentada principalmente por seus trabalhos mais infantis, o épico familiar em preto e branco recém-lançado no Brasil pela editora Veneta é considerado por alguns como a obra-prima do autor.

Lançado originalmente entre 1972 e 1973 como uma trilogia e até agora inédito nas livrarias brasileiras, o álbum apresenta a versão integral do trabalho mais sombrio, cínico e pouco esperançoso de Tezuka, completamente distinto daqueles que talvez sejam seus títulos mais famosos no Ocidente: Astro Boy, Kimba - O Leão Branco e A Princesa e O Cavaleiro.

Tezuka sempre fez questão de explicitar a influência dos trabalhos de Walt Disney em suas obras, mas o diálogo mais óbvio de Ayako é com o sofrimento, a culpa e o niilismo presentes nos romances do russo Fiódor Dostoiévski – de quem o artista adaptou Crime e Castigo em 1953.

As 720 páginas de Ayako são ambientadas no Japão pós-2ª Guerra Mundial. O retorno de um dos cinco filhos da tradicional família Tenge de um campo de prisioneiros dá início a uma série de eventos que culminam em um período de 24 anos da caçula do clã trancada em um porão por decisão unânime de seus parentes mais poderosos, com o objetivo de proteger a honra de seus pais e irmãos.

“Nenhum personagem chega ao fim de Ayako ainda inteiro”, escreveu o crítico Simon Abrams, do tradicional site norte-americano especializado em quadrinhos The Comics Journal. Abrams classificou a obra como “mórbida” e “ideologicamente complexa”.

Enquanto a ingenuidade da jovem Ayako é preservada por seu distanciamento do mundo, os pais e irmãos dela expõem todas suas idiossincrasias e rancores ao mesmo tempo em que lutam pela manutenção do poder e das riquezas da família Tenge e tentam proteger interesses pessoais.

O contraste entre os valores tradicionais da fechada sociedade japonesa pré-2ª Guerra e a modernização imposta pela regência dos Estados Unidos pós-1945 fomentam ainda mais as tensões dos Tenge.

Ayako chega ao Brasil no ano em que é celebrado o aniversário de 90 anos do nascimento de Tezuka, marcado também por uma exposição aberta no fim de janeiro durante o tradicional Festival de Quadrinhos de Angoulême, na França, comemorando a carreira do autor. A edição nacional ainda apresenta como extra sete páginas com um final alternativo cogitado pelo autor.

Além da presença do traço característico de Tezuka, marcado pelos cenários realistas e rico em detalhes e pelas feições caricatas de seus personagens, o mangá é obrigatório principalmente por seus aspectos singulares no contexto do conjunto da obra do artista.