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Noite de silêncio no Tim Festival

Marcelo Camelo solo não empolgou platéia, que se manteve quase apática durante a apresentação; Roberta Sá mostrou samba e Arnaldo Antunes tocou músicas conhecidas pelos fãs

Por Bruna Veloso Publicado em 24/10/2008, às 15h39

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Se a noite no Auditório do Ibirapuera nesta quinta-feira, 23, foi uma das únicas a ter os ingressos esgotados no Tim Festival, não foi por conta do show de Marcelo Camelo. As inúmeras cadeiras vazias deviam pertencer a fãs de Paul Weller, que cancelou sua apresentação no evento por conta de problemas com o visto do pianista de sua banda (que, ironicamente, nasceu no Brasil).

Quem esperava uma recepção calorosa à apresentação de Camelo, como acontecido em Curitiba e no Recife nas últimas semanas, se decepcionou - o público manteve-se quieto, sem demonstrações de entusiasmo e cantando pouco. O músico, segunda atração da noite, subiu ao palco em silêncio, pouco antes das 22h30, dando início ao show com "Passeando". A faixa quase instrumental trata de um tema recorrente em sou, primeiro CD solo de Camelo: a solidão. Com os tristes versos "lá vai Deus, sem sequer saber de nós/saibamos, pois estamos sós", Camelo deu o tom da apresentação que se seguiria: um show competente, mas algo como triste, feito do músico para o músico.

A Rolling Stone assistiu ao primeiro show solo de Marcelo Camelo, durante o festival No Ar Coquetel Molotov, em Recife. Saiba como foi, aqui.

Os integrantes do Hurtmold, banda instrumental que acompanha o cantor, surgem logo depois. Seguem-se "Téo e a Gaivota" e "Tudo Passa", que chega a remeter ao Los Hermanos por conta do trompete destacado, tocado por Rob Mazurek. Antes de "Menina Bordada", Camelo parece sentir que tem algo estranho com aquela platéia - onde estariam os meninos e meninas devotos à sua antiga banda? Seria o clima de seriedade do lugar, um auditório cheio de cadeiras vazias? "Sensação de que falta um pouco de desordem", ele diz, introduzindo uma das faixas mais alegres de seu álbum. Um ou outro se arrisca a cantar, bem baixinho. Um pouco depois, ele volta a "instigar" a platéia. "Vocês estão felizes? Tá todo mundo tão calado...".

Mallu Magalhães assistia à apresentação da segunda fileira de cadeiras. "Janta", faixa em parceira com a "menina-prodígio", foi cantada apenas por Camelo - mais uma decepção para quem esperava uma repetição do show de Recife, que teve a participação da garota. A melodia de "Janta" tem o poder de ficar na mente por algumas horas - mas não tanto quanto o assovio grudento de "Doce Solidão", mais uma faixa sobre a condição de "homem só".

O vibrafone dá tons pueris à maioria das músicas, ecoando na ausência de vozes do lugar. Nem em "Morena", dos Hermanos, o público cantou de fato. Ouviam-se alguns versos, mas que nem de longe formavam um coro. Talvez para espantar a morosidade do ambiente, no meio de "Saudade", Camelo deixa a suavidade de lado e comanda uma sessão de barulhos sem muita coesão, aproximando a guitarra do amplificador (como também fez o baixista) para realçar a massa sonora com uma leve microfonia.

A apresentação, que tinha tudo - ou parecia ter - para ser marcante para o músico e para o público, seguiu morna, como se todos assistissem a um filme sem muita ação. Camelo terminou o show de uma hora de duração com a apropriada "Despedida" (que ficou de fora do álbum), não sem antes agradecer a "Laércio de Freitas e 'Malluzinha', muito importantes na feitura desse disco".

Substitutos

Na terça-feira, 21, a organização do Tim Festival anunciou Roberta Sá e Arnaldo Antunes como substitutos ao veterano Paul Weller.

Roberta, uma das novas vozes femininas da MPB "moderna" (ao lado de nomes como Céu e Mariana Aydar), tem os dois pés no samba. Isso fica claro em "Alô Fevereiro", segunda música da noite. A cantora iniciou a seqüência de shows para cerca de um terço dos lugares disponíveis (até pouco depois das apresentações, a produção ainda não havia divulgado o número de pessoas presentes). Com pitadas eletrônicas (além de tocar violão e cavaquinho, Rodrigo Campello também comanda uma série de efeitos) e uma ótima violonista (Antônia Adnet), Roberta fez um show coeso, com repertório calcado em Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria, lançado no ano passado.

"Interessa?" e "Vizinha do Lado" são exemplos de que a apresentação funcionaria melhor para uma platéia em pé. Sem nenhum deslize vocal e com um sorriso constante no rosto, Roberta fez um show bem amarrado, mas que não causou impacto na apática platéia presente no Auditório.

"Janeiros", feita em parceria com Pedro Luís, representou o chorinho, e "Samba de Um Minuto" trouxe o lado melancólico do samba. "Fogo e Gasolina", que tem participação de Lenine no CD, é o momento de maior destaque na bateria, com uma levada de frevo. Pouco antes de "Girando na Renda", a cantora chama o público para se levantar - cerca de 50 pessoas se animam a dançar perto do palco.

Depois de Roberta e Camelo, foi a vez de Arnaldo Antunes tocar. Boa parte do público já havia indo embora, restando ali, provavelmente, apenas admiradores do ex-Titãs. Pela primeira vez na noite, o telão que exibia o logo estático do evento deu lugar a outras imagens. Borrões em preto e branco, pés e uma menina apareciam nos vídeos escolhidos para ilustrar o show que mistura música e poesia.

Acompanhado de dois violonistas e um tecladista, Arnaldo mostrou faixas já conhecidas de seu público, como "Fim do Dia" e "Sem Você". Em "Socorro", gravada também por Cássia Eller, Arnaldo consegue arrancar o primeiro coro da noite. Mesmo com a platéia minguada, foi o momento de maior interação entre público e artista.

A bateria não faz falta, e as músicas ganham corpo com uma base cheia de violão acompanhada de escalas dedilhadas. O show ficou mais pesado com a chegada de Edgard Scandurra, que tocou "Hotel Fraternité" (com a ajuda de um talk box), "Debaixo D'Água" e "Judiaria" (esta última no bis, que também teve "Fora de Si").

Roberta Sá, Marcelo Camelo e Arnaldo Antunes se apresentam no Rio de Janeiro amanhã, 25.