Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Pelos Velhos Tempos

Em terceiro show no país, Metallica valoriza história pessoal e presenteia fãs eternos

Por Pablo Miyazawa Publicado em 01/02/2010, às 20h25

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
James Hetfield à frente do Metallica - Marcos Hermes
James Hetfield à frente do Metallica - Marcos Hermes

Para os otimistas, o Estádio do Morumbi estava apenas meio cheio no domingo, 31 de janeiro, noite do terceiro e derradeiro show do Metallica no Brasil. Certamente foi a possibilidade de chuva que espantou ainda mais quem não tinha ingresso à mão (eles ainda eram vendidos nas bilheterias e pelos cambistas desesperados). A chuva não veio, afinal, e a relativa folga na multidão permitiu a descida ao gramado do público que pagou ingresso de arquibancada. Em questão de instantes, a impressão de esvaziamento se dissipou. Sorte de quem estava na relativamente folgada área VIP.

Confira na galeria ao lado fotos do show realizado pelo Metallica no sábado, 30 de janeiro.

O público se espremia e ainda adentrava o recinto quando a introdução "The Ecstasy of Gold" ecoou. A entrada, de supetão, com "Creeping Death" (praxe do braço sul-americano da turnê), teve impacto fulminante. Há quase 30 anos, a presença do Metallica em qualquer palco é sinônimo de intensidade e alto volume: ensurdecedor não define bem o volume sonoro oferecido pelos quatro quarentões na primeira metade do espetáculo. Não foi possível notar se o volume foi reduzido ao longo do show, ou se nos acostumamos ao chacoalhar de entranhas a cada vez que Lars Ulrich disparava seus dois bumbos, música sim, música não.

Para quem buscava um show diversificado, domingo foi o melhor dia para presenciar a performance do quarteto. Do repertório de 18 músicas, nove são fixas e se repetiram nos oito shows realizados na América do Sul nas últimas duas semanas - "Seek & Destroy", "Creeping Death", "Master Of Puppets", "One", "Sad But True", "Nothing Else Matters", "Enter Sandman", "That Was Just Your Life" e "The End Of The Line". O restante é definido horas antes de cada apresentação, de acordo com o humor e o gosto dos integrantes. Neste 31 de janeiro, os quatro cavaleiros do apocalipse se sentiram especialmente nostálgicos, e foi exatamente este o teor do espetáculo proporcionado ao público fiel e trajado de preto desbotado dos pés ao pescoço.

Após a abertura, a relativamente rara "Ride the Lightning" (do disco homônimo, de 1984 - dizem, o favorito do vocalista James Hetfield) deu sinais de que a noite seria diferenciada. "Fuel" (de Reload, 1997), envolta em chamas, fez valer a pirotecnia de palco que a banda adora exibir em todas suas turnês recentes. "Sad But True" ganhou dedicatória à banda de abertura, Sepultura, assim como já havia ocorrido no sábado. O discurso de James Hetfield, aliás, nem parece calculado: experiente, o mais carismático frontman do rock pesado conhece os meandros da profissão como poucos. Do alto de seu 1,87 m, ele não desperdiça nenhuma palavra e convoca a massa com a mesma força com que entoa seus gritos de guerra mais consagrados.

"The Unforgiven" (do Álbum Preto, 1990) e "Welcome Home (Sanitarium)" (Master of Puppets, 1986), ambas também raras na turnê, abriram espaço para os isqueiros acesos - a chuva que castigou São Paulo por quase 40 dias, estranhamente, pediu arrego diante do poderio metálico dos rapazes de São Francisco. A épica "One" coincidiu com o surgimento do disco lunar prateado no horizonte, presenteando os milhares de espectadores privilegiados com um retrato mental para a eternidade. Já as quatro faixas de Death Magnetic não empolgaram tanto, talvez por ainda não terem caído no gosto do público médio (mentiu a maioria que afirmou que "sim" ao questionamento de Hetfield sobre quem possuía o disco. Medo, talvez?).

No retorno para o bis, um quase gostinho de surpresa com a introdução de "The Frayed Ends of Sanity", faixa obscura de ...And Justice for All (1988). Mas era cascata: inspirada, a banda disparou uma versão mais curta e enfurecida de "Helpless", cover do Diamond Head, que abre o EP de covers Garage Days Re-revisited (1987). Na sequência, mais um carinho aos fanáticos com uma versão na velocidade da luz de "Hit the Lights", primeira faixa composta por Hetfield e Ulrich no tão distante 1981. O final era previsível, mas o público comemorou mesmo assim: "Seek and Destroy", com direito à dança rodopiante do baixista Robert Trujillo e cantoria redentora dos "melhores fãs do mundo", nas palavras de Hetfield. Após duas horas, muitos decibéis e uma chuva de palhetas e baquetas (mas não de água), nenhum sobrevivente se sentia no direito de encontrar qualquer defeito.

Confira abaixo o setlist do show:

"Creeping Death"

"Ride The Lightning"

"Fuel"

"Sad But True"

"The Unforgiven"

"That Was Just Your Life"

"The End Of The Line"

"Welcome Home (Sanitarium)"

"Cyanide"

"My Apocalypse"

"One"

"Master Of Puppets"

"Fight Fire With Fire"

"Nothing Else Matters"

"Enter Sandman"

Bis:

"Helpless"

"Hit The Lights"

"Seek and Destroy"