Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

As ondas sonoras do Nada Surf

Em show longo e abrangente em São Paulo, banda repassa carreira e premia público dedicado

Pablo Miyazawa Publicado em 26/04/2012, às 19h55 - Atualizado às 20h51

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Nada Surf (Divulgação)
Nada Surf (Divulgação)

O Nada Surf não se apresentava em São Paulo desde 2004. Na turnê em questão, a banda passou pelo país na forma de um trio básico de guitarra-baixo-bateria, sustentado pelas canções do bem cotado álbum Let Go (2002) e por resquícios do sucesso do maior acerto da banda até hoje – “Popular”, que teve veiculação pesada na MTV e figurou em paradas mundiais nos idos de 1996.

Leia entrevista de Matthew Caws, vocalista do Nada Surf.

O Nada Surf que veio ao Brasil para sete shows em sete capitais é bastante diferente daquele de oito anos atrás. A formação principal continua a mesma de sempre – Matthew Caws na guitarra e voz, Daniel Lorca no baixo e Ira Elliot na bateria -, mas há a ajuda efetiva de mais dois músicos no palco: o guitarrista Doug Gillard (integrante do Guided by Voices) e o multiinstrumentista Martin Wenk (do Calexico). Mesmo como quinteto ao vivo, não há diferenças sonoras tão perceptíveis, uma vez que o fio condutor da banda continua a ser inspiradas sequências de acordes de guitarra alinhadas a vocais mansos e melódicos.

No show da noite da última quarta, 25, no Cine Joia, em SP, o Nada Surf mesclou o repertório típico de apresentações recentes com faixas que não tocava havia “muitos anos” – como Caws descreveu a rara “Amateur”, favorita dos fãs antigos, segunda faixa de The Proximity Effect (1998). Coeso e visivelmente à vontade pela receptividade da casa quase lotada, o grupo não correu riscos e tocou para agradar a todos – fãs antigos, que começaram a seguir o Nada Surf durante a ressaca pós-grunge; e seguidores mais recentes, cativados por músicas de apelo mais comercial como “Inside of Love”, “Always Love” e “See These Bones”.

Realmente, nem mesmo os integrantes negam a diferença de sonoridade entre os dois primeiros discos e os cinco que vieram a seguir – High/Low e The Proximity Effect traziam mais peso, distorções e velocidade, dando a sensação de um grupo com influências punk e energia para gastar. A partir de Let Go, a busca incessante pela melodia perfeita se tornou uma obsessão de Caws – não por coincidência, foi durante este periodo que o Nada Surf mais arrecadou fãs do sexo feminino. A presença de faixas em trilhas de seriados de TV – One Tree Hill, Heroes, How I Met Your Mother – contribuiu para a sustentação de uma base de fãs bastante equilibrada.

No palco, o Nada Surf dificilmente foge do script. Os músicos convidados se comportam de maneira discreta, evitando a interatividade. O baterista Ira, debaixo de sombras, se fazia ouvir mas pouco conseguia chamar a atenção do fundo do palco. Restava ao baixista Daniel os malabarismos e trejeitos animados que concediam certas doses de movimento ao palco apertado do Joia. Figura central e principal compositor, Caws sofreu com a guitarra em volume baixo, mas não parecia encontrar razão para reclamar: a maioria das músicas tocadas - mesmo as menos divulgadas do disco mais recente, The Stars are Indifferent to Astronomy - recebia aplausos logo nas primeiras notas. Em troca, Caws sorria, realizado.

Em quase duas horas de show (uma raridade para bandas atuais), o Nada Surf passeou por 16 anos de história em disco, sem muito critério ou conversa fiada. Músicas de todos os álbums foram tocadas, com exceção da compilação de covers If I Had a Hi-Fi (2010). As novidades no repertório típico foram músicas “antigas”, como a já citada “Amateur”, além de duas faixas de High/Low, “Treehouse” (“ouvi dizer que essa fez sucesso por aqui”, Caws diria um dia antes do show) e o único verdadeiro hit, “Popular”. Em versão barulhenta e acelerada (como querendo que acabasse logo), Caws cuspiu a letra de fina ironia e refrão urgente, no trecho mais agitado da noite. No bis, em “Blankest Year”, o trompetista paulistano Guilherme Mendonça, o Guizado, se juntou aos cinco para um desfecho empolgado e cacofônico. O público cantou junto e aplaudiu. Em troca, o Nada Surf deixou no ar a sensação de que voltará muito em breve.

A banda ainda toca em Curitiba (Music Hall) no sábado, 28, Florianópolis (John Bull), no domingo, 29; Rio de Janeiro (Circo Voador), no dia 2 de maio; Belém (Se Rasgum), no dia 4 e encerram a passagem pelo Brasil em Fortaleza (Orbita Bar), em 5 de maio.

Set list:

“Clear Eye Clouded Mind”

“Waiting for Something”

“Happy Kid”

What is Your Secret?”

“Teenage Dreams”

“Killian’s Red”

“Weightless”

“Hyperspace”

“Whose Authority”

“Jules and Jim”

“Amateur”

“80 Windows”

“When I Was Young”

“The Way You Wear Your Head”

“Paper Boats”

“Hi-Speed Soul”

“No Snow on the Mountain”

“Treehouse”

“See These Bones”

Bis:

“Inside of Love”

“Popular”

“Always Love”

“Blankest Year”