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North Sea Jazz Festival 2018: reggae domina a segunda noite

Sting com Shaggy, Damian Marley e outros artistas deram seus toques pessoais ao ritmo jamaicano

Paulo Cavalcanti, de Curaçao Publicado em 01/09/2018, às 15h09 - Atualizado em 02/09/2018, às 10h32

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Sting e Shaggy no North Sea Jazz Festival 2018 - Daniel Mangione
Sting e Shaggy no North Sea Jazz Festival 2018 - Daniel Mangione

A segunda noite do North Sea Jazz Festival, evento que acontece anualmente no World Trade Center, localizado na Baia de Piscadero, em Curaçao, teve um pouco de jazz, um pouco de pop, mas houve uma certa preponderância de artistas que caem no reggae e em suas diversas vertentes.

As atividades começaram precisamente às 19h, com performances da cantora Patti LaBelle (no Palco Celia, que na verdade, é um teatro fechado) e do saxofonista Kamasi Washington no Palco Sir Duke – este, localizado na praia, com o deslumbrante mar do Caribe ao fundo.

A veterana Patti LaBelle, que tem 74 anos e cerca de cinco décadas de carreira, mostrou o motivo dela ainda ser uma das grande vozes da soul music e do R&B clássico. Na apresentação da lendária intérprete teve espaço para o groove e para as baladas, e ela ainda relembrou seu passado de cantora de igreja, reservando um momento para a música gospel. Além de seus hits, entre eles “What Can You Do For Me”, “On My Own” e “You Have a Friend”, ela ofereceu ao público versões impecáveis e repletas de soul para “If You Don’t Know Me By Now” (de Harold Melvin and The Blue Notes) e o standard “Over the Rainbow”, do filme O Mágico de Oz. Naturalmente, ela recordou o grande hit “Lady Marmalade”, de 1976. Neste momento, a artista convidou alguns fãs para cantar com ela, mas os escolhidos não deram conta. O momento mais emocionante da apresentação aconteceu quando LaBelle voltou ao gospel para prestar um tributo à amiga Aretha Franklin, que morreu no último dia 16.

Já o saxofonista Kamasi Washington é considerado uma das grandes revelações do jazz moderno. Seu trabalho vem sendo comparado ao de mestres do estilo, como Grover Washington Jr. No set, o músico trouxe temas de seus aclamados álbuns, apresentando canções como “Truth”, “Fists of Fury” e “The Rhythm Changes”.

As atuações de LaBelle e Washington terminaram às 20h. Neste momento, o público já rumava para o Palco Sam Cooke, o principal do evento, para assistir ao show de Jason Derulo, previsto para começar às 20h15. O cantor norte-americano de hip-hop e R&B contemporâneo veio com uma apresentação repleta de hits radiofônicos, incluindo ‘’Wiggle”, “Don’t Wanna Go Home” ,”Talk Dirty” e “Want to Want Me”. Ele também apresentou “Swalla”, seu mais recente single.

O show de Derulo foi um dos mais divertidos e agitados até agora no festival. Ele faz a linha do que se poderia chamar de “R&B ostentação”, com as letras falando de sucesso, sexo e dinheiro. O cantor trouxe uma trupe de dançarinos e dançarinas e a movimentação no palco era intensa.

Às 21h30, aconteceram mais dois shows simultâneos. No Palco Celia estava o Spyro Gyra, um dos principais nomes do jazz fusion dos anos 1970. E na praia, no Sir Duke, quem tocava era Damian “Jr. Gong” Marley, um dos integrantes da numerosa prole de Bob Marley que arriscaram a sorte na vida artística. Foram duas performances completamente diferentes, mas ambas bem interessantes musicalmente.

O filho mais jovem de Bob Marley seguiu a tradição sonora do reggae de raiz. O músico apresentou algumas bem escolhidas canções clássicas do repertório do pai, por exemplo, a inflamada “War”. Ele celebrou a maconha em “Medication” e tratou de injustiça social em “Justice” e “Living it Up”. Também tocou algumas faixas de seu álbum mais recente, Stony Hill. No meio disso, emitiu muitas palavras de ordem sobre Jah e sobre a cultura rastafári. O cantor fechou tudo em grande estilo com “Welcome to Jamrock”. Apesar do discurso um tanto militante, o som dele é bem relaxado, com as belas harmonias criadas pela banda do músico flanando pela atmosfera caribenha. E Marley é um showman de primeira, agitando o tempo todo e demonstrando uma energia surpreendente.

Já o show do Spyro Gyra demandou um certo grau de concentração, mas o som do grupo também é suave como uma brisa, na maior parte do tempo, especialmente quando os músicos flertam com o cool jazz e até com a bossa jazz. Os artistas são virtuosos e cada nota ou acorde é executado com uma precisão fenomenal. A trupe comandada pelo saxofonista Jay Beckstein e pelo tecladista Tom Schuman, que estão desde o começo do SG, tocou faixas como as elaboradas “Morning Dance” e “Song for Lorraine”. O bom público que lotou o teatro Celia saiu completamente impressionados com a performance do quarteto.

Como todo mundo sabe, o trio The Police teve uma forte influência de reggae. O que ninguém poderia esperar é que Sting, antigo baixista e vocalista da célebre banda inglesa, um dia iria lançar um álbum totalmente imerso no clima jamaicano. Isso aconteceu no começo deste ano, quando o musico inglês veio com 44/876, um CD de reggae pop que ele divide com o jamaicano Shaggy, um dos mais bem-sucedidos nomes do dancehall.

A improvável dupla apresentou o show em conjunto a partir das 22h45 no Palco Sam Cooke. O disco deles é bastante interessante e havia uma curiosidade para ver como ele funcionaria ao vivo. Sting e Shaggy deram início a essa turnê há pouco tempo, apresentando-se durante o verão norte-americano, e a dupla ainda está aparando as arestas. Às vezes a união deles se torna um tanto incongruente, e em outros momentos, até que funciona. A apresentação tem faixas de 44/876 e também joga o holofote em momentos solos dos dois astros. Nesta parte, um colabora com o outro e o resultado se mostra bem diferente. Do álbum que fizeram em conjunto, eles tocaram faixas como “Dreaming in The U.S.A.”, “Morning is Coming” e “Waiting for the Break of Day”. Sting deu uma geral sua carreira solo com “Englishman in New York”, “Desert Rose” e outras. Recordou o The Police em “Message in a Bottle”, “Every Little Thing She Does Is Magic”, “Every Breath You Take” e mais. Entre os sucessos solo de Shaggy estavam “Hey Sexy Lady” e “Angel”.

Após Sting e Shaggy deixarem o palco principal, por volta de meia-noite, boa parte do público já começou a debandar dos arredores do World Trade Center e ir para casa. Mas ainda havia a apresentação do cantor porto-riquenho Daddy Yankee no Palco Sir Duke. O show, na verdade, deveria ser do jamaicano Sean Paul, mas este cancelou sua aparição na última hora. Uma quantidade razoável de pessoas rumou para lá e, como geralmente acontece neste palco ao lado do mar do Caribe, a descontração é sempre maior. Em vez de apenas assistir ao show, o público preferiu dançar ao som dos hits do artista, que é considerado o rei do reggaeton. O clima era muito mais de festa do que de festival. “Rompe”, “Dura”, “Shaky Shaky” e “Baila Y Sensual” foram alguns dos pontos altos da sacolejante apresentação de Daddy Yankee. Não foi um show muito longo, e se mostrou adequado para encerrar a noite. O North Sea Jazz Festival termina neste sábado, 1, com Burt Bacharach, Grace Jones, KC and The Sunshine Band, Christina Aguilera e outros.