Conhecida por apresentações vigorosas, banda tocou por quase duas horas na capital, mesclando o repertório do disco High Violet a sucessos antigos
Atualizada às 22h59
O show do The National é um bom exemplo do quanto uma banda pode ser maior ao vivo que em seus discos. Se nos álbuns o grupo passa uma imagem quase fria, no palco os cinco integrantes são mais do que "corretos": o modo apaixonado de cantar do vocalista Matt Berninger e a competência instrumental de seus companheiros, igualmente entretidos em entregar uma boa apresentação, fazem valer o ingresso. Para sorte dos paulistanos, a banda agendou uma data em São Paulo na noite desta terça, 5, depois de passar pelo Lollapalooza Chile. Foi a segunda passagem do quinteto, nascido no estado de Ohio (Estados Unidos), pelo Brasil - a primeira foi em 2008, no extinto Tim Festival.
Com 110 minutos de duração, o show passeou pelos três últimos trabalhos de estúdio da banda (são cinco, no total). O elogiado High Violet, eleito pela Rolling Stone Brasil o quinto melhor disco internacional de 2010, foi mostrado quase na íntegra: das 11 faixas da tracklist original, apenas "Lemonworld" foi descartada.
Veja a lista dos dez melhores álbuns internacionais de 2010, eleitos pela Rolling Stone Brasil.
O Citibank Hall, casa de espetáculos que abrigou a banda na capital paulista, estava longe da lotação máxima - ainda assim, Matt manteve sua característica intensidade no palco, cantando agarrado ao pedestal, andando em círculos em frente à bateria e, muitas vezes, gritando, algo não tão comum nos discos. Todo de preto e bebendo o que parecia ser vinho, ele surgiu diante do público às 21h50, com cerca de 20 minutos de atraso, mostrando "Runaway".
As luzes - ora claras, vindas do fundo palco, ora escuras, jogadas diretamente à frente da banda (como em "Mistaken for Strangers", a terceira da noite) - foram essenciais na composição do show, ainda mais com os telões desligados.
Matt falou diretamente à plateia lá pelo meio da apresentação, para introduzir "Conversation 16". "Essa música é sobre pessoas que se amam tanto, que acabam se comendo [aqui, no sentido de engolir]", explicou o vocalista sobre uma das mais belas composições de High Violet.
Formada também pelos irmãos gêmeos Aaron e Bryce Dessner, na maior parte do tempo nas guitarras (Aaron pega o baixo em alguns momentos, e Bryce ajuda nos teclados), e pelos também irmãos Bryan Devendorf (bateria) e Scott Devendorf (baixo), ao vivo a banda ainda ganha o reforço de um trompetista e um trombonista. Toda a atmosfera sombria, melancólica e densa das versões de estúdio é transportada para o palco com maestria, com o ingrediente extra do vigor com que cada um se dedica a seu instrumento.
"Abel", uma das músicas mais ruidosas do repertório do National, teve Matt gastando sua voz de barítono em berros. Pouco depois, o vocalista também agradeceu os gritos do público. "Vocês são muito mais barulhentos que os norte-americanos. Parece até que somos o Kings of Leon", brincou.
Ao fim do hit "Fake Empire", seguido por palmas da plateia, depois que Bryce e Aaron se aproximaram do público com suas guitarras levantadas, a banda deixou o palco. O bis, dois minutos depois, foi a melhor parte da noite. Aaron introduziu "Wasp Nest", do EP Cherry Tree (2004) como "a música preferida da minha mãe" - em seguida, Matt agradeceu novamente, de forma bem-humorada. "Obrigado, geralmente somos atingidos por camisinhas, fraldas, luvas cirúrgicas... Pensei em mais umas sete coisas nojentas, mas não vou falar", disse o cantor, que atualmente, como seus colegas de banda, reside em Nova York.
O final teve Matt descendo para o meio do público em uma versão febril de "Mr. November"; e, em seguida, o vocalista em cima da grade que o separava dos espectadores, cantando "Terrible Love". Quando os fãs pensaram que não havia melhor forma de terminar a apresentação, a banda emendou "About Today". Em seguida, apenas ao som de violões e com Matt cantando sem microfone, muitos ajudaram a cantar "Vanderlyle Crybaby Geeks". Ainda que o final tenha sido irrepreensível, ficou a imagem de algumas pessoas desagradáveis, que gritaram irritantemente no início da faixa.