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Felipe Neto comanda a primeira série brasileira da Netflix

“Não tem nada pior do que fazer um conteúdo de entretenimento que tenha que seguir a ética, moral e bons costumes, principalmente se for humor”, afirma o artista

Stella Rodrigues Publicado em 09/08/2013, às 08h33 - Atualizado às 12h32

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A Toca - Divulgação
A Toca - Divulgação

Estreou nesta sexta, 9, na Netflix, a primeira parceria exclusiva do serviço de streaming com uma produção brasileira. A Toca, que já estava sendo realizada pela produtora Parafernalha, do vlogger e comediante Felipe Neto, ganhou mais três episódios de meia hora inéditos que debutaram somente na Netflix.

O programa mostra por meio de esquetes de humor os desafios que a produtora encara para realizar suas produções, revelando que Neto mais uma vez quis apostar na metalinguagem do humor.

“Eu gosto muito da linguagem meta”, diz ele em entrevista à Rolling Stone Brasil. “Acho sempre interessante quando você quebra a quarta parede e faz brincadeira com quem está assistindo. É uma coisa bem da internet, há muita ligação com o público, uma ligação diferente de todo o resto do entretenimento. Isso acaba entrando em tudo que eu faço”, afirma Neto. “Achamos que esse modelo seria bom para se comunicar com o público que já acompanhava a gente na internet. É um público que, além de assistir, gosta de saber que a gente sabe que ele está assistindo.”

A comparação com The Office parte do próprio humorista, que logo se apressa em apontar também as diferenças entre as produções brasileira e britânica/ norte-americana. “A gente vai muito para o escritório, vai para a rua, mostra como aconteceu algo em uma filmagem. Sabíamos que tinha que sair do The Office para ter uma identidade própria.”

A estrutura de cada episódio é bem definida. “Decidimos que cada episódio teria meio que um tema. Mas não uma coisa muito clara, apenas algo de base para criar o roteiro. No primeiro, o assunto é ‘apresentações’”, revela. “O segundo, mais polêmico, é de questões politicamente incorretas – racismo, xenofobia, abordamos vários preconceitos com bom humor, mas pondo o dedo na ferida. O terceiro é bastidores mesmo. Gira em torno da gravação da esquete, em que tudo dá errado.”

A parceria com a Netflix é sintomática para os dois lados. Uma produção exclusiva do Brasil, maior mercado da empresa dentro da América Latina, está nos planos faz tempo. E desde o início a empresa notou o interesse dos brasileiros pela comédia em geral e pelo stand-up, algo que legitima a escolha pela produção de Felipe Neto como uma aposta segura – ainda mais considerando que ele é o primeiro brasileiro a atingir um milhão de seguidores com seu canal próprio no YouTube (Neto também é dono do segundo lugar no Brasil com o canal da Parafernalha). Vale explicar, contudo, que não se trata de uma produção exclusiva nos moldes do que foi feito com Orange is the New Black ou House of Cards, que tiveram estreias mundiais e foram promovidas em diversos países. A Toca é uma produção voltada unicamente para o mercado brasileiro.

Por outro lado, Neto, que nasceu na internet e mesmo depois de ir para a televisão continuou investindo no online, parece ter encontrado o lar certo, já que esta é a forma mais próxima de casamento entre as duas mídias.

“Pensamos muito antes de aceitar, porque é um trabalho novo. Mas uma coisa que nos fez aceitar foi a promessa de que eles não fariam as restrições que a televisão faz. Isso foi o mais encantador. Posso te garantir que A Toca jamais passaria na TV brasileira”, ele afirma, mencionando as questões do politicamente correto e comparando os panoramas de humor daqui e dos Estados Unidos. Ele cita como exemplo a animação norte-americana Family Guy. “Humor não tem obrigação de ser educativo, não tem obrigação de fazer a pessoa criar consciência política e social. Tem obrigação de entreter, divertir.”

“Não tem nada pior do que fazer um conteúdo de entretenimento que tenha que seguir a ética, moral e bons costumes, principalmente se for humor”, continua Neto, que crê que enquanto a televisão brasileira não se reestruturar nesse sentido, continuará perdendo o público jovem para a internet. “Ou a TV brasileira muda radicalmente ou o futuro dela será muito incerto.”

Assista ao trailer de A Toca.