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Maldição do metal

Jon Schaffer, guitarrista e fundador do Iced Earth, fala ao site da Rolling Stone Brasil; banda faz primeiro show em São Paulo neste sábado, 6

Por Bruna Veloso Publicado em 06/02/2010, às 09h51

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O Iced Earth existe há mais de 20 anos, mas só agora faz sua primeira passagem pelo Brasil. Neste sábado, 6, Jon Schaffer, fundador, guitarrista e único integrante original, traz seus companheiros à Via Funchal, em São Paulo (o grupo passou por Belo Horizonte na quinta, 4, e chega à Curitiba no domingo, 7), para alegria dos fieis fãs da banda - que chegaram a promover um abaixo-assinado na internet, pela vinda do grupo ao país. Em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil, Schaffer falou sobre o comprometimento com a música e seus projetos paralelos, antes de declarar que considera o amor ao metal "uma maldição". Confira abaixo:

A demora para chegar à América Latina e o abaixo-assinado dos fãs brasileiros

"Eu não tinha ideia do abaixo-assinado! Adoraria ter ido há 15, 20 anos, mas é uma questão política: temos que ter um promoter disposto a nos levar, um representante de gravadora no local... Nós não sabemos o que acontece, do ponto de vista dos negócios, em lugares como a porção oriental da Europa, a Ásia. Não sabemos quantos discos vendemos. Estava conversando esses dias com uma pessoa do México, e lá eles têm tantos bootlegs que as vendas dos nossos discos são muito pequenas. Não que isso importe, mas importa para os agentes, porque eles checam esse tipo de coisa antes de levar uma banda para seu país."

Contato com os fãs via internet

"Outros caras da banda têm mais tempo livre, então eles ficam mais tempo no MySpace. Para mim é difícil, porque eu sou o cara que faz todo o trabalho. E tenho uma família, que também requer meu tempo. Estou me envolvendo mais com isso agora, por causa do [ projeto paralelo] Sons of Liberty, mas não é algo que eu tenha feito no passado - nunca tive uma página pessoal no MySpace ou no Facebook, por exemplo."

A importância do Iced Earth

"Eu fundei, direcionei, cuidei da banda como um bebê. É a minha vida há 20 anos. Eu diria que tenho uma ligação com o Iced Earth que é diferente dos outros caras da banda, porque eles apenas aparecem, fazem sua parte. Eles se divertem, mas para mim é um estilo de vida. Eu fundei a banda como um veículo de divulgação para as minhas músicas, e é o que ela sempre foi."

A fidelidade dos fãs no metal

"No metal, uma vez que você se torna fã, você segue fã para o resto de sua vida. Vejo gente que no início dos anos 90 assistia às apresentações do Iced Earth e agora eles levam seus filhos aos shows. Parece que quando você se conecta a esse tipo de música, isso fica ali por diversas gerações. É diferente da música pop, dessas coisas da moda - o público gosta de uma música em um ano, e no ano seguinte não mais. Metal é um modo de vida.

A mistura do metal a outros gêneros musicais

"Sabe, eu não escuto muita música, porque música é o meu trabalho. Há alguns anos, eu prestava mais atenção ao que estava acontecendo. Mas agora é mais uma questão de tempo. Por outro lado, não é algo que eu realmente queira, porque acredito que, como compositor, prestar tanta atenção a outros artistas é uma forma de poluir minha arte. Você pode se deixar influenciar. E para mim, o mais puro no processo de composição é se conectar com seu interior, sem se preocupar com o que o resto do mundo está fazendo."

O caminho para novas bandas

"Você tem que crescer como ser humano para se tornar um verdadeiro compositor. Não estou falando especificamente da letra ou dos acordes da guitarra, mas se você é realmente um compositor, tem que crescer como ser humano para que sua arte cresça também. Isso é mais importante do que ouvir outras bandas. E ouvir outras bandas, quando você é jovem, tem sim uma grande influência, especialmente se você é um daqueles caras obcecados por aprender cada nota. Eu não recomendo isso para jovens músicos, acho que é uma perda de tempo se você quer realmente produzir algo único - se é isso que você quer, não se preocupe em tentar tocar como eu, ou como Randy Rhoads, ou como Zakk Wylde. Você tem que descobrir quem você é, essa é a chave para um artista."

Novos trabalhos

"Talvez meu próximo trabalho seja com o Demons & Wizards [projeto do guitarrista ao lado de Hansi Kürsch, vocalista do Blind Guardian], mas ainda não tenho certeza. Estamos acertando os detalhes. Ainda estou conversando com Doug Scarratt, do Saxon, sobre trabalharmos juntos. Não sei quando vai acontecer, mas escrevemos muitas coisas quando saímos em turnê pela Europa [em 2009]. Foi a primeira vez que fiz isso [compor em turnê]. Ficávamos ensaiando a noite inteira no ônibus."

Família no metal

"Eu não quero que eles tenham esse estilo de vida. Quer dizer, minha família gosta da música, mas eu diria que não é um estilo de vida nem mesmo para alguns integrantes da banda. E no caso dos fãs, existe um momento em que eles têm de crescer, arrumar um emprego, começar uma família - mas ainda assim, eles se comprometem com a música. É algo espiritual: eles ainda sentem aquilo, mesmo que tenham de seguir em frente, assumir responsabilidades. Mas para mim... Eu sempre chamei de maldição. Quando Dave Mustaine me disse que ia parar com o Megadeth, em 2002, quando estávamos juntos em turnê, eu disse para os caras da banda: 'Esperem, ele vai voltar'. Uma vez que você tem a maldição, não dá para fugir. Eu não sei descrever, mas é um nível diferente de comprometimento. Outros integrantes podem sair do Megadeth, mas a banda sempre será a mesma porque ele é o cara. Você é escolhido para isso."