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Em estreia no Brasil, Ringo Starr faz questão de não ser protagonista

Em show que remete a uma reunião de amigos, beatle e a All Starr Band fizeram estreia no Brasil com poucas canções do Fab Four

Marcelo Ferla, de Porto Alegre Publicado em 11/11/2011, às 07h47 - Atualizado às 11h42

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Ringo Starr e sua All Starr Band estrearam em palcos brasileiros na quinta, 10 de novembro, em Porto Alegre - Tárlis Schneider/Acurácia Fotojornalismo/Divulgação
Ringo Starr e sua All Starr Band estrearam em palcos brasileiros na quinta, 10 de novembro, em Porto Alegre - Tárlis Schneider/Acurácia Fotojornalismo/Divulgação

Ringo Starr subiu pela primeira vez a um palco brasileiro às 21h2min desta quinta-feira, 10, no tradicional Ginásio Gigantinho. Na sempre roqueira Porto Alegre, ele surgiu vestindo calça, camisa e terno pretos, depois dos acordes iniciais de “It Don’t Come Easy”, para fazer nada mais do que se esperava do mais humilde e fanfarrão dos Beatles: divertir a plateia de 6.500 pessoas, sem genialidades ou pirotecnias, mas com extrema simpatia. Magro e em forma invejável, o músico de 71 anos não faz a mínima questão de ser o protagonista, muito menos de parecer descolado: alguns de seus músicos são de bandas inexpressivas, mas ganham o privilégio de interpretar seus maiores clássicos, e pitadas de rock progressivo dos anos 70 e do pop meloso dos anos 80 permeiam a apresentação. O cenário é simples e kitsch, com lírios cor-de-rosa nas extremidades e uma estrela inflável no meio.

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Em muitos momentos, a performance remete a uma cena do baile da escola de algum filme da década de 80. De fato, o show é um bailão entre amigos, mas o dono da noite é um ex-beatle, e sua All Starr Band, cuja primeira formação é de 1989, se já não é assim tão estrelada, é extremamente competente. Dois dos integrantes fazem, ou pelo menos fizeram a diferença no show de estreia da turnê que vai percorrer mais cinco cidades brasileiras: Edgar Winter, o tecladista albino e de franjinha uncool (irmão do também conhecido músico Johnny Winter), que também toca sax no espetáculo, e o tecladista Gary Wright, ex-Spooky Tooth, que participou do álbum All Things Must Pass, de George Harrison. Winter soltou o agudo de metaleiro em “Free Ride” e destilou virtuosismo na instrumental e progressiva “Frankenstein”. Wright foi brilhante e pungente nas interpretações vocais dos clássicos “Dream Weaver” e “Love is Alive”.

Rick Derringer, ex-guitarrista do The McCoys, botou o povo pra dançar com a melódica “Hang on Sloopy” (“Pobre Menina” na versão de Leno & Lilian), e mais tarde pousou de guitar hero com “Rock and Roll, Hoochie Koo”. O outro guitarrista, Wally Palmar (ex-The Romantics), atacou com o synthpop “Talking in Your Sleep”, em versão mais roqueira. O baixista Richard Page (ex-Mr. Mister) relembrou dois hits de FM top 40 dos anos 80, “Kyrie” e “Broken Wings”, esta curiosamente ouvida com reverência pelo público, que àquela altura já tinha entendido a métrica do show. O percussionista Mark Rivera e o baterista Gregg Bissonette completam a formação – sim, são duas baterias quando Ringo assume o posto que lhe concedeu eternidade.

Foi na metade da terceira música, “Choose Love”, que ele ofereceu a cena emblemática que todos queriam ver na noite quente da primavera gaúcha: passou a tocar bateria como nos velhos tempos, balançando a cabeça para os lados exatamente como fazia quando integrava a banda que mudou o mundo – talvez o único ato do espetáculo que lembra uma ação deliberada de marketing.

As músicas dos Beatles vieram em conta-gotas: na segunda música, “Honey Don’t”, escrita por Carl Perkins, na sétima, “I Wanna Be Your Man”, que dedicou às mulheres, e no grande momento de “Yellow Submarine”, décima-primeira canção do show, com Ringo novamente à frente do palco para reger um coro de fãs com muitos balões amarelos no ar. Depois de sair de cena para a banda tocar “Frankenstein”, o baterista voltou para apresentar os parceiros e reassumir as baquetas em outro som do Romantics, “What I Like About You” – e deixar cair uma delas, curiosamente.

A canção dos Beatles que nunca falta nos shows de Ringo, “Boys”, teve ótima resposta do público, mas foram os quatro últimos atos que fizeram a apresentação crescer e, definitivamente, emocionar: o petardo pop “Photograph”, em que Ringo relembra o coautor George Harrison; a country “Act Naturally”, que deu ares de saloon ao ginásio; e a inevitável “With a Little Help from My Friends”, síntese de um baterista competente cercado por três gênios, que se mostra nitidamente confortável em dividir o palco e a glória com seus músicos, como se não fosse uma estrela capaz de ofuscá-los.

Não houve bis. O refrão de “Give Peace a Chance” vem colado em “With a Little Help from My Friends”, para citar Lennon e enfatizar o recado que Ringo não se cansa de repetir no palco, com os dedos em V: paz e amor.