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Música pé no chão

Após estrear em disco por aqui, Michael Franti vem ao Brasil para o SWU

Stella Rodrigues Publicado em 28/10/2011, às 20h17 - Atualizado às 20h20

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Michael Franti - Foto: Divulgação
Michael Franti - Foto: Divulgação

Michael Franti já veio algumas vezes ao Brasil - participou de encontros com o grupo Afroreggae, informou-se a respeito de causas ambientais locais (assunto que sempre acompanha de perto) e até rodou um clipe, o despretensioso “Say Hey (I Love You)”, que é composto basicamente de gente cantando por aí (assista abaixo). Enfim, não é nenhum estranho ao país do futebol. Contudo, mesmo sendo essencialmente um artista sonoro, é recente a primeira entrada de um trabalho musical dele nas lojas de disco brasileiras. A estreia no nosso mercado fonográfico foi só neste segundo semestre e, no próximo mês, ele desembarca por aqui novamente para participar do festival SWU, em Paulínia, São Paulo, no dia 12 de novembro, com a banda Spearhead.

O californiano de 45 anos, aliás, é cheio de peculiaridades no que diz respeito a muitas coisas. Basta dar uma busca na internet para perceber que o que capta mesmo a atenção das pessoas não é o que se passa na engajada e ocupada cabeça de Franti, mas sim nos pés dele, sempre desprovidos de sapatos. “As pessoas me olham torto, olham mesmo", o artista explica, em entrevista à Rolling Stone Brasil. "E às vezes me machuco, me corto. Mas comecei com isso porque fui para muitos lugares onde as pessoas não podiam pagar por sapatos. Então, tirava o meu para andar com eles. Sempre riam de mim, porque meus pés eram muito macios e sensíveis. Assim, decidi ficar andando descalço alguns dias, para me acostumar e ver como é isso de não poder usar sapatos. E agora isso já dura 11 anos. Carrego Havainas, é o único tipo de sapato que tenho. Isso para o caso de ir a um restaurante ou aeroporto, ocasiões em que não dá para ficar sem sapato.”

Talvez o fato de Franti andar descalço chame toda essa atenção porque, diferentemente de Joss Stone (outra cantora conhecida por gostar de manter as solas dos pés em contato direto com o chão), isso representa sua personalidade pública, em que artista e ativista se misturam homogeneamente. Desde que foi convidado para se apresentar no SWU – que ele só foi saber que é um festival ligado à questões ambientais posteriormente - Franti foi à internet fazer a lição de casa e se informar sobre problemas que afligem o país atualmente. “Ontem comecei a ler sobre [a usina hidrelétrica de] Belo Monte. O Rio Amazonas é o mais famoso do mundo. Conforme vou lendo, fico chocado. Deve haver uma outra maneira de suprir as necessidades energéticas das pessoas. Eu sinto que deve haver uma solução melhor.”

O jeito afável e manso de Franti ao falar sobre a busca pelo equilíbrio ambiental pode até lembrar a personagem Pollyanna, do livro homônimo. Otimista, fala em construir um mundo melhor com a simplicidade de quem faz planos de dar um mergulho no mar no fim de semana. Porém, o amplo histórico de ativismo dele nessa área faz lembrar que ele não é só alguém com um discurso bonito. Envolvido com questões de paz, de mudanças climáticas, com a recuperação depois do terremoto seguido de tsunami no Japão, ele realizou em 2005 o documentário I Know I’m Not Alone, sobre sua missão de paz no Oriente Médio. “Apoio muitas causas, mas, no fundo, todas elas são ligadas a uma crença, a de que temos que passar nosso tempos construindo pontes, não cercas. Em vez de dividir as pessoas, achar maneiras de nos conectarmos”, argumenta.

Claro, ao cobrar do mundo uma mudança de atitude, começa cobrando dentro de casa. “Decidimos parar de usar todo tipo de sacolas plásticas na minha família. Na turnê, notamos que usávamos muitas garrafas de plástico, eram quase 20 mil garrafas por ano. Quando fiz as contas, decidimos dar uma garrafa reutilizável para cada um.”

O futuro pode guardar ainda outro filme. As câmeras registram tudo que acontece com Franti, onde quer que ele esteja. “Gravamos agora no Haiti. Em todo lugar que vou conheço muita gente incrível e tudo é documentado. Estou compondo um novo álbum. Todas as canções que estou fazendo partem de estímulos visuais que tive nessas viagens. Talvez seja o caso de transformar em um documentário para lançar junto ao disco, mas não tem nenhum plano oficial.”

Quem for ao SWU e cruzar com um sujeito sorridente – mas que certamente irá fechar a cara caso veja o público forrando o chão de embalagens plásticas – pode contar que se trata de Franti dando uma voltinha. “Toda vez que toco em um festival, vou como fã também. Sempre passeio. Gosto de olhar para coisas novas, nunca vistas antes. Eu nem olho o line-up, a agenda, eu só ando a esmo. Foi assim que descobri John Butler Trio, Ben Harper, The Fugees, alguns dos meus artistas favoritos.”

The Sound of Sunshine

O disco lançado no Brasil pela EMI neste semestre é colorido e ensolarado feito um desenho de criança. O nome já dá o tom: “comecei com uma ideia de ‘se o sol fizesse um som, que tipo de som faria?’. Porque o sol sempre me faz ficar feliz”. Curiosamente, o disco - que conta com a participação de artistas que “compartilham minha vibe”, como o cantor Macaco (“meu irmão nascido de outra mãe”) - foi composto, basicamente, a partir de uma cama de hospital, em 2009. “Meu apêndice explodiu enquanto eu estava em turnê. Fiquei muito doente, lutando contra a infecção. E todo dia estava tão feliz de estar vivo que passei a compor. Foi um período triste e cheio de emoções, queria compor coisas que me deixassem feliz e positivo.”