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Ouvir Ramones é como tomar pancada na cabeça – e nós agradecemos por isso

Com a morte de Tommy Ramone, o mundo diz adeus ao quarteto original que transformou o rock

Pedro Antunes Publicado em 12/07/2014, às 12h02 - Atualizado às 16h05

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Ramones - Ramones (1976) - 600x600 - Reprodução
Ramones - Ramones (1976) - 600x600 - Reprodução

Lembra-se da primeira vez que “Blitzkrieg Bop” tocou no rádio, no toca-fitas, no vinil, no CD ou, dependendo da sua idade, no aparelho de MP3? O que aqueles gritos selvagens de “hey ho, let’s go” diziam vão além do que a pequena canção de pouco mais de dois minutos de duração poderia sugerir. A primeira faixa de Ramones, disco de estreia do quarteto mais veloz que Nova York havia conhecido até aquele ano de 1976, é a “aula magna” para todo jovem interessado em punk e, até mesmo, no rock em geral.

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Nesta sexta-feira, 11, às vésperas de mais um Dia do Rock, perdemos o último dos Ramones fundadores. Tommy Edérly se juntou aos jovens John “Johnny” Cummings, Douglas “Dee Dee” Colvin e Jeffrey “Joey” Hyman apenas como uma solução paliativa, afinal, o trio de amigos não havia encontrado ninguém veloz o suficiente com as baquetas para acompanhá-los. Ficou no posto, no banquinho sentado atrás do kit de bateria, até 1978, com três discos de estúdio e um ao vivo, quando assumiu a posição de empresário e produtor e deixou a vaga para Marc Bell (Marky Ramone).

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A despedida de Tommy coloca um ponto final na história do quarteto original dos Ramones. Uma trajetória cheia de altos e baixos, drogas, álcool e brigas escandalosas, mas suficiente para deixar um rastro indelével na história do rock and roll. Se em Nova York, a cena do que hoje conhecemos como punk já existia no submundo, nas casas de show imundas e pequenas como CBGB, os Ramones exportaram a máxima “velocidade em vez de técnica” para o mundo. E Tommy foi o responsável por fazer disso uma realidade, ao aceitar assumir a bateria enquanto Joey tornava-se o vocalista.

Tommy Ramone não era bem um Ramone no sentido mais selvagem que o sobrenome pode ter. Não era um grande fã de doses cavalares de drogas e álcool, como Dee Dee, Joey e Johnny, mas foi fundamental na história do rock ao lado do trio. Era o dono dos créditos de composição da faixa inaugural do disco de estreia dos Ramones – mas foi Dee Dee quem sugeriu o nome, “Blitzkrieg Bop”. Também assinou "I Wanna Be Your Boyfriend", uma sátira às canções pop de amor que inundavam as paradas e as rádios naquela segunda metade da década de 1970.

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Mas voltemos à “Blitzkrieg Bop”. Por quê? Simplesmente porque a música em questão representa o melhor que Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy eram capazes de fazer. Explosiva, veloz e extremamente viciante. Dois minutos e treze segundos que sintetizam tudo que os Ramones viriam a fazer de melhor nas décadas seguintes, com energia pulsante, com Johnny e Dee Dee esmigalhando guitarra e baixo enquanto Joey se esgoelava ao microfone.

Se qualquer garoto adolescente ouve “Blitzkrieg Bop”, toda a percepção dele do que é música transforma-se completamente. Por isso a pergunta logo na abertura deste texto: lembra-se de quando ouviu a faixa pela primeira vez? Eu, certamente - e peço licença para partilhar um pouco da experiência.

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Era um jovenzinho de uns 15 anos que achava que já sabia tudo da vida, com aquela prepotência e certeza que só a adolescência é capaz de lhe dar. “Blitzkrieg Bop” estava em uma fita cassete que já não me recordo como foi parar nas minhas mãos. Mas me lembro de apertar o “play”, voltar a cassete, apertar o play de novo, umas dezenas de vezes. Lembro-me de pular com a euforia punk correndo nas veias como uma droga injetável. Lembro-me de colocá-la no setlist do primeiro show da banda formada com os amigos do colégio. Lembro-me de gritar “hey ho, let’s go” ao microfone no muquifo onde tocamos. Lembro-me de ver a plateia formada por gente do colégio, e só por eles, é claro, pular junto. Lembro-me bem daqueles dois minutos e treze segundos (um pouco mais, ou um pouco menos, nosso baterista nunca acertava o tempo da batida de Tommy). Foram ótimos dois minutos e sabe-se lá quantos segundos.

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Não, não espero aqui comparar a faixa com qualquer outra de Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd, Jimi Hendrix, Led Zeppelin e outros titãs do rock capazes de expandir nossa consciência e nos fazer viajar para outras dimensões. Mas todos passamos por uma fase na vida em que tudo o que queremos – ou precisamos – é uma pancada na cabeça. E é isso que “Blitzkrieg Bop” e os Ramones proporcionaram e ainda proporcionam. Obrigado Joey, Johnny, Dee Dee e, agora, Tommy.