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Paula Toller

Líder do Kid Abelha faz 50 anos nesta quinta, 23; relembre o P&R; com ela publicado na edição 11 da Rolling Stone Brasil

Marcus Preto Publicado em 23/08/2012, às 14h57 - Atualizado às 15h00

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Paula Toller dispara: "Hoje em dia, o mercado de rock está muito alternativozinho" - Divulgação
Paula Toller dispara: "Hoje em dia, o mercado de rock está muito alternativozinho" - Divulgação

Paula toller faz música "porque preciso fazer algo". Dando um tempo no Kid Abelha e com um segundo álbum solo na rua, SóNós, ela confessa que está mal acostumada com as gravadoras, não curte essa nova onda de cantoras de samba, admite uma arrogância jovem na época do surgimento do Kid Abelha e recoloca na roda a sensualidade que sempre foi sua marca registrada.

Por que você nunca saiu do Kid Abelha?

[Gargalhada] Nunca me fiz essa pergunta. E talvez essa já seja uma resposta. Por que sair?

Esse recolhimento da banda é uma pausa, não?

A gente combinou de parar por um ano e depois se reunir para planejar os próximos passos. O que a gente vai fazer quando voltar? Precisamos pensar com calma porque tanto eu quanto o George [Israel] estamos lançando discos solo.

Você demorou nove anos para lançar um segundo solo...

Não via motivos para fazer um disco novo. Pensava em regravar coisas, depois achava um saco, ainda mais que agora está essa onda de todo mundo gravando muito chorinho, muito samba. Prefiro fazer algo meio tosquinho. Gosto quando as pessoas ouvem coisas mais toscas, mas que são da geração delas. Vejo esse pessoal da PUC ouvindo samba antigo e acho tão estranho. É esquisito esse saudosismo melancólico dos anos 70. As pessoas sentem saudade de umas coisas que não viveram, ficam fantasiando que aquilo era uma maravilha.

Seu crescimento como cantora é flagrante. Ele vem de aulas de canto, experiência de palco ou é um reflexo da maturidade?

Tudo isso contribui, mas a maturidade e o prazer de cantar são fundamentais. A partir de um certo ponto, você não pode mais evoluir tecnicamente a não ser ficando um pouco erudita. Como se trata de música pop, você começa, então, a lidar com as sutilezas: cantar com menos intensidade, mexer na interpretação. Não gosto de interpretar a letra, gosto de interpretar a melodia. É uma brincadeira muito boa de se fazer, como se você fosse um músico, só que falando sua poesia ali e com uma dificuldade um pouco maior.

Para você, é clara a evolução dos temas de suas canções?

Fui percebendo que gosto desses assuntos universais do ser humano: o outro, o tal do amor, o tédio. Não gosto de falar do que está no jornal, fazer denúncias. Canto sobre os tabus da humanidade. Quando falo de sexo, por exemplo, as pessoas acham que é uma apelação. Para mim, sexo é um desses pontos [universais].

É por essa constância de assuntos que o Kid Abelha é associado ao universo adolescente? Você sente esse tipo de avaliação? De uma forma parecida, o Pato Fu também sofre isso.

Não sei se você percebeu, mas está falando de duas bandas que têm líderes mulheres. Talvez tenha a ver com certa delicadeza, com certo humor juvenil desencanado. O público de rock tem muito garoto marrento querendo gritar e ouvir barulho. E, quando comecei, tinha muito garoto marrento também na imprensa. Mas já se passaram 25 anos, tudo foi correndo e, se as pessoas ainda falam sobre isso, o problema é delas.

O Kid conquistou gerações diferentes de fãs. Você ficou com medo de a banda envelhecer e não conseguir se comunicar com esse novo público?

Essa preocupação sempre esteve completamente fora da minha perspectiva, estou muito acima disso. Quero desenvolver meu trabalho da maneira mais interessante possível, ainda tenho muita coisa a aprender e a fazer como artista. É assim que me comporto artisticamente e também dentro do show business. Faço música porque preciso fazer alguma coisa na vida. Por causa do sucesso inicial dos anos 80, tive esse privilégio. Nunca precisei mostrar um disco na gravadora antes que ele estivesse pronto. Talvez eu seja mal-acostumada.

Isso aconteceu também porque os discos funcionavam, não?

Alguns venderam pouco, mas acho que se investia mais em carreiras. É preciso ser um pouco desencanada dessa pressão de fazer muito sucesso e render muito dinheiro. Não me entenda mal: não estou fazendo a humildezinha. Minha ambição é muito maior. Mas, às vezes, você tem que aceitar algumas derrotas e se retirar. É muito importante até para alimentar o próprio trabalho.

Estamos vivendo o surgimento de uma geração de cantoras que fez do samba a matéria-prima para sua música. Essa não é uma onda que anima você?

Nunca fui de seguir onda. Como minha geração acabou se tornando muito bem-sucedida, parece que foi uma coisa fácil, mas era muito maldito ter uma banda de rock e achar que poderia fazer sucesso. Existem sempre esses ciclos de complexo de inferioridade em relação aos grandes compositores brasileiros. E a gente não tinha nenhum. Ao contrário, tínhamos uma arrogância jovem muito grande.

Complexo de inferioridade em relação a quem? À ostensividade da obra da geração tropicalista, por exemplo?

Hoje, o mercado de rock está muito alternativozinho. Naquela época, a gente fez um negócio que não era o que estava rolando, mas que ficou bem popular. Foi a maior "coisa" desde a Jovem Guarda. Agora, os grandes da Tropicália têm um lobby muito forte, sempre falam bem uns dos outros.

E essa barriga tanquinho?

É Photoshop [rindo]. Gosto de me cuidar, não é um sacrifício. Gosto muito de esporte, de jogar tênis. E dou uma corridinha para aumentar minha capacidade aeróbica, que é necessário na hora de cantar. Mas não faço nada exagerado.