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O Céu da Meia-Noite, estrelado e dirigido por George Clooney, vai além da ficção científica e reflete sobre família, solidão e arrependimento [REVIEW]

Em coletiva de imprensa, o elenco relembrou a intensidade de sentimentos e emoções ao longo do processo de criação do filme original Netflix

Isabela Guiduci | @isabelaguiduci Publicado em 20/12/2020, às 12h00

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George Clooney em O Céu da Meia-Noite (Foto: Reprodução)
George Clooney em O Céu da Meia-Noite (Foto: Reprodução)

Um cenário pós-apocalíptico - com a Terra destruída por um vírus misterioso -, um grande astrofísico que opta por ficar no planeta em meio ao caos e o regresso de astronautas que buscavam um novo lugar para a vida humana no espaço. Este é o ponto de partida de O Céu da Meia-Noite, novo filme de ficção científica da Netflix, estrelado e dirigido por George Clooney, que chega ao catálogo do streaming no dia 23 de dezembro. 

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A adaptação inteligente do romance Good Morning, Midnight, de 2016, de Lily Brooks-Dalton, traz o motor do filme: Augustine Lofthouse, um astrônomo estacionado em um observatório no extremo norte do Canadá, no Círculo Polar Ártico. Logo na primeira cena do longa, os colegas de pesquisa de Augustine estão prestes a deixar o planeta Terra para um destino desconhecido - no entanto, ele decide ficar sozinho. 

Na sequência, o astrônomo descobre uma espaçonave chamada Aether, com uma tripulação formada por cinco astronautas - a equipe é interpretada por Felicity Jones, David Oyelowo, Kyle Chandler, Demián Bechír e Tiffany Boone. Todos estão tentando retornar à Terra após uma missão que explorava uma lua potencialmente habitável de Júpiter.

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Augustine fica, portanto, no laboratório e tenta ajudar a tripulação de astronautas que, longe do planeta, anseia regressar sem saber da situação caótica. Contudo, a espaçonave não consegue mais obter contato com a NASA ou outros observatórios na Terra. 

O filme segue com três polos principais: o isolamento do astrônomo no observatório e a tripulação no espaço, somados ao passado de Augustine em meio a flashbacks. Com o desenrolar das diferentes histórias, o público passa a entender gradualmente como estes arcos de narrativa estão relacionados. 

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Como diretor, George Clooney faz um malabarismo para conectar as histórias, sem revelar explicitamente quais as principais relações entre elas. O que une constantemente os três arcos narrativos são a profundidade de sentimentos, a esperança em meio aos caos e as muitas reflexões acerca do passado e futuro. 

É assim, com três diferentes tramas, que a produção consegue explorar temáticas que vão além da ficção científica costumeira e, com intensidade sentimental - às vezes até exagerada, reflete sobre família, solidão, arrependimento e esperança.

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Passado e presente de Augustine

Para explicar o passado, a história segue o jovem Augustine (Ethan Peck), que se dispõe a explorar e estudar os planetas em busca de uma segunda casa para a humanidade, e com isso, fica entendível que os seres-humanos não souberam cuidar bem da Terra. Essa ideia, inclusive, foi o catalisador para a missão de Aether

Os flashbacks mostram o drama e arrependimento de Augustine por terminar um relacionamento, porque o cientista opta por seguir com a carreira profissional e não construir uma família. Digamos ser um dos polos mais sentimentais de O Céu da Meia-Noite -para dar ao público o que seria um romance, mas com uma história de despedida bastante triste. 

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As voltas ao passado são recorrentes na narrativa - e um pouco cansativas em alguns momentos, porque atormentam o presente de Augustine, e o público consegue sentir isso com tamanha repetição. Inicialmente acompanhado da solidão no observatório, o personagem reflete sobre estes arrependimentos das atitudes tomadas ao longo da vida.

Em uma coletiva de imprensa mundial para promover O Céu da Meia-Noitecom todo o elenco presente em uma videochamada, George Clooneyreforça essa questão: "Em muitos aspectos é um filme sobre arrependimento devido ao personagem que interpreto."

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Em uma certa altura da narrativa, Augustine, que parecia estar sozinho, encontra uma garotinha - que não fala - e passa a chamá-la de Iris (Caoilinn Springall). Logo, o cientista desenvolve uma relação paterna com a menina. E, a partir deste acontecimento, o astrônomo vive uma avalanche de emoções por conta do passado.

Como ficção científica, o filme é muito interessante e poderia até ter explorado mais este espectro. No entanto, devido ao excesso de reflexões repletas de cargas emocionais intensas, a produção parece ficar cansativa e se perde um pouco do foco pós-apocalíptico.   

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Aether

Há também um segmento dramático na trama da espaçonave, já que uma cientista (Felicty Jones) está grávida. Esta é uma representação bastante sentimental sobre a esperança para o futuro da raça humana, ameaçada pelo vírus desconhecido.

Na coletiva de imprensa, George Clooney explica que o arco narrativo da personagem não era inicialmente assim. Durante as gravações, FelicityJones, a atriz que interpreta a cientista Sully, ficou realmente grávida. Em meio às tentativas de se adaptar a realidade, o astro, como diretor, optou por trazer esta verdade para a personagem também.

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Clooney entende que o resultado da decisão foi muito promissor. O astro reflete: "O único sinal de vida que eles estão recebendo [porque não conseguem se conectar com a Terra] é de dentro da personagem de Felicity e de repente tudo ficou infinitamente mais esperançoso lá."

Sully, personagem de Jones, está esperando um bebê com o comandante da Aether (interpretado por David Oyelowo) - e, principalmente por conta disso, os diálogos sobre família são bem constantes nas cenas do espaço.

Em várias cenas a bordo, há uma tecnologia que permite aos astronautas mergulharem em uma realidade virtual das pessoas e lugares que eles lembram da Terra e sentem falta. A reflexão sobre a valorização de familiares e amigos é constante em vários momentos do filme que se passam na espaçonave.

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Na coletiva de imprensa, Felicity Jones falou sobre estes questionamentos e reflexões: "O que eu sempre adorei no filme é este nível de ser uma produção sobre questões realmente enormes a partir de perguntas existenciais sobre o significado da vida. ‘O que estamos fazendo aqui? Por que estamos aqui? O que nós valorizamos?’ E, curiosamente, essas são as questões que nos perguntamos nesta época estranha em que estamos vivendo."

Ela continua: "Além do geral, é um drama de relacionamento muito íntimo sobre tentar criar uma conexão, sobre família e sobre ser pais. [...] E tem sido extraordinário o quão relevante se tornou por conta desta situação em que nos encontramos."

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Apesar dos belíssimos e sentimentais questionamentos que acontecem no arco narrativo da Aether, porém, o filme peca por não explorar com profundidade os personagens que estão ali. São cinco deles, no entanto, conhecemos muito pouco da história de cada um - o que pode tornar a narrativa perdida em diversos momentos.

A Aether, assim, parece carregar uma responsabilidade muito grande de provocar sensações e reflexões no público, principalmente sobre família e esperança, como Felicity Jones explicou na coletiva de imprensa.

Isso ocorre, porém, sem desenvolver corretamente os personagens que compõem este arco. Consequentemente, devido a essa falta de informação sobre eles, alguns dos cientistas se tornam irrelevantes para a história como um todo.  

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Família e esperança 

Embora a Terra viva um cenário caótico, ao longo de todo o filme, há mensagens - implícitas e explícitas - sobre a importância da esperança. Na coletiva de imprensa, o elenco falou sobre como a produção ganhou ainda mais sentido neste ano com a pandemia de coronavírus

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Obrigados a ficar em casa, em 2020, nós precisamos aprender a viver em uma nova realidade. Clooney contou na coletiva de imprensa: "Quando começamos a falar sobre o filme, queríamos falar sobre o que o homem é capaz de fazer pelo homem e pela humanidade. E pensamos, quando conversei com a Netflix, sobre minha opinião acerca disso."

Ele completou e reforçou sobre a valorização dos familiares: "Depois que terminamos de filmar, a pandemia veio e ficou claro que a história realmente estava se desenvolvendo. Era nossa necessidade desesperada de estar em casa, nossa necessidade desesperada de estar perto das pessoas que amamos e de nos comunicarmos com as pessoas que amamos."

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Como diretor, as conquistas mais significativas de GeorgeClooney, de fato, são as de amarrar a história de todos os personagens, supervisionar uma gama complexa de grandes efeitos visuais e deixar as cenas mais interessantes e criativas.

Acompanhado disso, o astro também consegue causar reflexão no público sobre questões que são muito presentes na realidade humana, e que foram potencializadas devido à pandemia de coronavírus.


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