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The Newsroom: a melhor série ruim da história?

É difícil acompanhar The Newsroom e é ainda mais difícil parar de assistir

Rob Sheffield Publicado em 17/08/2013, às 11h49 - Atualizado às 11h49

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<i>The Newsroom</i> - Reprodução/vídeo
<i>The Newsroom</i> - Reprodução/vídeo

Você precisa ser um gênio como Aaron Sorkin para conseguir se safar com uma série tão vigorosamente terrível quanto The Newsroom. É isso que a torna agonizante em sua “assistibilidade”. Sorkin enxerga seu herói, Will McAvoy, interpretado por Jeff Daniels, como o último romano nobre na selva que é o universo dos canais a cabo de notícias. Mas Will é basicamente um idiota falastrão que não consegue parar de dar lição nas pessoas a respeito de seus ideais conquistados a duras penas.

Ainda assim, Sorkin é um personagem infinitamente mais fascinante do que Will McAvoy – e certamente Sorkin sabe disso. Assim como muitos grandes artistas norte-americanos, ele faz seu melhor trabalho quando é contratado para trabalhar em uma história criada por outra pessoa, como foi o caso de O Homem que Mudou o Jogo e A Rede Social. Sorkin claramente se importa com The Newsroom, mas por alguma razão ele conseguiu emoções mais autênticas com Brad Pitt falando sobre beisebol. Enquanto isso, em The Newsroom, ele dá a Daniels discursos pungentes, parágrafos inteiros, que poderiam ser frases de pára-choque gigantes – se seu pára-choque desse a volta no seu carro duas vezes.

Toda a pompa de The Newsroom faz com que você se pergunte: é esse o preço que se paga quando se é tão anormalmente ótimo em algo tão no começo da carreira? Lembre-se, mesmo quando estreou The West Wing, em 1999, as pessoas já chamavam a série de "Sorkin-esque" e o cara estava apenas começando. Ele mal tinha passado dos 30 anos quando se tornou um roteirista famoso, uma categoria de celebridades que basicamente contém Sorkin e o cara que escreveu Showgirls. Ter um talento tão absurdo para algo que milhares de outros tentam fazer? Será que isso às vezes parece um fardo?

Bom, aparentemente, sim. A postura é de uma grave autocomiseração da meia idade. O tom é todo meio Bob Dylan em meados da década de 70, no período de "Hurricane", quando o homem ficava se lamentando por heróis injustiçados como Rubin Carter e Joey Gallo, nem tanto porque realmente ligava para eles, mas sim porque eles serviam de metáforas para seu próprio martírio.

Mas se você sente um prazer doentio com The Newsroom, é como curtir ouvir Dylan cantar sobre mafiosos mal compreendidos lendo Nietzsche na prisão. Claro, Dylan acabou se voltando para Jesus, então talvez em alguns anos possamos assistir a uma “dramédia” de Sorkin chamada Church Night, com Bill Pullman interpretando o pastor metodista mais intensamente bem-intencionado do mundo.

A melhor piada em The Newsroom é a ideia de que canais a cabo de notícias são um símbolo da pureza perdida. É difícil imaginar alguém relembrando os dias de ouro da CNN e pensando “essa foi nossa melhor fase”. Ah, o passado inocente das notícias, quando olhar para cima e assistir aos monitores de TV do aeroporto enquanto nos embebedávamos de margaritas do Chili's significava algo.

The Newsroom também sai perdendo por ter estreado logo depois de uma temporada magnífica de Veep, outra sensação dos domingos à noite da HBO norte-americana. Qualquer minuto aleatório de Veep crepita com o tipo de diálogo rápido que parece ser tão trabalhoso em The Newsroom. Se algum dos picaretas políticos de Veep algum dia cruzasse com Will McAvoy, eles dariam de ombros e diriam “não dá para argumentar com ele – é como explicar Supertramp para um dragão de Komodo”. E eles provavelmente estariam certos.