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Max Cavalera preza a convivência em família, sempre incutindo nos descendentes o amor pela música pesada

Estefani Medeiros Publicado em 06/04/2016, às 16h35 - Atualizado às 18h54

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Galeria - Brasileiros estrangeiros - Max Cavalera  - Divulgação
Galeria - Brasileiros estrangeiros - Max Cavalera - Divulgação

Perto da hora do almoço na cidade norte-americana de Phoenix, onde mora com a mulher e empresária, Gloria, Max Cavalera atende ao telefone. A sala da casa está animada – dá para ouvir os quatro netos dele, com idade entre 4 e 12 anos, fazendo bagunça. “Eles ainda não sabem, mas vão ouvir metal. Essa é a minha missão”, gargalha. Com 30 anos de história na música, Max se orgulha de viver sob “as próprias regras” e do legado que está criando com o “amor pelo heavy metal”. “É um lance que tem gente que tem e tem gente que não tem”, tenta explicar. “Quem tem é radical, a gente é conectado com isso. E sempre gostei de pessoas que lançam o ‘foda-se’ e fazem o que amam.”

O plano para 2016 é tocar sem a obrigação de compor. Neste mês, ele desembarca no Brasil com o Soulfly para shows em Florianópolis, Rio de Janeiro, Fortaleza, Ribeirão Preto e São Paulo. Depois, seguirá com o Cavalera Conspiracy, banda que mantém ao lado do irmão, o baterista Igor, em turnê pela Europa e pelos Estados Unidos. Em solo norte-americano, os dois também farão shows tocando na íntegra o disco Roots, do Sepultura, que completa 20 anos em 2016. Para Max, é tudo pela música. “Não tem muita grana, né? Aqui ninguém é milionário, é um lance do amor pelo metal mesmo, manter vivo o que a gente faz.”

Aos 46 anos, estar na estrada ainda é o combustível da vida do cantor, compositor e guitarrista, que começou a carreira em meados dos anos 1980, com o Sepultura. “Estamos sem parar direto desde que saiu o mais recente álbum do Soulfly [Archangel, lançado em agosto de 2015]. Fizemos pela primeira vez uma turnê mexicana. Tocamos em Juarez, a cidade mais perigosa do mundo, e foi muito legal.” A apresentação realizada em Paris no último mês de fevereiro também ficou marcada na memória do artista. “O clima foi especial, [foi bom] ver que o pessoal está saindo e vendo show mesmo depois do que aconteceu”, afirma, relembrando o ataque terrorista à casa de shows Bataclan, em novembro de 2015. “Eles ficam felizes de ter bandas como a nossa tocando lá.”

À frente do Soulfly, Max já contabiliza dez álbuns e mais de uma centena de músicas, mais do que lançou em seus 12 anos com o Sepultura, sem contar projetos paralelos, como Nailbomb e Killer Be Killed. Apesar de passar boa parte do ano na estrada, se apresentando com qualquer que seja a empreitada da vez, Max tem hoje um ritmo mais tranquilo. Se na época em que fazia shows com o Sepultura tomava quatro copos de vodca antes de subir ao palco, hoje, com o Soulfly, o clima é saudável: o ônibus de turnê é abastecido com isotônicos, sucos e mel para cuidar da voz. Para passar o tempo, assiste a séries como Twin Peaks e Game of Thrones. Archangel, inclusive, conta com a música “Mother of Dragons”, homenagem ao épico de George R.R. Martin e dedicada a Gloria, já que tem como título o apelido dado a ela pelos filhos do casal – Richie, Zyon, Igor, Jason e Roxanne.

Parte da prole, que está envolvida no trabalho de Max desde a inclusão do som dos batimentos cardíacos de Zyon na introdução de “Refuse/Resist”, cresce musicalmente com a ajuda do pai. “A banda do Zyon e do Igor, o Lody Kong, e o Incite, do Richie, estão abrindo os shows do Soulfly. Então, saímos todos juntos em turnê, parece um circo”, brinca.

Agora em versão família – durante toda a conversa, os netos seguem brincando perto do avô –, Max continua movimentando uma legião de “camisas pretas”, expressão usada pela mãe dele, Vânia, para designar os primeiros fãs dos Cavalera. “A energia do público é como uma droga, é a sensação mais foda do mundo”, compara. “Ter plateia na Rússia, na França e na América Latina, onde a galera é completamente louca e existe agressividade de verdade, é o que me mantém querendo tocar.”

Leia abaixo mais trechos da entrevista com Max Cavalera.

A importância de Roots, disco do Sepultura que completa 20 anos em 2016

Roots é para o resto da vida. A gente nem entendia o que estava acontecendo. Era muita loucura, um mundo completamente diferente dentro do Brasil. O contato e a amizade que fizemos com os Xavantes, as pinturas e o que saiu daquilo também foi muito forte. Foi a primeira vez que uma tribo foi conectada com o heavy metal, a primeira experiência desse tipo. Era algo mais próximo do que o Paul Simon e o Peter Gabriel, mais ligados à world music, faziam.”

Os shows que fará com Igor Cavalera para comemorar o aniversário do disco

“Muita gente quer fazer parte do tributo. Seria legal ter uma banda de importância, que tenha a ver com a história do Roots, como o Napalm Death. Se der certo, a nossa ideia é estender as homenagens para o Arise (1991) e o Chaos AD (1993).”

O documentário sobre os 30 anos do Sepultura, dirigido por Otavio Juliano, e o fato de nem ele nem Igor estarem no filme

“Não assisti e não tenho muito contato. Nem sei se terminaram, não vi [o filme ainda não foi lançado]. (...) Tenho a ideia de fazer um documentário no futuro com o Sam Dunn, diretor do Global Metal. Queria voltar ao bairro onde crescemos, Santa Tereza, em Belo Horizonte, e depois a São Paulo, na Boca do Lixo, onde a gente morava. E até voltar à tribo Xavantes depois de 20 anos. Acho que tudo isso renderia, mas por enquanto são só ideias.”

A relação com o ídolo Lemmy Kilmister, vocalista do Motörhead, morto em dezembro de 2015

“A gente começou se odiando, em um bar em Londres. Lemmy estava jogando aquele joguinho da fruta que ele adorava e jogou um copo de uísque inteiro na minha cabeça. Voltei para a galera do Sepultura falando que tinha sido batizado pelo Lemmy, mas estava viajando no lance. Era mais tipo: ‘Sai daqui moleque, para de encher o saco’. Depois, fizemos uma sessão de fotos para a revista inglesa Kerrang e eu estava bêbado segurando uma garrafa, jogando vinho no Lemmy. Ele odiou.”

Max conta que pediu para tocar a cover de “Orgasmatron”, do Motörhead, em um show no qual estavam as duas bandas, e Lemmy não permitiu. “A gente entrou pelado no show deles e os caras odiaram. O Lemmy ficou bravo, chamou a Gloria no camarim, deu um esporraço nela. Falou: ‘Esse moleque não vai dar em nada’. Tocou o pau. Mas depois nos encontramos de novo, e quando o filho da Gloria morreu [Dana, em 1996, aos 21 anos], ele chegou em mim e falou sobre o assunto, disse que sentia muito e que estava tudo bem. Pra mim foi ótimo, não queria ficar do lado ruim do Lemmy.”

O fã Dave Grohl, que escreveu o prefácio da autobiografia de Max, My Bloody Roots – Toda a Verdade sobre a Maior Lenda do Heavy Metal Brasileiro

“O Dave é muito grande na música aqui [dos Estados Unidos]. Hoje em dia ele está se encontrando com o presidente, tocando com o Paul McCartney. Mas ele não se esquece das raízes metal dele.”

Kurt Cobain (que, antes dos shows do Nirvana no Brasil, em 1993, ligou para Max em busca de heroína) & Sepultura

“Antes de o Kurt morrer, o Nirvana estava pensando em levar o Sepultura e o Dead Kennedys para abrir os shows deles. Fico só imaginando o que teria acontecido, como teria sido essa turnê. É uma pena que o Kurt morreu e não rolou. Teria sido a coisa mais destruidora do mundo.”

Soulfly no Brasil

Florianópolis/SC

6 de abril, às 21h

John Bull - Av. Rendeiras, 1045 - Lagoa da Conceição

Entre R$25 e R$50

Rio de Janeiro/RJ

7 de abril, às 19h

Circo Voador - R. dos Arcos, s/n - Centro

Entre R$90 e R$200

Fortaleza/CE

8 de abril, às 19h

Siara Hall - Av. Washington Soares, 3199 - Edson Queiroz

Entre R$80 e R$115

Ribeirão Preto/SP

9 de abril, às 20h

Studio Kaiser - R. Mariana Junqueira, 33 - Centro

Entre R$50 e R$100

São Paulo/SP

10 de abril, às 18h30

Audio Club - Av. Francisco Matarazzo, 694 - Água Branca

Entre R$50 e R$250