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O fim do Pink Floyd: David Gilmour e Nick Mason explicam por que The Endless River é a despedida da banda

Novo álbum, que chega às lojas a partir desta sexta-feira, 7, como uma homenagem ao tecladista Rick Wright, que morreu de câncer em 2008

ANDY GREENE Publicado em 07/11/2014, às 13h35 - Atualizado às 13h44

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Capa do disco <i>The Endless River</i>, do Pink Floyd - Divulgação
Capa do disco <i>The Endless River</i>, do Pink Floyd - Divulgação

David Gilmour passou boa parte dos últimos vinte anos tentando fazer com que Pink Floyd fosse uma coisa do passado. A banda quebrou recordes de bilheteria com a turnê do disco The Division Bell, de 1994, mas Gilmour se cansou da vida de rock star. "A coisa toda se tornou maior do que eu queria", diz ele. "Eu não estava curtindo a falta de conexão com o público." O cantor e guitarrista focou sua energia na criação dos filhos mais novos e, ocasionalmente, gravando um disco solo. Mas havia um assunto não resolvido do Floyd: as sessões em estúdio de 1993.

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A banda – que, na época, já estava sem o fundador e compositor principal Roger Waters há quase uma década – editou 20 horas de gravação em um disco de música ambiente que seria inserido em The Division Bell, um plano que eles eventualmente descartaram. Há alguns anos, Gilmour ficou surpreso ao encontrar as gravações. “Eu percebi que havia coisa boa a ser extraída de tudo isso”, ele diz. Para a surpresa de todos, Gilmour decidiu ressuscitar o material. Ele e o baterista Nick Mason gravaram por cima de algumas faixas e transformaram aquele antigo material em um novo disco, majoritariamente instrumental, intitulado The Endless River, lançado em alguns países nesta sexta-feira, 7.

Gilmour jura que o álbum marca o fim do Pink Floyd. "Tudo que tínhamos de bom está neste disco", diz ele. "Tentar fazer de novo significaria usar material pior, e isso não é bom o suficiente para mim." Fãs não devem esperar uma turnê de divulgação de The Endless

River – não sem o tecladista Rick Wright, que morreu de câncer em 2008. “Sem ele, isso seria impossível”, diz Gilmour. “Eu estou realmente curtindo a minha vida e minha música. Não há espaço para Pink Floyd. O pensamento de fazer alguma coisa a mais me faz suar frio.”

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De muitas maneiras, The Endless River é um tributo a Wright. Sem vocais, o órgão dele ressoa em quase todas as faixas. “Roger e eu fazendo tanto barulho nos álbum e na mídia que Rick acabava sendo esquecido”, diz Gilmour. “Mas ele era tão vital quanto os outros. Ele criou um cenário sonoro em tudo que dizemos. Isso é algo que você não consegue reproduzir em nenhum lugar.” A música soa como o clássico Floyd, evocando passagens instrumentais de “Welcome to the Machine”, “Echoes”, “Shine On You Crazy Diamond” e coisas dos trabalhos mais antigos deles, do final dos anos 1960 e começo dos anos 1970.“Há muitas revisitações aqui”, diz Mason. “É engraçado como você se vê diante de uma tela em branco e, de repente, termina realizando algo familiar, não importa o quão duro você tente fugir disso. Eventualmente, você entende isso e apenas se sente confortável nesta posição.”

O disco tem 18 faixas e é dividido em quatro partes diferentes. “Eu procurei no Google: ‘Quanto dura um movimento na música clássica?’, disse Phil Manzanera, guitarrista do Roxy Music, co-produtor do álbum. “Dura praticamente o primeiro lado do vinil, por volta de 15 minutos. Então ficamos quatro desses. No começo, estávamos apenas trabalhando nas gravações antigas. Então David decidiu que eles deveriam tocar novas partes. Foi aí que ele realmente tomou o comando desse navio fantasma que é o Pink Floyd.”

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O álbum é encerrado com “Louder Than Words”, a única canção com letra. Os versos foram escritos pela esposa de Gilmour, Polly Samson, novelista que também compôs muitas das faixas para The Division Bell. A faixa parece fechar a cortina para toda a saga do Pink Floyd, com toda o histórico de rusgas entre Waters e os antigos companheiros de banda. “We bitch and we fight,” canta Gilmour. “Diss each other on sight/But this thing we do?.?.?.?it’s louder than words.”

Em nenhum momento Gilmour considerou chamar Waters de volta para trabalhar no álbum. “O porquê de alguém na face da Terra pensaria que qualquer coisa que façamos agora tem a ver com ele é um mistério para mim”, diz Gilmour. “Roger estava cansado de estar em um grupo popular. Ele está muito acostumado a ser a força condutora solo por trás da própria carreira. O pensamento dele chegando a algo democrático... Ele simplesmente não é bom nisso. Além disso, eu estava nos meus 30 e poucos anos quando Roger deixou o grupo. Agora tenho 68 anos. Passou-se já mais da metade da minha vida. Acho que não temos mais muito em comum.”

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Ainda assim, o grupo se reuniu com Waters nos anos mais recentes. A formação clássica do Pink Floyd fez uma performance triunfante durante o show beneficente Live 8, em 2005. Gilmour também dividiu o palco com Waters em uma outra apresentação beneficente, em 2010, e ele e Mason se apresentaram com Waters no ano seguinte. Algo convenceria Gilmour a dividir o palco com Waters novamente? “Eu não renegaria a hipótese”, diz ele. “Mas a possibilidade de ser algo mais do que um pequeno show beneficente é muito, muito remota.”

Mas os fãs do Pink Floyd tem mais coisas para aguardar: um novo disco solo do Gilmour. “Está indo muito bem”, diz ele. “Há rascunhos que ainda não foram finalizados e alguns deles serão recomeçados. Há ainda alguns meses de trabalho. Espero que saia no próximo ano. Mas quero fazer uma turnê de um senhor de idade avançada, não uma coisa com 200 datas.”

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Gilmour poderia facilmente encher arenas, mas ele planeja tocar em lugares menores, similar ao que ele fez na última turnê, em 2006. “Ainda não falamos muito sobre a turnê”, revela. “Mas lugares como Radio City Music Hall parecem o mais adequado para mim.”

Já quanto a Mason, é possível perceber que ele ficaria muitíssimo feliz em sair em turnê com o Pink Floyd amanhã, se possível. “Se David renunciar, isso me coloca em total controle do Pink Floyd”, diz ele. “Vou para a estrada tocar na íntegra o Dark Side of the Moon, apenas as linhas de bateria. Vai ser um pouco besta. Por favor, entenda que estou brincando.” Ainda assim, o baterista recusa a dar esperanças de que Gilmour mudará de ideia em algum momento. “Eu acredito que quando eu estiver morto e enterrado”, diz ele, “minha tumba terá as inscrições: ‘não estou completamente certo de que a banda acabou.’”