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True Detective: conheça a mente brilhante por trás da série norte-americana mais falada do momento

Saiba o que pensam Matthew McConaughey (Cohle) e o criador da série, Nic Pizzolatto, a respeito da primeira temporada, que chega ao fim neste domingo, 9

Jonathan Ringen Publicado em 08/03/2014, às 15h44 - Atualizado em 10/03/2014, às 13h22

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Galeria - Séries de TV de 2014 - True Detective - Reprodução
Galeria - Séries de TV de 2014 - True Detective - Reprodução

"Ah, yes, Rustiiiiin Cohhhhhhle”, grita Matthew McConaughey, se deliciando. É o dia seguinte do almoço anual do Oscar, no qual os indicados batem papo e tiram fotos, mas ele não está falando sobre O Clube de Compras Dallas. Hoje, a mente dele está em Rustin "Rust" Cohle, o policial da divisão de homicídios de Lousiana brilhante, mas profundamente perturbado, que ele interpreta em True Detective. A série, que ele estrela ao lado de Woody Harrelson, estreou recentemente nos Estados Unidos e foi criada por um ex-professor universitário com quase nenhuma experiência televisiva chamado Nic Pizzolatto. McConaughey foi o primeiro ator a assinar com True Detective, que encerra a primeira temporada neste domingo 9. Ele também foi essencial no processo de colocar a série no ar. “Amei o texto”, conta. “Li os dois primeiros episódios e aceitei. É como Mark Hanna, em O Lobo de Wall Street, ou Ron Woodroof, em Clube de Compras Dallas. Esses são personagens com obsessões claras e é isso que ando escolhendo. Alguém com alguma obsessão a qual eu pudesse me apegar e me embriagar dela."

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Há poucos anos, Pizzolatto estava em um momento bem diferente da vida. Antes de se tornar o criador e showrunner de True Detective, antes de persuadir o cineasta Cary Fukunaga a dirigir todos os episódios (o filme de Fukunaga Sin Nombre ajudou a convencer McConaughey), bem antes de se tornar companheiro de bar dos protagonistas da série, Pizzolatto era o autor de um romance desconhecido, Galveston, a respeito de um criminoso com câncer e uma prostituta adolescente, e tinha um emprego dando aulas de literatura e escrita criativa na pequena Universidade DePauw, em Indiana. "Eu estava totalmente desesperado e ansioso para sair da vida acadêmica”, relembra Pizzolatto, 38. "Tinha interesse em escrever para a televisão, mas nunca tinha tido nenhuma experiência ou oportunidade nesse mundo.”

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Mas quando o livro dele foi publicado, em 2010, os direitos de adaptação foram comprados “por um pouquinho de dinheiro” – o que colocou Pizzolatto em contato com alguns agentes de Hollywood. Ele perguntou a eles como entrar para o universo dos roteiros. A resposta foi surpreendentemente simples: escreva roteiros. "Dentro de uma semana eu já tinha mandado para eles um spec de Justified, já que é algo que combina com meu estilo, e um roteiro original", ele diz. “Dentro de um mês eu já tinha seis roteiros – e um deles era o piloto de True Detective”.

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Pizzolatto se mudou com a família para Los Angeles naquele ano, alugando uma casa em Van Nuys e transformando a garagem em escritório. O trabalho começou imediatamente: assinou um acordo de desenvolvimento com a HBO para um piloto que acabou não sendo aceito, mas que ajudou para que ele entrasse no jogo. Conseguiu uma vaga de roteirista na série da AMC The Killing e recebeu ofertas para vender True Detective. Os produtores tinham a ideia de gerar uma franquia, como Law & Order. "Você poderia ter True District Advogado, True FBI. Mas eu me mantive firme na ideia, era especial para mim.”

Assim como em American Horror Story, e, basicamente, diferentemente do que acontece em qualquer outra série, True Detective foi concebida como uma série de antologia, com cada temporada contando uma história diferente, mudando o local e o grupo de personagens. Para a primeira temporada, Pizzolatto situou a história em um local que conhece bem: na costa pantanosa da Louisiana, cheia de refinarias, local onde ele cresceu com uma família extremamente católica e obcecado por HQs e The Twilight Zone.

A série acompanha dois detetives de homicídio que vivem batendo cabeça, o cerebral Cohle e o comportado Martin Hart (Harrelson), por quase duas décadas. A estrutura é quase psicodelicamente complexa. Em 1995, Cohle e Hart, que na época eram parceiros, investigam o assassinato de uma jovem prostituta que tinha sido drogada com LSD e metanfetamina, depois coroada com uma galhada e posicionada como se estivesse rezando.

Dezessete anos depois, a dupla não está mais na corporação e eles estão brigados. Cada um é entrevistado separadamente por detetives que estão investigando assassinatos semelhantes. Essas entrevistas conduzem a história de maneira que a perspectiva vai mudando sempre, do relato de Cohle ao de Hart, enquanto flashbacks mostram lentamente o que aconteceu de verdade.

"As paredes da garagem onde eu sentava para escrever estavam cobertas por centenas de notas de Post-it", diz Pizzolatto que, contrariando a regra da TV, escreveu a primeira temporada inteira sozinho. "Eu não sou contra o ‘writers' room’, mas eu tinha tão clara a concepção do que eu queria e me envolvi tanto e tão rápido que não consegui pensar em uma maneira para outras pessoas me ajudarem. Então eu fui fazendo, como se fosse um livro."

Conforme a temporada vai se desenvolvendo, Cohle e Hart são arrastados para um mundo de pregadores evangélicos suspeitos, fabricantes de metanfetamina caipiras e geniais, crianças e mulheres desaparecidas, motoqueiros neo-Nazistas e uma conspiração que parece se estender até o topo. Interpretando Cohle, dá para dizer que McConaughey está ainda mais transformado do que em Clube de Compras Dallas. Em 1995, ele estava sóbrio, era preciso, superanalítico. Em 2012, ele é relaxado e está arrasado, é um cara que, de acordo com McConaughey, "viveu mais do que gostaria”. Ao longo do caminho, Cohle é forçado a voltar a trabalhar infiltrado – se tornando um maníaco usuário de cocaína e metanfetamina com o apelido de Crash.

Para não se perder a respeito de onde seu personagem está ao longo dos 17 anos de história, o ator documentou tudo. "Fiz um gráfico com 450 páginas com onde Cohle está e de onde ele veio”, conta.

Ao longo desse período, Cohle se mantém profundamente dúbio a respeito da natureza humana, usando como referência um poço de filosofia que aprendeu sozinho, de Nietzsche ao pessimista romano E.M. Cioran – o que irrita o personagem de Harrelson, Hart. "Eu e Woody sempre fizemos comédia juntos", conta McConaughey. “É como ele diz, ele joga a bola para mim e eu rebato com ainda mais força, e fica indo e voltando. Mas a questão aqui é oposição, a ideia é um não estar na frequência do outro.

Fica a pergunta: Pizzolatto compartilha da visão de mundo de Cohle? "Bom, sou como Cohle nas coisas que tendemos a rejeitar, mas não sou tão amplamente misantrópico”, diz. “Eu tenho amigos e aprecio o companheirismo. Mas qual é a verdadeira relação de Cohle com as filosofias que ele segue? Se teoricamente Cohle é um niilista, ele está falhando miseravelmente nisso. Ele sente paixão demais para isso.”

Pizzolatto já está trabalhando na segunda temporada – que, novamente, está escrevendo sozinho. “Tenho três personagens e eles são todos únicos e nenhum deles é como Cohle ou Hart."