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O casamento do "con man" com o Zé Carioca

A comédia Os Penetras, que esteia nesta sexta, 30, tem no elenco Marcelo Adnet, no papel de um trambiqueiro, e Eduardo Sterblitch, como sua vítima

Stella Rodrigues Publicado em 30/11/2012, às 10h01 - Atualizado às 14h01

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<b>TRAMANDO</b> Sterblitch (centro) com Adnet (dir.) e Stepan Nercessian em cena de Os Penetras - ARIELA BUENO/DIVULGAÇÃO
<b>TRAMANDO</b> Sterblitch (centro) com Adnet (dir.) e Stepan Nercessian em cena de Os Penetras - ARIELA BUENO/DIVULGAÇÃO

Pode ser que o espectador tenha lido em algum lugar o boato errôneo de que Os Penetras é uma versão brasileira de Os Penetras Bons de Bico, comédia de 2005 estrelada por Owen Wilson e Vince Vaughn. É curioso pensar de onde será que surgiu esse rumor, já que as tramas são completamente diferentes. Talvez pelo fato de serem dois protagonistas homens, jovens, e o título ter a palavra “penetras”. Até aí, certamente deve haver alguma produção pornográfica com essas mesmas características e, no entanto, as três não carregam semelhanças entre si. Mas a circulação dessa informação é um sintoma do quanto o brasileiro espera que a comédia nacional parta de alguma cópia pouco ou nada criativa do que é feito em Hollywood.

Não é o caso aqui, porém. Os protagonistas até dão golpes para entrar em festas para os quais não foram convidados, premissa do longa norte-americano, mas esse é apenas um dos truques no limite entre o crime e a esperteza que eles guardam na manga. A comédia mistura o típico “con man” ou “con artist” (uma espécie de golpista profissional) do cinema internacional com uma espécie de Zé Carioca renovado. Desta forma, por um lado, o longa é de um humor muito próprio, dando uma cara nova e mais divertida para o clássico malandro carioca. “Tinha uma coisa de resgatar o malandro que aparecia sempre nos anos 50, 60”, contou o sempre talentoso diretor Andrucha Waddington à Rolling Stone Brasil. Por outro, contudo, traz algumas piadas previsíveis que acabam tirando a graça do que é de fato original.

É importante dizer que os protagonistas Marcelo Adnet (o trambiqueiro Marco Polo) e Eduardo Sterblitch (o chato, carente e bobão Beto) estão ambos muito bem em seus papeis. Mas a forma como ambientes e sequências são construídos lembra uma série de esquetes amarradas. Bem amarradas, é verdade, mas ainda assim é como se houvesse a cena do humor pastelão, a cena das piadas prontas, aquelas outras do humor mais profundo e reflexivo, assim por diante.

A trama mostra o encontro entre esse malandro e um cara inocente, interiorano, no Rio de Janeiro pré-réveillon. Beto corre atrás da mulher da sua vida, Laura, que não quer saber dele, e Marco se dispõe a ajudar, pronto para sugar cada centavo que aquele trouxa endinheirado tiver nos bolsos. “Falamos de dois arquétipos da classe media jovem”, define Waddington. Mas, então, Marco acaba se apaixonando pela igualmente trambiqueira mulher em questão, interpretada pela lindíssima Mariana Ximenes. Em certos momentos, a ingenuidade de Beto causa muita pena (graças tanto ao texto, quanto à atuação). Porém, em outros, é tão difícil de posicionar um cara de tamanha inocência e carência em uma sociedade adulta e urbana que a vontade é de torcer para que Marco acabe com ele. “Porque ele é honesto, e aí tem drama”, justifica o diretor a respeito dessa empatia que o protagonista safado gera. “Em comédia sem drama você não torce pelos personagens. A tragédia é a escada da comédia. Se você não tem drama, terá uma comédia flat e fria.” De fato, a resolução do filme começa a se dar quando Marco passa a demonstrar compaixão pela sua vítima que, nas palavras de Adnet, não gera empatia mais cedo por ser “tão chato! Fica falando perto, agarrando na blusa. É problemático, um maluco, desconectado da realidade”.

É um grande trunfo da produção integrar o parco time de comédias que não são derivadas de programas de TV, embora seus astros tenham feito fama na telinha (em programas de humor da MTV, no caso de Adnet, e no Pânico na TV, no de Sterblitch). A escolha deles acertou na mosca. Foram selecionados dois dos grandes humoristas em voga para levar seu carisma pessoal aos personagens – curiosamente, quando o projeto começou, há muitos anos, Rodrigo Santoro e Selton Mello estavam cotados para os papeis, afinal, eram os atores de destaque da época.

Ainda integram o elenco Susana Vieira (no papel de uma senhora rica, maluca e correndo atrás de um garotão), Stepan Nercessian (como o mestre do trambique que é uma espécie de pai e professor de golpismo para Marco), Andrea Beltrão, Luiz Gustavo, Luís Carlos Miele e a russa Elena Sopova, que Beto conhece em um baile de gala com requintes de bizarrice.