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Com algumas surpresas, mas com o carisma de sempre, Paul McCartney mostra seu legado diversificado em São Paulo

Ver o ex-beatle ao vivo continua sendo uma experiência imperdível que todo fã de música precisa aproveitar enquanto há tempo

Paulo Cavalcanti Publicado em 16/10/2017, às 04h05 - Atualizado às 14h13

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Paul McCartney em São Paulo - 2017 - Ana Luiza Ponciano
Paul McCartney em São Paulo - 2017 - Ana Luiza Ponciano

Paul McCartney subiu ao palco do Allianz Parque neste domingo, 15, para mostrar ao já fiel público paulistano o show da turnê One on One. A performance teve praticamente o mesmo repertório mostrado ao público gaúcho na noite da última sexta, 13, quando o ex-beatle começou o giro pelo Brasil. Mas, naturalmente, ele mesmo assim fez com que as cerca de 45 mil pessoas presentes voltassem no tempo inúmeras vezes, sempre com grande emoção.

A apresentação começou por voltas das 21h05. McCartney, carregando o inconfundível baixo violino marca Hofner, se juntou a seus afiados músicos e deu início com "A Hard Day's Night", tema do filme homônimo lançado pelos Beatles em 1964. Ele não tocava esta música nas turnês anteriores que passaram por aqui, talvez pelo fato de o vocal ser feito predominantemente por John Lennon, na gravação. Sem problemas, a versão funcionou muito bem. A partir daí começou a bem amarrada mescla de canções solo, hits e lados B dos Beatles, tudo intercalado por uma ou outra surpresa no meio do caminho.

Na primeira parte da apresentação, o cantor e baixista reviveu clássicos dos Beatles ("Can't Buy Me Love", "Drive My Car", "I've Got a Feeling") e faixas da época em que liderava o Wings ("Junior's Farm", "Jet", “Let me Roll it” – nesta, o músico demonstrou que também é um exímio guitarrista –, "Nineteen Hundred and Eighty-Five" e "Maybe I'm Amazed"). Ele também veio com "My Valentine", balada jazzy endereçada a Nancy Shevell, a atual esposa dele.

Para "We Can Work it Out", McCartney introduziu um violão e, desta forma, abriu o segmento acústico da apresentação. Convidando para “voltar ao passado”, tocou "In Spite of All the Danger", canção do The Quarrymen, banda embrionária que ele tinha em Liverpool junto a Lennon, George Harrison e outras figuras que não entraram para a história. Esta porção da noite ainda teve "Love Me Do" ( o primeiro single do Fab Four, lançado em 1962), "And I Love Her" e "Blackbird".

"Esta é para John. É sobre uma conversa que nunca tivemos a oportunidade de ter". Foi assim que Paul McCartney apresentou e definiu "Here Today", uma sincera homenagem a John Lennon, incluída no álbum Tug of War (1982).

Algo que sempre marca as performances do artista é que ele nunca fica somente preso a glórias do passado, ao contrário, sempre faz questão de destacar algum material contemporâneo. Em 2013, ele lançou o bom álbum New e, deste trabalho, veio com a balançada "Queenie Eye" e também a faixa-título – ambas, ele cantou ao piano. Ainda tocando o instrumento, mostrou "Lady Madonna", dos Beatles. A principal surpresa, apesar de ela já ter feito parte do show de Porto Alegre, foi a execução de "FourFiveSeconds" a inusitada colaboração dele com Kanye West e Rihanna, lançada em 2015. A canção, que chegou a tocar em baladas e festas noturnas, recebeu um interessante arranjo para funcionar somente na voz de McCartney.

O dono do show voltou ao repertório com Beatles com a barroca "Eleanor Rigby”. Ainda dentro do setor de homenagens, teve "I Wanna be Your Man", com a qual celebrou o baterista Ringo Starr e também os Rolling Stones, já que Lennon e McCartney cederam esta canção originalmente para Mick Jagger e cia. em 1963, como o músico contou à plateia. Com "Something", é claro, o foco ficou em George Harrison. O tributo ao guitarrista morto em 2001 é sempre um momento muito bonito das apresentações de McCartney. A noite ainda teve o momento Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band com o vaudeville psicodélico de "Being For The Benefit of Mister Kite!" e a sempre impressionante "A Day in The Life" desaguando em "Give Peace a Chance", outro tributo a Lennon.

"Esta vocês vão cantar junto. Mas quando eu der o sinal, vocês estarão por sua própria conta". Assim, quando os primeiros acordes de piano de "Ob-La-Di, Ob-La-Da" foram ouvidos, quem tem experiência em shows de Paul McCartney já sabia que chegava a hora dos ex-beatle tocar aquelas canções que não faltam de forma alguma nas performances dele. Elas foram, na sequência, "Band on the Run" (faixa-título do LP que lançou com os Wings em 1973), a paródia/homenagem aos Beach Boys "Back in The U.S.S.R." e a solene "Let it Be" – outro belo momento, com o estádio todo iluminado pelos celulares.

Na hora de "Live and Let Die", tema do filme Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973), a pirotecnia se fez presente com fogos de artifício e explosões emanando do palco e encantando os fãs. Depois deste ponto alto, o ex-beatle colocou todo mundo para cantar ao som de "Hey Jude". Ela falava: "Agora, os manos"; depois, "agora, as minas". Enquanto isso, os fãs no estádio inteiro seguravam placas como o refrão "Na Na Na". Neste clima triunfante de "cante junto", Paul McCartney encerrou a parte principal da apresentação.

Para o bis, ele voltou segurando um bandeira do Brasil enquanto os músicos empunhavam uma bandeira da Inglaterra e outra do movimento LBGT. Acompanhado apenas pelo violão, ele recomeçou com "Yesterday". Após a breve "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (reprise), quem estava no Allianz para ouvir puro rock and roll se esbaldou com as pesadas "Helter Skelter" e "Birthday", ambas de The Beatles (1968), mais conhecido como Álbum Branco.

Depois de agradecer banda, técnicos, organização e público, McCartney anunciou que era hora de partir. Ele veio com a sequência que encerra o LP Abbey Road (1969): "Golden Slumbers", "Carry That Weight" e "The End", com os músicos de McCartney recriando todos os solos, harmonias e nuances da gravação original dos Beatles. Por volta de 23h40, McCartney e banda deixaram o palco.

Com um catálogo de sucessos tão vasto é natural que algumas canções importantes sejam sacrificadas. Nesta turnê, ele vem deixando de lado "My Love", "The Long and Winding Road" e "All My Loving". Mas se alguns fãs sentiram estas ausências, o resto compensou. Ao longo da apresentação, McCartney se expressou muito em português (lendo as frases na nossa língua, depois de pronunciá-las em inglês), mas nada soou forçado. As tentativas dele de falar gíria foram hilariantes. Aos 75 anos, a voz do músico apresenta algum desgaste, mas conforme o show foi avançando e as cordas vocais dele foram esquentando e tudo se ajustou. Agora, o ex-beatle tem apresentações agendadas em Belo Horizonte (Estádio Mineirão, dia 17) e em Salvador (Estádio Fonte Nova, dia 2).