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Sem raves ou clubs: como a indústria da música eletrônica sobrevive à pandemia de coronavírus?

A cultura dos festivais de EDM ainda vive - ou vivia antes da quarentena. Mas e agora?

Lorena Reis Publicado em 13/05/2020, às 07h00

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Público do Lollapalooza 2017, realizado no Autódromo de Interlagos, em São Paulo (Foto: Raphael Dias / Getty Images)
Público do Lollapalooza 2017, realizado no Autódromo de Interlagos, em São Paulo (Foto: Raphael Dias / Getty Images)

Nos últimos anos, os clubes, raves  e festivais de música eletrônica ao redor do mundo passaram a ser cada vez mais frequentados. Segundo o IMS Business Report, um estudo vital sobre como a indústria da Electronic Dance Music (EDM) se movimenta anualmente, os eventos com música e DJs ao vivo aumentaram consideravelmente em 2018, nos mostrando que, sim, a cultura dos festivais ainda vive - ou vivia antes da pandemia de coronavírus. Agora, no entanto, a forma como as pessoas consomem música pode ter mudado irreversivelmente. 

Uma pesquisa recente da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) ranqueou a música eletrônica/dance como o terceiro estilo musical mais popular do mundo, atrás somente de pop e rock. Aqui, 32% das pessoas entrevistadas assumiram que o escutam com certa frequência. No Brasil, a live do Alok foi um ótimo exemplo de sua popularidade, somando mais de 1,7 milhão de espectadores simultâneos no YouTube. E é assim que a indústria da música eletrônica vem conquistando mais visibilidade. 

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A Rolling Stone Brasil conversou com os DJs Paulo Velloso e Thiago Mansur, do JetLag Music, sobre a ascensão da música eletrônica ao redor do mundo. Em abril, o duo, que também teve um crescimento meteórico nos últimos anos, se apresentaria no Lollapalooza 2020, um dos eventos adiados pelo coronavírus em São Paulo.

“É impressionante o quanto [a música eletrônica] cresceu no Brasil na última década. O que antes era uma música de nicho, de uns três anos pra cá atinge todos os públicos, de todos os cantos do país”, disse Paulo, acrescentando: “A gente até brinca, ‘Poxa, a gente era DJ e virou um artista pop’, porque a gente divide o palco com artistas de outros segmentos - e isso é muito bom.”

Paulo também comentou que, por meio do Deep House - um subgênero da House Music -, eles levam um pouco da cultura brasileira para outros públicos. “É legal ver o impacto que a nossa música tem fora do país”, ele continua. “Hoje em dia, com a Internet e tudo mais, o consumo meio que mudou. Nós pegamos os dados do Spotify e de outras plataformas digitais e descobrimos que a nossa música é reproduzida em 70 países diferentes. E esse é um dos nossos projetos de carreira: atravessar a fronteira do Brasil”, completa Thiago.

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Infelizmente, após as ordens de isolamento social, a maior parte desse mercado está em casa, enquanto muitos artistas tentam se reiventar.

De acordo com a diretora da Agência Liminal, Larissa Correia, que atende nomes de sucesso na cena eletrônica, como como DAX J, Ellen Allien e FJAAK, 100% dos eventos com os quais ela trabalha foram suspensos por tempo indeterminado. “É tudo muito incerto, temos que remarcar todos esses eventos e, mesmo com o fim da quarentena, quando as coisas melhorarem, temos que estudar a reabertura desse mercado”, ela afirma. “Estamos praticamente em coma, sem nenhuma data de reabertura e nenhuma previsão. Nesse meio tempo, tentamos nutrir o público com materiais produzidos pelos artistas - esse é o panorama atual.”

As lives, que tem feito bastante sucesso nas redes sociais, talvez não sejam a melhor forma de valorizar, efetivamente, o trabalho dos DJs. “Hoje, existe uma discussão em torno de como monetizar esses produtos ao vivo. Nós vemos essas lives populares e patrocinadas, mas essa não é a mesma realidade de um mercado mais nichado, como é o da música eletrônica”, explica Larissa. “Temos um mercado mais popular, como o do Alok, que ainda consegue monetizar as lives com patrocínio. Mas tem sido difícil para os artistas mais independentes e underground.”

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Já o público, por sua vez, parece mais receptivo quanto às novas formas de consumir música em geral. Segundo a empresária, “esse novo momento digital está humanizando o artista”, que costuma ficar muito distante: “As lives, o contato virtual e até os vídeos sobre como eles têm passado a quarentena torna tudo mais humano (...) Essa é a principal forma de se comunicar atualmente.”

Levando-se em conta o cenário pandêmico atual, a cultura dos festivais levará um tempo para se reestabilizar. Mesmo assim, Larissa está otimista sobre o futuro: “Temos que cuidar da nossa saúde, em primeiro lugar. Mas eu acredito que o festival seja um 'get together', um momento de catarse, de alegria, de experiência. Sempre vai ter demanda!”


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