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Na mesma data que viu o pai ser baleado 18 anos antes, Coruja BC1 lança disco Psicodelic

Disco que trata de saúde mental e ansiedade traz participações de Djonga, Zudizilla, Késia Estácio, entre outros

Pedro Antunes Publicado em 24/05/2019, às 00h40

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Rapper Coruja BC1 (Foto: Pedro Gomes)
Rapper Coruja BC1 (Foto: Pedro Gomes)

Coruja BC1 ainda era Gustavo Vinicius quando, aos seis anos de idade, viu o pai ser baleado na sua frente e cair estirado na rua. Ele sobreviveu aos seis tiros que recebeu, mas a violência eventualmente cobrou seu preço e a família decidiu, para evitá-la, deixar Osasco, onde viviam, na região metropolitana de São Paulo, e se mudar para Bauru, cidade a 330 km da capital. Foi a mãe de Gustavo que convenceu a todos para que vivessem alguns anos distante do cotidiano da época.

Foi no interior que Gustavo passou a ser Coruja, de fato, quando passou a se entender como MC, como rimador, como músico. Agora, aos 24 anos (o aniversário será no dia 3 de junho), ele ressignifica a data, o 23 de maio. Foi nesse dia que Coruja BC1 fez dos seus fantasmas, da sua consciência sobre a importância da saúde mental e controle da ansiedade, um novo disco, o poderoso Psicodelic.

"Respira, Gustavo", é a primeira frase ouvida em Psicodelic, na canção "Lágrimas de Odé". "Respira, respira", a voz chega com eco, como se repetida algumas outras centenas de vezes, uma mensagem dita pelo pelo rapper para si.

Psicodelic não era para existir, não estava nos planos, mas aconteceu, se impôs, como conta Coruja à Rolling Stone Brasil. Foi um processo diferente de No Dia dos Nossos, ou NDDN, o álbum lançado pelo rapper em 2017, na época pelo selo Laboratório Fantasma, de Emicida e Fióti.

"Aquele disco [de estreia] foi um álbum gravado em 2015, mas só lançado em 2017", conta Coruja, lembrando-se de como custou para que o álbum saísse. Na época do lançamento, o rapper mostrava como vivia intensidade da chegada do álbum. "É importante começar bem a minha discografia", ele dizia, na ocasião.

E talvez Coruja tenha vivido, até então, tudo com ansiedade. NDDN era um disco, mas também um reflexo de um artista de talento na rima, no flow, e que queria provar tudo o que era capaz de fazer.

E, como tudo na vida, em alguns momentos, é preciso parar e respirar. Coruja passou por um período desse, ainda em meados de 2018, quando Psicodeilc começou a aparecer para ele. Numa outra entrevista à Rolling Stone Brasil, ele falou sobre passar por um processo de tratar da própria depressão.

"Eu estava com alguns problemas, depressão entre outras coisas, decidi me afastar um pouco de tudo pra cuidar da minha saúde mental, foi nessa época que me veio o disco, vontade de desabafar coisas que nunca falei, e também estudar mais pra fazer um álbum. É um trabalho totalmente diferente do que eu já fiz ou vejo outras pessoas fazerem", ele disse, em abril, quando lançava o clipe do single "Éramos Tipo Funk", um trap romântico de primeira.

Ele continua: "Eu acho que NDDN era chegada, sabe? Era o primeiro pé no chão, já o Psicodelic são os dois pés no chão. Um disco que representa minha expansão e minha maturidade como músico. Percebo que é um disco mais maduro, no qual eu também estou mais maduro e confiante sobre as minhas questões."

O que Coruja faz em Psicodelic é quebrar algumas fórmulas. Se ele ainda rima em cima de um boom bap, mas também se aproxima da estética sonora do trap, com os vocais modificados e os graves cadenciados, e até do samba, com a interessante "Camisa 12".

Psicodelic, para Coruja, é um álbum sobre saúde mental. A dele, a nossa também. É um disco sobre 2019 porque a depressão é o mal do século 21, porque a ansiedade nos ataca desde a adolescência, porque as redes sociais significam conexão, mas também pressão por aceitação e padronização de gostos por likes.

O álbum tem a mixagem de WillsBife. Nas bases, Coruja entrega seu flow pelos caminhos criados por do próprio WillsBife, OgBeatzz, Dj Nyack, Canela, Melvin Santhana, Deryck Cabrera, Skeeter e Grou. Nas participações, ele rima ao lado de Djonga (em "Gu$tavo$"), Zudizilla (em "Um Acorde"), Késia Estácio ("Camisa 12), Diomedes Chinaski ("Ogun"), e Boy Killa, Akill Mabili e Obigo (os três em “Kimpa Vita”).

Com uma narrativa complexa, entre canções gritadas, como "Fogo", e as calmarias, com a já citada "Éramos Tipo Funk", Coruja escancara fantasmas que ele encontrou pelo caminho, que o fizeram a chegar em um lugar sombrio, escuro e solitário. O rapper conseguiu deixar esse local e, agora, quer tratar sobre ele também.

O fato de Psicodelic ser lançado no mesmo dia que a vida de Coruja mudou, quando quase perdeu o pai para a violência urbana, ressignifica o trauma. De muitas maneiras, o disco faz exatamente o mesmo caminho, para outras questões ainda em aberto.

Ele não faz nada com pressa: Psicodelic é um disco que entrega mais a cada audição, o que rompe com a convenção de que ninguém mais ouve um álbum inteiro, do começo ao fim. Coruja gosta do desafio: "Lançar um disco, na época das playlists e dos singles, também é ir na contramão", defente Coruja, por fim. É tudo um movimento de ressignificar os conceitos, afinal.

Respira, Gustavo, respira. 

Ouça "Psicodelic", do Coruja BC1: 


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