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Oscar 2021: O anseio pelo sentido do existir em O Som do Silêncio [REVIEW]

O filme de Darius Marder traz uma narrativa comovente, performances magistrais e uma experiência sonora ímpar

Julia Harumi Morita Publicado em 09/04/2021, às 09h30

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Riz Ahmed em O Som do Silêncio (Foto: Reprodução /Cortesia TIFF via IMDb)
Riz Ahmed em O Som do Silêncio (Foto: Reprodução /Cortesia TIFF via IMDb)

Em um primeiro momento, O Som do Silêncio pode soar como um ensinamento sobre a aceitação da deficiência auditiva ou a jornada da busca pela felicidade. Mas a compreensão da surdez é um capítulo da trajetória de cura emocional e amor-próprio de Ruben Stone (Riz Ahmed), baterista de uma banda de punk metal ao lado da vocalista, guitarrista e namorada, Louise (Olivia Cooke).

Aliás, vale notar que o longa-metragem, idealizado por mais de 10 anos e dirigido por Darius Marder, segue uma estrutura clássica de três atos - os quais entoam nitidamente as fases emocionais do protagonista.

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Ao ser diagnosticado com uma grave perda auditiva, Ruben é aconselhado pela companheira a interromper o quanto antes a turnê norte-americana da banda - e, provavelmente, a carreira dele na música - para cuidar da saúde mental, e não da surdez.

Joe (Paul Raci) é quem ajuda Ruben a "aprender a ser surdo", como o próprio personagem descreve. Coordenador de uma comunidade de surdos com histórico de vício, Joe acolhe o baterista, que deixou de usar drogas há quatro anos, na mesma época em que iniciou o relacionamento com Lou.

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Longe do celular ou das chaves do trailer, no qual levava uma vida nômade com parceira, Ruben é incentivado a registrar e refletir sobre os próprios pensamentos ao mesmo tempo que aprende a linguagem de sinais e absorve os pequenos hábitos que formam a cultura da surdez conforme frequenta grupos de autoajuda e uma classe de estudantes do fundamental, os quais transbordam curiosidade e inocência.

"Acho que o que é bonito neste filme é que não estamos apresentando a surdez como uma deficiência, estamos apresentando-a como uma cultura. Estamos apresentando ela como uma identidade, uma comunidade.," disse Ahmed em entrevista ao Deadline.

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Um dos pontos altos do filme é a inclusão de diversas pessoas surdas no elenco, como Jeremy Stone (Jeremy Lee Stone), intérprete de professor de linguagem de sinais norte-americana, e Jenn (Chelsea Lee), que forma uma amizade com Ruben. Atrás das câmeras, eles também ajudaram Marder a direcionar as cenas e Stone, que é um professor na vida real, ensinou a linguagem de sinais para Ahmed.

Outro destaque é Paul Raci, indicado na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. Antes de ser escolhido por Marder para viver Joe, o ator fez pequenas participações em filmes e séries, como S.OS. Malibu(1989), Parks & Recreation (2009) e Baskets (2019), além de trabalhar no Tribunal Superior do Condado de Los Angeles e atuar no Deaf West Theater.

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Filho de pais surdos, Raci também serviu na Guerra do Vietnã e lidou com o vício, segundo o The New York Times. Aos 73 anos, o ator entregou uma performance grandiosa de um mentor paciente e ponderado, o qual se opôs à agitação e angústia de Ruben.

E, claro, em termos de atuação, é preciso destacar a preparação de Ahmed, que já fez história ao ser o primeiro muçulmano indicado na categoria de Melhor Ator. Para interpretar Ruben, o artista seguiu uma rotina intensa durante meses e, todos os dias, estudou linguagem de sinais e bateria, e fez sessões com treinadores de exercícios físicos e de atuação.

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O resultado deste treinamento, que por si só daria um ótimo filme sobre a jornada do "artista obcecado", é uma performance magistral - que foi alcançada com um orçamento limitado e apenas dois takes por cena, de acordo com a NME.

Se por um lado a relação de Ruben e Lou é interrompida antes mesmo do espectador criar um vínculo potente com o casal, a interação de Ruben e Joe desperta estranhamento, conforto e uma tristeza inevitável com o começo, meio e fim do convívio deles.

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Para além da atuação, o longa-metragem conta com um trabalho minucioso de edição de som, que também recebeu uma indicação no Oscar, junto com o roteiro, a edição cinematográfica e o filme de forma geral.

O engenheiro de som Nicolas Becker (Gravidadee A Chegada), que pode levar o prêmio ao lado de Jaime Baksht, Michellee Couttolenc, Carlos Cortés e Phillip Bladh, usou microfones especiais criados por ele mesmo, os quais podem ser colocados dentro da boca para captar o som de batimentos cardíacos e até mesmo o movimento dos ossos.

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No primeiro e segundo ato, o filme cria contrastes sonoros entre a perspectiva de Ruben, caracterizada por ruídos abafados e incompreensíveis, o ponto de vista de um ouvinte, que escuta o sutil som do esfregar das mãos, mas não consegue entender totalmente a cena até ler as legendas.

No ato final, Ruben faz cirurgia de implante coclear na esperança de retomar a carreira musical junto com Lou. "Estava na hora de fazer algo, está bem? Tentar salvar a p*rra da minha vida. Então, é o que estou fazendo. Ninguém mais vai salvar minha vida, não é?," diz o personagem.

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Neste momento, percebemos que o maior desafio do ex-baterista é a busca por um sentido na vida, o qual ele acreditava ter encontrado na música e no amor. Após o procedimento, Ruben precisa deixar o programa de Joe, afinal, o objetivo dele é criar um espaço para as pessoas que acreditam que ser surdo não é uma deficiência ou algo para ser consertado.

Em seguida, o protagonista encontra a parceira e percebe que o relacionamento deles chegou ao fim, assim como a banda. Sem o trailer e o resultado da cirurgia que esperava, Ruben está rodeado novamente por um som alto e metálico, o qual vem do sino de uma igreja e não da bateria dele, como no começo do filme.

Diante das inúmeras incertezas e possibilidades, Ruben decide seguir sozinho para encontrar um novo sentido para a vida ao som do silêncio.


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Apesar de ter vivido apenas 28 anos, Heathcliff Ledger (mais conhecido por Heath) marcou o cinema com papéis como Patrick Verona em 10 Coisas que Eu Odeio em Você (1999) e Coringa em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)

Heath nasceu em Perth, Austrália, em 4 de abril de 1979. Neste domingo, completaria 42 anos. Confira sete curiosidades sobre o ator: da origem de nome a quem era o melhor amigo. 

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Nome

O nome do ator, Heathcliff, foi inspirado em um personagem de O Morro dos Ventos Uivantes (1847), de Emily Brontë, livro preferido da mãe dele, Sally Ledger. Do mesmo romance, Sally tirou o nome de outra filha, Katherine.


Primeiras experiências

Heath estudou na Guildford Grammar School, escola só para meninos, onde teve a primeira experiência como ator. Aos 10 anos, participou de uma montagem da peça Peter Pan.

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Como ator profissional, um dos primeiros papéis da carreira foi em Home And Away (1988), espécie de novela teen a qual lançou várias estrelas australianas. Interpretou Scott por apenas 10 episódios e, apesar de ter feito muito sucesso, recusou propostas dos produtores para continuar.


Inspiração

Durante os anos de escola militar, Heath coreografou e dirigiu um grupo de 60 colegas para uma competição. Foi a primeira equipe masculina a disputar, e saíram vitoriosos. O ator comparou a apresentação ao estilo de Gene Kelly, de Cantando na Chuva (1952) e revelou como o dançarino era seu maior ídolo no cinema.

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Xadrez

Heath era um adorador de xadrez e jogava desde pequeno. Aos 10 anos, ganhou o campeonato júnior da Austrália Ocidental. Quando adulto, continuou o hábito e jogava frequentemente no Washington Square Park em Nova York (EUA). 


Gambito da Rainha

A partir do amor pelo xadrez, em 2008, anunciou planos de iniciar filmagens da adaptação do livro O Gambito da Rainha (1983). Teria sido a estreia de Heath como diretor de cinema. 12 anos depois, o romance foi adaptado para uma produção da Netflix e foi a série mais assistida de 2020, segundo JustWatch.


Jake Gyllenhaal

Colegas de elenco em O Segredo de Brokeback Mountain (2005), Heath e Jake Gyllenhaal se tornaram grandes amigos. O ator é, inclusive, padrinho da única filha de Ledger, Matilda.


Coringa

O vilão de O Cavaleiro das Trevas (2008) foi o papel de maior reconhecimento de Heath. Com ele, ganhou o Oscar póstumo de Melhor Ator Coadjuvante em 2009. Nas filmagens, projetou sozinho a composição do personagem. Segundo Heath, se Coringa fosse real, faria a própria caracterização.

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Foi à farmácia, comprou maquiagem e aplicou-a sozinho. Depois, a equipe de maquiagem apenas replicava o visual criado por ele.