Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Moda e música

Nicola Roberts, um quinto da maior banda de meninas do Reino Unido, o Girls Aloud, fala sobre seu disco solo e as ambições de estilo

Colleen Nika Publicado em 16/10/2011, às 10h01 - Atualizado às 14h50

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Nicola Roberts - Foto: AP
Nicola Roberts - Foto: AP

O Girls Aloud alcançou muito sucesso no Reino Unido, vendendo mais do que qualquer outra banda de meninas da história. Porém, continuam sendo um mistério, relativamente, nos Estados Unidos, onde somente alguns hits esparsos foram parar em algumas pistas de dança. Mas aí tem a Nicola Roberts, a integrante do Aloud de pele cor de gelo e cabelo cor de fogo: conhecida simultaneamente como o quinto do grupo mais polarizador e misterioso, ela se tornou a mais importante popstar cult britânica (em uma nação que se orgulha de produzir um glamour fora da curva). Durante o hiato delas, em 2009, a frontwoman Cheryl Cole se tornou uma juíza do X Factor, além de uma rainha solo do pop e figurinha carimbada nos tabloides. Enquanto isso, Roberts foi discreta, ficou trabalhando no que se tornaria seu recém-lançado disco solo, Cinderella's Eyes.

Produzido por inovadores importantes do pop, como Joseph Mount, do Metronomy, Diplo, Dimitri Tikovoi e Dragonette. Trata-se de um lançamento pop comercial com alma dissidente, que segue a linha do trabalho de Roberts no Girls Aloud. Cinderella's Eyes, um sucesso que entrou para o top 20, no Reino Unido, além de tudo recebeu ótimas resenhas dos críticos norte-americanos. Como Roisin Murphy e Robyn, antes dela, ela parece destinada a se tornar uma das estrelas obscuras do pop internacional.

Fora da música, ela também está indo bem. Sua aparência física chamativa – que já a tornou vítima de crianças chatas do playground e abuso por parte da mídia — é agora venerada como inspiradora pela comunidade da moda. Sua aparência de boneca do Ártico a diferencia das “mulheres perfeitas” loiras e bronzeadas do pop. Felizmente, a segurança de Roberts quanto à aparência também cresceu; ela está entrando no território de ícone da moda, com direito a designers a perseguindo e a capa do seu Cinderella's Eyes mostrando a cantora como a rainha de sua própria fantasia hiperestilizada. A Rolling Stone EUA falou com Roberts em Londres.

Quais foram as suas prioridades fazendo um disco solo?

Eu não queria ser massacrada por aquilo que chamamos de “pode” e “não pode” de como fazer um disco de pop. Eu queria que tudo transparecesse como eu me sentia ou o que eu queria criar. Electro, como um estilo, pode te dar bastante disso. Depois de ter trabalhado com [os produtores do Aloud] Xenomania, me acostumei com a ideia de quebrar as regras do pop, então, continuei com isso na minha experiência solo. Há algumas surpresas vocais nesse disco; não para mim, mas talvez, para meu público, que nunca ouviu toda a minha extensão antes. Há uns falsettos falsettos loucos; os vocais são erráticos, o que era algo que eu queria. Espelham a emoção que eu sentia quando estava cantando, eu deixei com que eles fizessem isso. Esse disco é assim, a ideia dele é ceder, se deixar levar e forçar as coisas para fora do seguro.

Como escolheu os colaboradores?

Queria fazer um disco único e sabia quem escolher com base nos sons que eles poderiam me dar. Isso veio depois de ouvir muita música sozinha. Os sons electro dramáticos e intensos que vieram do Joseph, do Metronomy: eu já era muito fã do trabalho dele, ele gostava do Aloud e eu sabia que ele era mais do que capaz de imaginar e criar um disco comigo. Para o que acabou se tornando meu primeiro single, "Beat of My Drum", deu para ouvir direitinho enquanto ele se formava na minha cabeça — conseguia ouvir os sons tocando, dava para perceber as camadas. Sendo fã de M.I.A de"Pon De Floor”, do Major Lazer, recorri ao Diplo e ele transformou em realidade.

Você gravou seus dois primeiros clipes, de "Beat of My Drum" e "Lucky Day", em Nova York e Los Angeles. O que você tirou da experiência?

Eu nunca tinha estado em Nova York. Acho os norte-americanos muito mais abertos, como pessoas. Eles sorriem e realmente parecem querer ajudar, quando precisa de alguma coisa, são pessoas mais carinhosas. Em Londres, é sempre tudo muito ocupado. Parece que está todo mundo em seu caminho, tentando chegar onde precisam ir. Tirando o clima quente, a experiência norte-americana foi ótima para mim!

Fora do contexto do Girls Aloud, o que os norte-americanos deveriam saber sobre você?

Não sou alguém que vai mastigar tudo para você e dizer “olha, esses são meus pontos de destaque, bla bla bla”. Dá vergonha ser assim. Essa é a oferta que está na mesa – eu adoro — você pode pegar ou largar. Tudo que posso dizer é que isso é o que sempre quis fazer. Eu realmente gosto de compor e apresentar minhas músicas. Fiz esse álbum com base nas minhas próprias experiências para dar para as pessoas algo com que elas possam se identificar. Significa muito para mim ter tido a oportunidade de fazer isso e ficar feliz com o resultado.

Dada a ótima resposta da crítica que recebeu dos dois lados do Atlântico, já considerou atravessar e investir no público norte-americano?

Se a oportunidade aparecesse, adoraria. É uma decisão enorme para se tomar e é uma que sinto que não sinto que seja eu que possa tomar, neste momento. Vamos ver o que acontece com esse disco, mas é algo que adoraria fazer.

Por que isso não foi algo que o Girls Aloud tentou, dada a enormidade de seu sucesso em casa?

Sinceramente? Nunca tivemos tempo. A forma como trabalhamos por oito anos era simplesmente “álbum, divulgação, turnê, repetir”. O hiato no qual estamos agora é a primeira vez que quebramos esse ciclo. Então, sair do Reino Unido simplesmente não se encaixava nisso, em um nível prático.

Como estão as coisas com a banda?

Não sei, no momento. Estamos planejando algo para nosso aniversário de dez anos, em 2012. Mas falta um ano para isso e simplesmente não cabe a mim dizer, ainda, o que vamos fazer. Mas estou bastante animada com a ideia.

O que acontece agora com você e Cinderella's Eyes?

Acabei de lançar o disco, então, vamos ver o que acontece. Há um terceiro single a caminho, talvez um quarto. E estou sempre trabalhando em material novo, sempre aprendendo. Quero melhorar em todos os níveis, inclusive começar a mexer com produção. As resenhas que tenho recebido até agora têm sido chocantes, simplesmente inacreditáveis. Você nunca pensa tão longe no futuro quando faz um disco, você entra no processo, termina e depois percebe que essa coisa está por aí, lançada para o público. E o que vem depois? Eu percebo que fiz algo bem diferente com esse disco, não é feito para todos. Ainda assim, as pessoas certas parecem estar “encontrando” o trabalho. Estou extremamente orgulhosa.

Além de estar andando a passos largos com sua nova direção musical, a comunidade da moda parece te adorar agora. Qual a sua posição no que diz respeito a estilo?

Se eu gosto, eu gosto. Talvez eu goste de coisas que sejam um pouco diferentes. Não dá para se forçar estilo, como todo o resto que faço, é baseado em como me sinto. Se for consciente demais, é uma mentira e falso. Sou bem ruim em mentir [risos]. Escolho tudo que visto, às vezes trabalho de perto com com um estilista para para procurar novas opções, mas eu tomo as decisões finais.

A capa do álbum faz uma declaração visual bastante vívida, partindo dos sapatos de Cinderella que você mesma desenhou. O que tudo isso quer passar sobre sua música?

O disco é colorido. Há músicas vermelhas, outras “azuis”, sabe? Eu queria que isso ficasse alinhado com a arte e as roupas. Queria trabalhar com a fotografia de forma que pulasse da página. Música electro salta: às vezes, quando ouve uma faixa pela primeira vez, escuta o sintetizador e a batida. Na segunda ouvida, surgem mais detalhes, dá para ouvir o sintetizador saltando na sua direção. Eu queria que esse ritmo estivesse presente nas imagens, na forma como imaginei. Tem muita coisa acontecendo com os sons nesse disco, era importante para mim que o lado visual fosse igualmente eclético, então, o ciclo se completaria. Esse é o pacote completo.

Você se identifica com algum designer específico?

De novo, não gosto de me prender a uma coisa ou pessoa, isso nunca. Há muitas marcas legais. Tenho a mente aberta o suficiente para ser fã de muitos designers e fazer alguns dos looks deles funcionarem para mim. Independente de o quão comerciais eles sejam ou não, respeito a maioria dos designers. Em Lodnres, tem o Henry Holland, uso muita coisa dele. O que mais? Amo a Topshop, amo Moschino, em Milão e eu amo Bora Aksu. A forma como Aksu faz decoração com paineis é bastante única e costura a coleção dele. Gosto quando alguém consegue manter um motivo coeso ao longo do tempo. Acredito nisso de colocar um selo em alguma coisa, criar sua marca registrada. Xenomania fez isso bem como o nosso som.

Você começou uma linha de maquiagem para peles muito brancas chamada Dainty Doll. Como está indo?

Eu acabei de terminar a coleção de primavera/verão, que sai no começo do ano que vem. Estou sempre trabalhando em ideias novas para ela – pode levar meses para decidir coisas sobre os produtos, depois mais cinco meses para que eles sejam feitos. Eu fico feliz que as pessoas tenham nos abraçado e apoiam a marca. Agora, esperamos conseguir aumentar nosso mercado internacional. Agora, dá para encontrar as coisas na Virgin e lojas British Airways.

Você pensa em como pode unir a marca com a campanha de Cinderella's Eyes?

Na verdade, não, Prefiro manter os projetos separados. Tem quer ser intenso da mesma forma, mas a linha relamente é uma coisa própria que precisa se manter sozinha. A palheta para Dainty Doll não tem necessariamente uma base em Cinderella's Eyes, mas ambos refletm meu senso de estética.

Você se tornou uma defensora de diversas causas sociais, especialmente as que são baseadas em pessoas sendo excluídas por causa de suas aparências. O que te motivou a se manifestar quanto a esses assuntos?

Estou cansada da sociedade ser tão calcada na aparência das pessoas. Dei uma entrevista, recentemente, para a BBC sobre os perigos de tomar sol, algo que eu fazia muito quando era mais nova. Era pálida, insegura e obcecada com isso de bronzeamento artificial. Quando me dei conta do quanto isso faz mal, superei isso e senti a necessidade de dizer algo a respeito disso na nossa cultura. Quando me conscientizei e tive conversas com o secretário da saúde, consegui colaborar na mudança de algumas leis – agora você tem que ter 18 anos para usar uma câmara de bronzeamento artificial. Eu até fiz um discurso no parlamento, o que foi bizarro e assustador. Nenhum homem parlamentar de terno vai conseguir se identificar com os perigos que uma garota jovem encara. De uma forma singela, queria dar uma voz a elas.

Você também tem sido uma defensora dos que sofrem de bullying. Um dos destaques do album, "Sticks + Stones", é um relato impressionante de algumas das coisas pelas quais você passou.

Bullying saiu de controle. É algo que não precisa acontecer, não sei porque ainda existe. Escrevi aquela música para discutir o quão sozinha você se sente quando passa por isso. Alguém de qualquer idade, com qualquer passado, pode se identificar com isso e pode ter sido uma vítima disso. Em um nível social, não estamos fazendo um trabalho bom o suficiente para impede-lo. As pessoas ainda estão assustadas, com medo de irem para a escola, crianças estão ameaçando se matar. É nojento que isso perdure. Então, novamente, estou dando voz a uma causa na esperança de gerar uma mudança.

A reação positva a esse álbum deu a sensação de uma vingança para você?

Tento não ver as coisas assim. Não tenho a necessidade de sentir poder. O processo, o risco, a jornada pela qual passei para fazer esse disco me deixaram mais feliz do que qualquer outra coisa.