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Neil Portnow, presidente da Academia de Gravação, fala com exclusividade a respeito do Grammy, que acontece neste domingo, 10

Portnow comenta a reação do empresário de Justin Bieber ao fato do cantor não ter indicações, a morte de Whitney Houston às vésperas da cerimônia de 2012 e outros imprevistos, além do papel atual da Academia e pirataria

Stella Rodrigues Publicado em 08/02/2013, às 20h04 - Atualizado às 21h08

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Neil Portnow - Divulgação
Neil Portnow - Divulgação

Esta semana, Neil Portnow, presidente da Academia Nacional de Gravação, Artes e Ciência, participou de uma mesa redonda para falar do Grammy com jornalistas da América Latina, sendo que a Rolling Stone Brasil era o único veículo brasileiro. O Grammy realiza sua cerimônia de 2013 neste domingo, 10, em Los Angeles (com transmissão no Brasil pelo canal pago TNT a partir das 23h). Entre outros assuntos, Portnow comentou diplomaticamente a reação do empresário de Justin Bieber ao fato do cantor não ter indicações, a morte de sua amiga Whitney Houston às vésperas da cerimônia de 2012 e outros imprevistos que a festa encarou, além do pontuar o papel atual da Academia e refletir a respeito questões ligadas à pirataria. Leia abaixo.

Como a música latina é avaliada nos Estados Unidos, atualmente?

Certamente, a população dos Estados Unidos mudou e continua mudando. Provavelmente, o melhor exemplo que podemos ver é o impacto recente que o voto latino teve na nossa eleição presidencial. Também observamos isso em termos de publicidade no país, ao ver quantas marcas estão se associando a artistas latinos, sejam eles músicos, atletas, celebridades. Então, não há dúvida de que a música também está sendo mais bem aceita no país agora.

Como a pirataria afeta a Academia?

A questão da pirataria e dos downloads ilegais é uma grande preocupação e questão para a indústria de gravações e isso quer dizer que todos - de músicos a empresas que gravam e vendem música – temos passado por um período muito difícil nos últimos oito a dez anos... as vendas caíram pela metade.

Quais as soluções tem observado como as mais eficientes?

A tecnologia, enquanto se desenvolve, é sempre complexa e difícil. Se você se lembra de quando fitas cassete de áudio foram lançadas, havia uma preocupação de que as pessoas iriam gravar nelas e isso seria o fim da indústria musical, mas aí vieram os CDs e outras preocupações. Sempre houve preocupações. Agora estamos numa situação única e diferente, que é o domínio digital. Não há um produto físico necessário e com o desenvolvimento da tecnologia, com o consumidor aprendendo como é fácil é conseguir música digital legalmente, como é fácil pagar por isso, de ter uma escolha, de não ter que ter medo de vírus, de ouvir a música que quiser na maior qualidade, não uma cópia de má qualidade, a atitude do consumidor está mudando e você tem mais opções hoje. Você pode ter um serviço de streaming, rádio pela internet, downloads que você compra por meio de várias empresas. Então o consumidor tem várias opções e, com o tempo, o cenário para negócios está melhorando, mas vai levar tempo.

Quais os maiores desafios impostos a alguém na posição do senhor, hoje em dia? O que se tornou a missão principal, manter a tradição, lidar com pirataria, balancear a queda nas vendas?

Bom, a Academia Gravação tem várias missões e eu tento resumi-las com quatro pilares principais. Um deles tem a ver com os associados e prêmios. Lembre-se, a Academia é uma organização de associados, temos 20 mil deles. Temos 20 escritórios para servir nossos membros nas maiores cidades do país. Servimos no que podemos em termos de educação musical, networking, entendendo e ganhando conhecimento a respeito do trabalho que fazemos e dos campos nos quais estamos todos juntos. Esses membros que estão por trás e são responsáveis por dar os prêmios que entregamos no Grammy todos os anos.

O segundo é a filantropia e a caridade para nossa própria comunidade. Quando pensamos em músicos, no geral, a maior parte deles é o que chamamos de agentes individuais, eles não são empregados por uma empresa. Vão de trabalho para trabalho, um dia de cada vez, uma semana por vez. Então, eles não têm o benefício de ter a estabilidade que as outras pessoas têm em outros empregos. Neste país, infelizmente, se você não tem um emprego fixo, não tem plano de saúde, precisa cuidado de si mesmo. Se passa por dificuldades, ninguém te ajuda. Então, a Academia criou uma organização chamada Music Cares, que nos últimos 20 anos ajudou milhares de músicos que passavam por épocas difíceis.

O terceiro é a educação musical e o arquivo e preservação da nossa história. Muito da nossa história foi registrada em fita, algo que não vai durar mais muito tempo. É importante que a gente preserve isso para as gerações futuras, então trabalhamos com produtores e engenheiros para garantir que isso seja preservado. E para a educação musica, infelizmente, no nosso país a educação musical em escolas públicas tem tido seu orçamento diminuído anos após ano. A Academia está criando programas e levantando fundos para garantir que os jovens e crianças tenham a oportunidade de aprender música na escola. Também estabelecemos o Museu do Grammy, há quatro anos, um lugar lindo com muita informação e educação.

O quarto é o que chamamos de advogar. Quando falamos em downloads ilegais e pirataria, por estarmos em um mundo novo de elementos digitais, a proteção da propriedade intelectual e direitos autorais é muito, muito importante. Se você é músico, tudo que você tem é o trabalho que cria e essa propriedade precisa ser protegida. Infelizmente, há uma percepção no mundo de hoje que se algo pode ser baixado, deveria ser de graça e pertencer a todos. Essa não é a forma como a arte deveria ser tratada porque se as pessoas não podem ser pagas para serem criativas, elas precisam fazer alguma outra coisa e aí teríamos um mundo muito quieto, sem música, porque ninguém pode sustentar a criação de música sem receber por isso.

Claro, a parte mais famosa do que fazemos é o que acontece neste domingo à noite, 3 horas e meia assistidas em mais de 200 países. Todo mundo conhece o nome “Grammy”, em qualquer lugar para onde eu vá, mas muitos não sabem do trabalho que a Academia faz o ano todo.

Como é feita a curadoria dos artistas que se apresentam em cada cerimônia?

Cada ano é uma tela em branco sobre a qual podemos pintar. O que tentamos fazer é algo que reflita a música daquele ano. Começamos a partir dos nossos indicados, que são escolhidos de forma diferente em relação a grande parte de premiações assim, que são apenas um programa de TV de entretenimento e colocam o que quiserem em termos de música, com base em vendas e popularidade ou o que os fãs votam pela internet. Analisamos os indicados cada ano e refletimos a respeito do que aconteceu na música. Algumas coisas podem não ter mudado, outras podem ter sido muito importantes. E aí tentamos criar 3 horas e meia de televisão. As pessoas às vezes podem esquecer dessa parte: embora seja tudo em torno da música e excelência em música, não deixa de ser um programa de TV que as pessoas estão vendo em casa e precisa entreter.

A morte tanto triste e inesperada da Whitney Houston no ano passado, no fim de semana do Grammy, foi o fato mais marcante da cerimônia de 2012. Quando você ficou sabendo e como fez para lidar com uma situação tão complicada e ainda manter o espírito de o show tem que continuar?

Foi uma tragédia incrivelmente triste e inesperada. Eu trabalhei pessoalmente com Whittney em uma gravadora quando ela estava começando, ao 19 anos, eu há conhecia fazia muito tempo. A minha primeira reação foi pessoal. Fiquei sabendo no sábado à tarde durante o Special Merit Awards, algo que fazemos à parte da cerimônia, é o evento no qual entregamos os prêmios de Conunto da Obra e técnicos. Tive que me recompor, controlar os pensamentos e emoções e é bem isso, o show tem que continuar. Naquela noite, tínhamos outro evento com Clive Davis, que era muito amigo dela, então tivemos que replanejar aquela noite, mudar o show do dia seguinte. Isso é muito difícil, porque nosso programa é o mais complexo em termos de televisão. É ao vivo, com cerca de 20 artistas diferentes. Há mais microfones, luzes e mudanças de cenário, são cinco palcos, é muito difícil fazer uma mudança uma noite antes. Mas eu tenho um ótimo time com as melhores pessoas e demos um jeito. Produzimos um documentário especial para a TV chamado The Grammys Must Go On: A Death in the Family que fala do que aconteceu naquelas 24 horas. Vai ao ar na CBS, nos Estados Unidos, na noite deste sábado, 9.

O empresário de Justin Bieber criticou o Grammy pelo fato do cantor não ter recebido indicações este ano. E aí recebeu muitas críticas pela crítica dele. Isso é algo que acontece com frequência?

A verdade é que toda vez que você tem uma competição e toda vez que há um processo no qual há uma seleção de apenas alguns, aqueles que não foram escolhidos podem não ficar felizes. É a natureza humana e é esperado. Neste caso, conhecemos as pessoas envolvidas. Acho que ele ficou desapontado e isso é compreensível. Mas são mais de 17 mil competidores. Ele é muito talentoso e tem toda uma carreira pela frente, acredito que estará no nosso processo em outros anos.

O que você consideraria um verdadeiro pesadelo na transmissão do Grammy, um imprevisto cuja possibilidade te tira o sono?

A boa notícia é que qualquer coisa que está sob nosso controle pode ser manejada. Eu tenho total confiança no ótimo time que mencionei, na Academia e nos nossos produtores na CBS para cuidar e gerenciar nossa execução, como fizemos durante anos. Há muitos anos, quando tínhamos contratado Pavarotti e, na manhã do show, ele ligou e disse, “estou doente, não posso cantar”, nós conseguimos que Aretha Franklin cantasse ópera. Que coisa estranha e maravilhosa que aconteceu. Vários anos atrás, quando houve o problema com Chris Brown e Rihanna e eles tiveram de cancelar de última hora, foram duas performances que perdemos e acabamos tendo os maravilhosos Justin Timberlake e Al Green se mostrarem disponíveis durante o ensaio e a partir daí desenvolvemos algo para a cerimônia. Ano passado, perdendo Whitney 24 horas antes, essas coisas acontecem, elas acontecem com TV ao vivo. Então estamos preparados e vamos trabalhar duro e fazer tudo que for necessário. Um bom exemplo de um pesadelo foi o que aconteceu no Super Bowl, a força de metade do estádio caiu e eles se saíram lindamente. Eles tinham correspondentes falando, a plateia foi paciente, demorou um pouco, mais do que qualquer um gostaria. Especialmente os jogadores sentados, aquecidos e tendo que esperar, mas você lida com isso e você supera.

Para a maioria das pessoas, o Grammy é algo em torno da música. Mas para boa parte de que comparecem, é uma chance de exibir vestidos, dar entrevistas e conhecer pessoas. Isso faz parte?

Ao longo desta semana, a Academia produziu diversos eventos para levantar dinheiro para projetos de caridade, colocar o holofote na educação, entre várias outras coisas. Toda a indústria musical está aqui em Los Angeles em torno do mesmo objetivo. Muitas empresas de música estão fazendo várias reuniões porque está todo mundo aqui. Há seminários e muitas outras atividades. A verdade é que, para mim, o Grammy é o foco do mundo todo na música e na indústria musical. É uma celebração e música faz parte de uma celebração. Mas colocar uma roupa elegante, se divertir e interagir, fazer negócios, isso também faz parte de celebrar nossa indústria e estamos abertos a isso, encorajamos isso, temos orgulho de ser o fator catalisador que reúne todo o mundo da música esta semana.