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Lollapalooza 2016: Florence canta com os fãs e Alabama Shakes retorna com show irrepreensível

Segundo dia do festival ainda teve apresentações de Noel Gallagher's High Flying Birds, Emicida, Twenty One Pilots e Planet Hemp, entre outros

Lucas Brêda/José Flavio Jr./Stella Rodrigues Publicado em 13/03/2016, às 23h53 - Atualizado em 16/03/2016, às 18h13

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Florence + the Machine no Lollapalooza 2016 - Lucas Guarnieri
Florence + the Machine no Lollapalooza 2016 - Lucas Guarnieri

Saiba o que aconteceu no primeiro dia do festival e veja fotos de todo o evento.

O segundo dia do Lollapalooza 2016 contrastou no clima – o sol forte foi substituído pela garoa –, mas manteve alguns dos problemas – como o vazamento de som do palco Perry no palco Skol – e das virtudes do primeiro: shows de atrações diversificadas, plateias participativas e um encerramento grandioso. Florence + the Machine foi a atração principal, com a dura nostalgia de Noel Gallagher, a alma do Alabama Shakes e o discurso afiado de Planet Hemp e Emicida também ganhando destaque.

Ao contrário da atração de horário e palco equivalentes do dia anterior, Eminem, Florence + the Machine não carrega um repertório tomado por hits radiofônicos (são apenas dois de grandes dimensões). A banda de Florence Welch, contudo, vive um momento muito mais favorável na carreira, sendo que o último disco (How Big How Blue How Beautiful, de 2015) teve quatro indicações ao Grammy e uma ao Mercury Prize – tradicional prêmio de melhor álbum britânico do ano –, além de estar presente com destaque em boa parte dos maiores festivais do mundo.

Apesar de consideravelmente cheio, o palco Skol do Autódromo de Interlagos teve menos público que o Eminem, que se apresentou nele no sábado, 12. Em parte porque o trabalho da cantora não tem o apelo universal do setlist do rapper, e ela direciona o show para os fãs e admiradores (que não são poucos e nem menos aficionados, o que se comprova pelo fato de que muitos deles ficaram acampados para vê-la desde o dia anterior).

A relação próxima de Florence com seu público deu o tom de duas das situações mais marcantes da apresentação. Na primeira, durante a performance de “Rabbit Heart”, a cantora desceu ao meio da plateia e passou a cantar praticamente colada no público. O telão exibiu Florence empurrando e ignorando um segurança que queria impedi-la de se aproximar das pessoas, o que gerou aplausos e gritos entusiasmados por todos os lados. Depois, já na penúltima faixa do setlist, “What Kind of Man” ela voltou ao correr no meio dos espectadores, sendo fortemente agarrada por alguns fãs.

Além da garoa – discreta, mas que perdurou até o fim da apresentação –, o vazamento de som do palco eletrônico foi um problema. Durante todos os shows no palco Skol, as batidas do palco Perry ressoavam ao fundo, principalmente no intervalo entre as canções. Com Florence, o vazamento foi ainda mais grave, aparentemente devido à sonoridade menos intensa da apresentação dela, afetando praticamente todo o lado direito da plateia. Em algumas faixas, o problema gerou singelos momentos em que o público cantando rivalizou em volume com o som vindo do palco.

“A próxima música estava ficando pronta da última vez que estive no Brasil”, disse a cantora, falando de quando compôs “How Big How Blue How Beautiful”, mesma época da apresentação dela no Rock in Rio 2013, no Rio de Janeiro. “Agora eu quero ser um grande céu azul para vocês”. Florence não deixou passar batida a admiração dela pelo país, tendo segurando uma bandeirabrasileira por diversas vezes e apresentado uma música a pedido dos fãs, “No Light, No Light”.

O repertório foi de “What The Water Gave Me” a “Drumming Song”, passando por “Ship to Wreck”, o sucesso “Shake it Out”, “Delilah”, “Sweet Nothing”, “Queen of Peace”, “Spectrum” e “You’ve Got the Love” (cover de Candi Staton, lançada originalmente nos anos 1980). Em “Dog Days Are Over”, ela disse: “Se abracem, digam que se amam, peguem qualquer coisa e balancem como se fosse uma bandeira, pulem o mais alto que puderem!”. O hit, apesar de batido, provou mais uma vez ser uma canção que parece ter sido feita para festivais e sua performance foi previsivelmente uma das mais bonitas de todo o evento.

Florence + the Machine no Lollapalooza 2016

Som da alma

O Alabama Shakes havia tocado no Lollapalooza Brasil em 2013, quando divulgava o disco de estreia, Boys & Girls (2012). Este ano, a banda de Brittany Howard retornou com maior destaque no line--up, depois de lançar o aclamado álbum Sound & Color. O crescimento do grupo foi sentido em cima do palco Onix, onde eles se apresentaram este domingo, 13, na tarde ventilada e de garoa no Autódromo de Interlagos, para uma plateia com praticamente todos os espaços ocupados.

É desonesto comparar a reação do público do Alabama Shakes com shows como o do Twenty One Pilots ou de Florence + The Machine, uma vez que as performances do grupo do Alabama tendem à imersão e contemplação, enquanto os outros evocam as danças, coros e aplausos das pessoas. Ainda assim, a plateia do Alabama Shakes esteve à altura da poderosa voz de Brittany Howard: pouco dispersa, concentrada e – mesmo a despeito das faixas mais contidas – participava.

Aparentando timidez e com poucas palavras, Brittany viveu uma tarde de estrela, por vezes largando a guitarra para cantar mais próxima aos fãs. Ela foi aclamada após cada um dos impressionantes desempenhos vocais. Em certa altura – depois de ter executado “Future People”, “Dunes”, “Rise to the Sun”, “Hang Loose” e “Shoegaze” –, ela disse: “Gosto tanto do Brasil que não consigo expressar. Então vou tocar essa música”. Em seguida, ela deu início, com apenas voz e guitarra, a “Miss You”, em um dos momentos mais emocionantes do dia.

Depois de “Be Mine” e “The Greatest”, o hit do primeiro álbum “Hold On” – que andou de fora dos setlists da banda – ganhou uma versão inspirada, abrindo caminho para o encerramento do show, com “You Ain’t Alone”, “Over My Head”, “Don’t Wanna Fight” (de performance quase épica, sendo a mais ovacionada pelo público) e “Gimme All Your Love”. Sem músicas dançantes, refrães ultra populares ou artifícios de palco, o Alabama Shakes levou o som da alma ao Lollapalooza Brasil 2016. E a recepção foi tão triunfante quanto a execução.

Alabama Shakes no Lollapalooza 2016

Dura nostalgia

Os fãs do Oasis certamente ficaram desolados quando Noel Gallagher anunciou que tocaria uma canção dedicada a eles e tascou “You Know We Can’t Go Back”. Apesar de ser um rock vigoroso e excitante do mais recente álbum do inglês (e seus High Flying Birds), o título da faixa diz tudo o que quem deseja ver os irmãos Gallagher reunidos novamente não quer ouvir: “Você sabe que não podemos voltar”. Que assim seja. Desde que o torcedor do Manchester City não deixe de relembrar clássicos e raridades de sua ex-banda em seus shows.

Foi o que ocorreu no Palco Skol nesta última noite de Lollapalooza 2016. Noel priorizou o material de seus dois discos pós-Oasis, mas recuperou cinco temas do grupo mais exitoso do britpop. Logo após “You Know We Can’t Go Back”, já puxou (ao violão!) “Champagne Supernova”, uma das três baladas do Oasis executadas na apresentação. As outras foram “Wonderwall”, em versão com ligeiras modificações na métrica, e “Don’t Look Back In Anger”, que encerrou a apresentação cinco minutos antes do previsto.

Aqueles que tratam Oasis como religião – e o autódromo tinha vários desses fiéis, a se considerar o número de rapazes com camisetas azuis do Manchester City – vibraram especialmente com “Listen Up”, lado B do single de “Cigarettes & Alcohol”, e “Digsy’s Dinner”, faixa curtinha do disco de estreia da banda. Essa última Noel dedicou a Florence Welch, que assumiria o palco na sequência. Mas, antes de passar o bastão, o cantor fez um comentário mais adequado à sua personalidade: “Fiquem agora com a Florence. Eu vou ver o Jungle, eles são ótimos”, em referência ao grupo que se apresentaria no Palco Axe minutos depois.

Noel Gallagher's High Flying Birds no Lollapalooza 2016

Críticas e homenagens

O show do Planet Hemp, que junto ao de Florence + the Machine ajudou a encerrar o Lollapalooza 2016, foi bastante marcado por críticas políticas, referências aos protestos que tomaram o país neste domingo, 13, e uma homenagem a Chico Science, uma das mentes por trás do manguebeat e integrante do Nação Zumbi que faria 50 anos na data, caso estivesse vivo.

Ocupando uma posição de bastante destaque no line-up, depois de assumir a vaga deixada por Snoop Dogg, que cancelou a performance no festival, o Planet, que voltou a se reunir e tem planos de gravar um disco, aproveitou o holofote e o fato de estar ao vivo na TV para defender algumas causas e, claro, fazer várias referências à maconha (incluindo as execuções de "Mary Jane", "Mantenha o Respeito" e "Queimando Tudo").

"Que dia é esse? Esquerda ou direita, quem vai roubar mais? Quem vai enganar?", provocou Marcelo D2 antes de iniciar "Futuro do País", cuja performance contou com a projeção da imagem de diversos políticos. O mesmo aconteceu em "A Culpa É de Quem?" e o discurso foi engrossando a cada interferência. A noite ainda teve homenagem a mais um aniversariante, João Gordo, que esteve no palco para cantar "Crise Geral" com o Planet.

Pop explosivo

O vocalista do duo pop Twenty One Pilots, Tyler Joseph, foi parar no topo do palco Skol durante show neste domingo, 13. Não foi nenhum efeito pirotécnico, mas sim uma amostra da animação do grupo, cujo líder escalou as grades sem nenhuma proteção e cantou – exibindo uma bandeira do Brasil – do topo do Lollapalooza para uma plateia agitada, que demonstrou simpatia instantânea pela dupla.

Entre as batidas já famosas de músicas como “Heavydirtysoul”, “Stressed Out”, “Lane Boy”, “Ride” e “Car Radio”, o Twenty One Pilots mostrou muita animação e pouco som. Isso porque apesar da qualidade técnica dos músicos, muito da sonoridade vinda do palco era gerada por reprodutores mecânicos. Apenas a bateria de Josh Dun foi sempre orgânica, enquanto Joseph revezava entre teclado, ukulele e baixo.

Além das performances seguras, a apresentação contou com um salto mortal de Dun – de cima do teclado para o chão –, uma performance em uma segunda bateria – posicionada bem em frente à plateia –, trocas de roupa, muitos pulos, corridas, gritos, máscaras e óculos coloridos e até um microfone pendurado de ponta cabeça. No fim, a considerável multidão reunida parecia conhecer razoavelmente as canções da dupla, que agradou muito mais aos olhos (pela festa e firulas) do que aos ouvidos (pelo som).

Twenty One Pilots no Lollapalooza 2016

Discurso afiado

O rapper paulistano Emicida priorizou a fatia mais contestadora do repertório dele durante o show que fez no palco Perry, na noite do segundo dia de Lollapalooza Brasil 2016. Ele entrou em cena com um pente preso nos cabelos enrolados – um símbolo da militância negra – e bradou logo de cara: “A favela chegou nessa porra!”. Uma das atrações nacionais em horário mais privilegiado, ele tocou simultaneamente ao Jungle – banda à qual Noel Gallagher, minutos antes, havia dito que gostaria de assistir – e reuniu mais gente que os britânicos.

O palco escuro e ameaçador ajudou o rapper a dar o recado, mas não tanto quanto a participação de MC Guimê. Ele apareceu desde a primeira canção, “Cabelo Arrepiado”, e ficou com Emicida em mais duas performances: “Gueto” – que ganhou inserção do “Rap da Felicidade” – e “País do Futebol”. O início foi um prenúncio da postura de Emicida no Lollapalooza: direto, duro e com a pretensão de ser uma das vozes das ruas no megafestival.

A performance de “Boa Esperança” ganhou introdução com um diálogo entre os personagens de Lázaro Ramos e Wagner Moura durante uma cena do filme Ó Paí, Ó. Emicida dedicou “Baiana” (parceria dele com Caetano Veloso) à população nordestina – “que construiu essa metrópole, [São Paulo]” – e resgatou algumas faixas antigas do repertório, como “Rinha (Já Ouviu Falar)?” e “Triunfo” (esta lançada em 2008). O rapper não deixou de lado o repertório base, que conta com “Hoje Cedo”, “Mufete”, “Zica, Vai Lá”, “Nóiz” e “Levanta e Anda”, entre outras.

Emicida no Lollapalooza 2016