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Livro relata importância da cena paulistana na música brasileira; da tropicália ao pós-punk [ENTREVISTA]

No livro O Som de São Paulo, a musicalidade florescida na maior cidade da América do Sul é contada através de fatos e ilustrações

Itaici Brunetti Publicado em 21/08/2021, às 12h00

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Livro O Som de São Paulo (Foto: divulgação)
Livro O Som de São Paulo (Foto: divulgação)

São Paulo é conhecida por ser "a cidade cinza", mas sua musicalidade sempre foi repleta de cores vivas das mais variadas e inspiradoras. Durante décadas, a maior metrópole da América do Sul abrigou e fez surgir várias cenas, de diversos gêneros; do tropicalismo à psicodelia, da MPB ao glam rock, do punk ao pós-punk, da 'não wave' à vanguarda paulista. 

No livro O Som de São Paulo, da jornalista Fabiana Caso, e da ilustradora Talita Hoffmann, que acaba de ser lançado pela Ed. Terreno Estranho, a música e figuras que permearam a capital paulista entre os anos de 1967 a 1985 são relembrados através de histórias fundamentais para a construção da cena local e brasileira, que na época enfrentava a censura da ditadura militar. Para cada momento, ilustrações caprichadas foram criadas. 

Juntas, Fabiana e Talita reviveram aventuras e feitos de nomes como Antonio Peticov, Ronnie
Von, Os Mutantes, Rogerio Duprat, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom , Secos & Molhados, Edy Star, Clemente Nascimento (Inocentes), Kid Vinil, Tina Punk, Fabio Sampaio (Olho Seco), Júlio Barroso, As Mercenárias, Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e tantos outros de extrema importância para a semente cultural do país. 

E tem mais: O Som de São Paulo não só narra os passos desses personagens pela Terra da Garoa, como também exalta a relevância de locais essenciais da cena paulistana, como a casa noturna Madame Satã, o teatro Lira Paulistana, e as lojas de discos Baratos Afins, Wob Bop e Punk Rock Discos, assim como a Escola de Comunicações e Artes (ECA), na USP, celeiro de bandas de pós-punk e synthwave. 

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Bilíngue, escrito em português e traduzido para o inglês na mesma edição física - em um tipo de conteúdo espelhado, O Som de São Paulo também está sendo lançado no Reino Unido pela Rough Trade, gravadora londrina que tem no catálogo artistas como The Strokes, Belle & Sebastian, Alabama Shakes, Arcade Fire, The Libertines e mais. 

A Rolling Stone Brasil conversou com Fabiana Caso e Talita Hoffmann, que contaram mais sobre o processo de criação de O Som de São Paulo. Confira a entrevista: 

capa de o som de são paulo

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Rolling Stone Brasil: Como surgiu a ideia do livro O Som de São Paulo e qual a proposta?

Fabiana Caso: A proposta foi reunir cenas musicais e resgatar lugares que fazem conexão com a cidade, e mostrar como a cena floresceu em São Paulo. Porque muitos artistas não são nem paulistanos, mas eu queria apresentar como eles se encontraram aqui e como uma coisa desencadeou na outra. Os meus amigos estrangeiros, por exemplo, sempre me perguntavam sobre Os Mutantes, sobre a tropicália, a psicodelia, então, o livro surgiu como um fruto meu e da Talita para contar essas histórias. 

Há quanto tempo o livro vem sendo feito? 

Fabiana Caso: Foi uma longa jornada, viemos trabalhando no livro desde 2014. Mas, antes disso eu fiz uma pesquisa acadêmica sobre os paralelos do glam rock para uma universidade da Nova Zelândia e pesquisei sobre Secos & Molhados, Gérson Conrad e outros. Para o trabalho, pedi uma ilustração para a Talita e foi nesse momento em que começamos a parceria que resultou no O Som de São Paulo.

Talita Hoffmann: Nesse tempo, fizemos pesquisas paralelas. A Fabiana ia fazendo as pesquisas, escrevendo os textos e discutíamos o que iria entrar nas ilustrações. O projeto foi crescendo até que chegamos a um ponto em que o livro já estava muito bom de conteúdo e dava para ser publicado. 

Fabiana Caso (Foto: Alberto Oliveira)

Fabiana Caso (Foto: Alberto Oliveira)

Por que vocês resolveram abordar a época de 1967 a 1985? 

Fabiana Caso: Esse é um período fundamental para a música brasileira: do tropicalismo, da psicodelia, da jovem-guarda, da MPB. Foi a grande virada quando tudo se uniu. E o tropicalismo é fundamental em São Paulo. O gênero é tão sub-citado, mas foi em São Paulo que todos eles [osartistas] encontraram as influências, encontraram o Augusto de Campos [poeta] e o Rogério Duprat [compositor] que conectou toda essa história. É um momento que considero muito importante, em que o eixo da música se voltou para São Paulo por conta dos festivais e dos programas de TV.

E o livro vai até 1985 quando abordamos o fim da vanguarda paulista; quando um ciclo foi fechado com o rock entrando nas rádios, com o sucesso dos Titãs, etc. Mas, essa é uma faixa do tempo que considero importante. É um recorte de um tempo muito especial. 

O Som de São Paulo está sendo lançado no Reino Unido também. Qual é a importância de levar a história da cena musical criada em São Paulo para fora do país?

Fabiana Caso: A cena paulistana tem muito reconhecimento lá fora, como o punk rock, entre outros gêneros. Só para citar um exemplo: com o festival O Começo do Fim do Mundo, que aconteceu no Sesc Pompeia (em 1982), São Paulo virou a capital mundial do punk rock e o evento foi coberto pela imprensa do mundo todo desse nicho. Então, é muito importante mostrar o quanto de coisas interessantes existiu na cena musical de São Paulo. 

Talita Hoffmann: Sempre existiu uma vontade nossa de registrar tudo isso em um almanaque que servisse como entrada para "drogas mais pesadas" da música brasileira. A ideia inicial era traduzir para o inglês também e lançar lá fora, talvez em uma edição separada da em português, mas a edição bilíngue casou muito bem com a finalidade. 

Talita Hoffmann (ilustradora)

Talita Hoffmann (ilustradora)

Vocês chegaram a frequentar alguns dos lugares relatados no livro? Sentem saudade de algum?

Fabiana Caso: Olha, sinto mais a saudade do que eu não vivi, porque eu cresci ouvindo as lendas das casas de shows como Napalm, Carbono 14, e do Madame Satã da década de oitenta, que era quando tinha aquela onda dark, as performances nas gaiolas, etc. Então, eu cresci com essas lendas que retratamos em O Som de São Paulo

Talita Hoffmann: Eu sou de Porto Alegre e moro em São Paulo há dez anos. Então, me lembro da cidade ter essa coisa mítica: onde tudo acontece, onde tem a Galeria do Rock, onde está todo mundo. Eu cresci com esse fantasma de uma cena que estava acontecendo e eu não estava fazendo parte dela, mas que agora é possível vivenciar nas páginas no livro. 

O livro O Som de São Paulo pode ser adquirido no site da Editora Terreno Estranho


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