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“A mulher do fim do mundo é aquela que tem alma”, diz Elza Soares

A cantora carioca comemora o lançamento em vinil de A Mulher do Fim do Mundo com shows em São Paulo

Gabriel Nunes Publicado em 27/10/2016, às 18h58 - Atualizado em 28/10/2016, às 13h53

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Elza Soares - Divulgação
Elza Soares - Divulgação

São Paulo, 22 de maio de 2016. Virada Cultural. Sob a pálida iluminação das luzes de vapor de sódio ressoava o burburinho incompreensível de uma densa multidão. Sem esconder a inquietação, alguns empinavam os narizes e erguiam as cabeças para observar a movimentação em cima do palco instalado na Avenida São João. Outros, um pouco mais discretos, lançavam olhares furtivos à sua volta, entre um cigarro e outro.

Os murmúrios então se converteram em um urro homogêneo de aprovação. Os aplausos farfalhavam sonoros, como folhas carregadas pelo vento. Elza Soares subiu ao palco. Sentada sobre uma vistosa poltrona cromada, a carioca carregava a imponência estrondosa de uma personagem de Fritz Lang. As pequenas mãos carnudas, de unhas compridas e negras, seguravam despreocupadamente o microfone rente à boca. “Eu quero é grito, mais barulho nesta cidade”, ela disse. “Se não fizer muito barulho ninguém acorda.”

O show na Virada Cultural paulistana, gratuito, na rua, simboliza o "aqui e agora" de Elza: aos 79 anos – ou 75, dependendo da fonte, já que ela não revela a idade – ela desfruta do sucesso do 34º disco da carreira. Gravado na centenária subestação Riachuelo (atual Red Bull Station), A Mulher do Fim do Mundo cravou o início da parceria entre a veterana e alguns dos principais nomes da nova cena musical paulistana. “Não conhecia nenhuma música deles”, diz quando questionada se antes das gravações já havia tido contato com o Passo Torto, grupo do qual fazem parte Rodrigo Campos, Kiko Dinucci e Romulo Fróes – colaboradores do mais recente álbum dela, sendo este último o autor da faixa-título ao lado de Alice Coutinho. Apesar do estranhamento inicial, Elza não titubeia em responder se deseja dilatar a parceria para um possível próximo álbum: “Espero que sim, espero a Deus que sim”, enfatiza.

Com produção de Guilherme Kastrup, o disco começou a ser gestado durante um show de Cacá Machado. Por meio de um extenso trabalho de síntese – o qual Elza resume com profundo desembaraço – foram selecionadas somente 10 das 50 canções pensadas para o álbum. “Eles vieram aqui em casa, ficamos sentados no chão da sala e escolhemos o repertório.” Por meio dessa peneiração do que deveria entrar ou não em A Mulher do Fim do Mundo nasceu aquele que a cantora considera, resoluta, o seu disco favorito. “Gosto muito dele por ser um trabalho só de inéditas. O inédito é uma coisa muito séria porque nem todo mundo aceita bem o diferente”, declara. “Ele prova que cantar ainda é remédio bom.”

Embora Elza não tivesse na época a convicção de que o álbum ganharia tamanha repercussão, o disco cresceu nos ouvidos das pessoas como uma espécie de manifesto noise-samba contra um universo em constante desencanto. “A gente trabalhou muito, mas não esperava uma repercussão assim”. Entremeando o poético ao politizado, a cantora coloca em pauta temas como violência de gênero (“Maria da Vila Matilde”), degradação dos seres humanos frente à urbanização desenfreada (“O Canal”), transexualidade e dependência química (“Benedita”) sem as lentes da estigmatização e do preconceito. “Nunca tive medo de defender aquilo que acredito. Porque é isso que é ser mulher: defender o que pensa. Acho que a mulher do fim do mundo é a mulher que tem alma.”

Pouco mais de cinco meses após o show na Virada Cultural de São Paulo, Elza comemora o lançamento em vinil de A Mulher do Fim do Mundo (2015) com três noites de shows no Sesc Pinheiros, na capital paulista. As apresentações acontecem entre os dias 27 e 29 de outubro – quinta e sábado, respectivamente – sendo que na quinta e na sexta, a carioca é acompanhada sobre o palco pela araraquarense Liniker. Prensado pela nova fábrica Vinil Brasil, o 34º álbum da intérprete chega ao mercado em 180g pelo Selo Circus e com encadernação desenvolvida pela ex-diretora de arte da Cosac Naify, Elaine Ramos. “É mais charmoso, né?”, brinca.

Elza Soares – Lançamento do vinil de A Mulher do Fim do Mundo

27, 28 e 29 de outubro (quinta-feira a sábado), às 21h

Sesc Pinheiros (Teatro Paulo Autran) – R. Pais Leme, 195 – Pinheiros, São Paulo

Ingressos entre R$ 18,00 (credencial plena do Sesc), R$ 30,00 (meia entrada) e R$ 60,00 (inteira)