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John Cameron Mitchell planeja sequência de Hedwig - Rock, Amor e Traição

O diretor do aclamado musical está no Brasil para participar de um show com a trilha do filme

Stella Rodrigues Publicado em 24/11/2012, às 11h05 - Atualizado às 11h05

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John Cameron Mitchell - AP
John Cameron Mitchell - AP

“É como minha ex-mulher”, define John Cameron Mitchell ao falar de seu primeiro e mais bem-sucedido longa, Hedwig - Rock, Amor e Traição, que dirigiu, escreveu, protagonizou e lançou em 2001. A produção tem base na premiadíssima peça Hedwig and the Angry Inch. Ele continua: “Eu a amo, temos filhos, ela me paga pensão, tenho muito orgulho dela e desejo tudo de bom. Tenho certeza que acabaremos juntos quando estivermos velhos”, brinca ele, fazendo a ressalva de que tocou a vida depois “dela”.

Antes de entregar sua velhice a Hedwig - Rock, Amor e Traição, Mitchell pretende se casar com uma esposa parecida: ele prepara uma continuação para a trama, que narra a história de uma garota transexual de Berlim do leste, na época da queda do muro, em busca de amor. Em uma turnê com seu show de punk rock pelos Estados Unidos, ela conta como seu ex-namorado e parceiro artístico roubou suas músicas. “O novo filme começaria nos dias de hoje, mas te atualiza com o que aconteceu nesse meio tempo, desde os anos 90. Tem todos os personagens. É basicamente sobre morte e Deus”, resume, afirmando que a princípio não é uma peça para a Broadway. “Estou sempre um pouco à frente da Broadway. Quando escrevi Hedwig, a Broadway não estava pronta para esta peça e hoje está. Mas ela não está pronta para o dois”, analisa, dizendo que pretende primeiro montar a peça, mas que provavelmente lançará um filme posteriormente.

O diretor está no Brasil para participar de um show com a trilha do longa ao lado do elenco da peça Hedwig e o Centímetro Enfurecido, montagem baseada na obra de Mitchell (veja informações abaixo). Em uma conversa com a Rolling Stone Brasil, ele conta que é incomum para ele assistir ou ter contato com as várias adaptações que foram montadas ao longo do tempo em todo o mundo (tantas que nem ele mesmo sabe quantas e onde). “Muito raramente faço isso, só quando é em um local maravilhoso, como o Rio”, ri.

“O cara que fez o Rocky Horror Picture Show é muito rígido com as regras de como as produções devem ser feitas. Acho isso muito tedioso, eu gosto quando as pessoas tentam coisas novas, como nesta do Rio, em que tem duas Hedwigs”, diz ele, argumentando que gosta de dar liberdade para as adaptações. “Achei inteligente. E tinha conhecido o produtor em Nova York, ele é ótimo.”

Mitchell conta que ele e o elenco cantarão em inglês e português. Ele, inclusive, interpretará duas canções nacionais e deu amostras por telefone que impressionam, no quesito qualidade do sotaque: “Uma do Secos e Molhados, ‘Sangue Latim’, com um mash-up com ‘Walk on the Wild Side’, do Lou Reed, e ‘Sonho Meu’, de Maria Bethânia."

Também faz parte da passagem dele por aqui a primeira edição internacional da festa dele de Nova York, a Mattachine, que comanda ao lado de seus dois parceiros DJs, Paul Dawson e PJ DeBoy. “A gente não curte muito o putz, putz, putz, o ritmo de sempre, somos um pouco chatos. A música não precisa ser dance para você dançar”, diz ele, que é fã do Bonde do Rolê. “Um amigo me mostrou ‘Solta o Frango’ e achei muito divertido. Costumo tocar ‘Dança Especial’. Gosto também de coisa brasileira antiga, Tropicália, tenho gostado muito de ouvir Novos Baianos. Vou colocar essas coisas no meu set e ver se as pessoas surtam.”

“[Toco] basicamente funk dos anos 70 e 80 e disco clássica”, continua. “Mas não as que são muito grandes, costumamos dizer que evitamos aquelas que tocam em casamento”, diz. “Uma coisa que gosto de fazer é colocar música lenta, porque isso obriga as pessoas a dançarem com alguém, chegar em alguém que você está paquerando e se sentir com 13 anos”, se diverte.

Não é só sobre a música brasileira que Mitchell demonstra conhecimento. A obra dele, que ainda inclui os elogiados e premiados longas Shortbus (2006) e Reencontrando a Felicidade (2010), é altamente permeada por questões relacionadas a aceitação sexual, solidão e o sentimento de não pertencimento. Desde que ele se assumiu publicamente gay, tem carregado a bandeira dos direitos dos homossexuais - e ele mostra saber muito sobre como anda o Brasil nestas questões, discorrendo com desenvoltura sobre nossas leis. “Cresci parcialmente na Europa e com socialistas. Acho que esses últimos anos de governo, com presidentes de passado socialista, ajudaram nas mudanças. Só de vocês terem projetos de leis em que a união civil com um estrangeiro dá direito à cidadania é algo avançado”, dispara.

“Em breve, casamento entre pessoas do mesmo sexo não será mais um grande problema em países livres. As coisas estão evoluindo rápido, só são mais vagarosas em lugares mais tradicionais e religiosos”, argumenta, fazendo a ressalva de que suas convicções não o tornam um antirreligioso. “Fui criado em escolas católicas. Eu entendo o poder destrutivo que religiões podem ter, mas também sou muito espiritual. Tenho uma tia que é freira e ela é super a favor da união homossexual, ela gostaria de me casar um dia.”

Mais projetos

Além de se dedicar à elaboração da continuação de Hedwig and the Angry Inch, três outros trabalhos mantêm ocupada a curiosa e poderosa mente de Mitchell. Está produzindo uma animação escrita e produzida pelo autor de graphic novels Dash Shaw; desenvolvendo uma adaptação do conto de Neil Gaiman How to Talk to Girls at Parties e, ainda, criando uma série de TV sobre “punk rockers versus alienígenas na Londres da década de 70”, que teve um piloto criado para a HBO. “Eles passaram o projeto, mas estamos negociando com outra emissora.”

John Cameron Mitchell no Brasil

24 de novembro, às 22h (show) e 0h (festa)

Garagem Gamboa - R. da Gamboa, 279 – Santo Cristo – Rio de Janeiro

R$ 140 (primeiro lote), R$ 160 (segundo lote) ou R$ 180 (terceiro lote) - (há meia entrada para estudantes e para quem levar um quilo de alimento não perecível)

Peça Hedwig e o Centímetro Enfurecido no Galpão Gamboa

25 de novembro, às 19h

Tradução e adaptação de Jonas Calmon Klabin e Evandro Mesquita, com Pierre Baitelli, Felipe Carvalhido e Eline Porto, Diego Andrade (bateria), Melvin Ribeiro (baixo), Fabrizio Iorio (teclado) e Pedro Nogueira (guitarra)

R$20 (R$10 para estudantes, idosos e moradores dos bairros da Zona Portuária que apresentarem comprovante de residência)