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Piadas batidas e interpretações pavorosas marcam estreia da versão brasileira do Saturday Night Live

Programa com produção-executiva de Rafinha Bastos apresentou textos reciclados e pouca ousadia

Stella Rodrigues Publicado em 27/05/2012, às 22h27 - Atualizado em 28/05/2012, às 09h50

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Rafinha Bastos
Rafinha Bastos

Depois de muita expectativa, estreou neste domingo, 27, na Rede TV!, a versão brasileira do Saturday Night Live. O programa manteve alguns alicerces da estrutura básica e da formula campeã que vai ao ar há quase quatro décadas na NBC norte-americana, mas com um tom mais popularesco e uma carga bem mais pesada de piadas manjadas sobre comportamento – muitas delas interpretadas de forma sofrível em esquetes.

A curiosidade maior era a respeito da performance de Rafinha Bastos, que assume os cargos de produtor-executivo, apresentador do prestigioso quadro Weekend Update e host desse piloto. O comediante estava fora do ar desde outubro do ano passado, quando uma piada a respeito do bebê ainda não nascido da cantora Wanessa o transformou em uma espécie de pária da comédia para o público em geral. O caso foi divulgado à exaustão desde então e a expectativa era ver como funcionaria um programa ao vivo com o “rebelde da comédia nacional”, como ele é visto por outra parcela do público.

Perfil: Rafinha Bastos, o “homem mais influente do Twitter”, vivia sua melhor fase sendo agressivo, odioso e politicamente incorreto – e garantia que esse era o verdadeiro caminho da salvação.

É preciso dar crédito para Rafinha como alguém capaz de se sair bem diante da pressão de levar para a televisão o exagero, carregando a piada ao extremo, algo que o SNL prega. Contudo, o elenco composto em grande parte de humoristas saídos da comédia em pé precisa urgentemente de aulas de interpretação para que consiga começar a divertir o público na entrega da piada. Mesmo que um detalhe ou outro do texto fosse bem sacado, era difícil superar a canastrice e conseguir rir. Os integrantes mais bem preparados para atuar, pelo menos nessa estreia, eram o próprio Rafinha e Fernando Muylaert, já experiente na área. O quadro de humoristas ainda conta com Anderson Bizzocchi, Marco Gonçalves, Marcela Leal, Claudio Carneiro, Renata Gaspar, Carla Candiotto, Rudy Landucci e Carol Zoccoli.

Seguindo a tradição do programa internacional, o roteiro ainda bebe bastante da fonte dos fatos mais comentados no país e no mundo nas últimas semanas. O primeiro esquete foi uma versão do quadro O Que Vi da Vida, do Fantástico, que na semana passada fez uma entrevista bastante comentada – e agora devidamente satirizada – com a apresentadora Xuxa. Ao mesmo tempo, a concorrente Band exibia o Pânico, que também fez graça com o quadro. Nenhum dos dois mostrou qualquer insight genial, contudo.

Estruturalmente, a Rede TV! precisou fazer algumas adaptações. Além da já amplamente divulgada porção de quadros gravados (pouco mais de 30% da uma hora e meia de programa), o áudio foi um problema o tempo inteiro. Optando por captar as vozes com microfones do tipo head set, em vez dos tradicionais booms, a respiração dos atores e até as risadas furtivas deles reverberaram claramente em diversos quadros, dando uma impressão amadora. Em compensação, o som da performance musical de Marina Lima, que deveria estar claro, estava bastante embolado. A cantora fez duas aparições, com as faixas “LEX” e “Pra Começar“.

O cenário adapta a Grand Central Station de Nova York ao Brasil (imitando o original), o que pareceu um pouco sem propósito. Mas a banda ao vivo fazendo a introdução do monólogo deu um toque classudo a ele, condizente com a referência que o programa é para o humor mundial.

Em termos de texto, os dois melhores quadros (embora muitas vezes previsíveis) foram o monólogo de abertura, supertradicional no SNL original, e o do Weekend Update, um dos quadros mais queridos na versão norte-americana. No primeiro, Rafinha sacaneou a própria Rede TV! o quanto pôde, lembrando que já tinha feito comentários jocosos aos montes sobre o canal, e repetiu as muitas piadas feitas com o fato da adaptação nacional do programa ser no domingo e parcialmente ao vivo, contrariando o nome da produção. Ele aproveitou para tirar sarro também dos humorísticos Zorra Total e Pânico e lembrar que, enquanto o original norte-americano encerrou sua temporada, semana passada, com Mick Jagger, “tomamos um não do Frank Aguiar”.

Já no longo Weekend Update de estreia, mantendo a ideia de fazer comentários ásperos com as notícias da semana, Rafinha brincou, entre outros, com os jogadores Adriano e Neymar, Luciana Gimenez (“primeira-dama” da Rede TV!) e “recebeu” (atores interpretando) Cirilo, da novela infantil Carrossel, e o político Carlinhos Cachoeira. Na interpretação, Cachoeira, em vez de ficar calado, fez um rap (até que bem feito, se comparado à música sobre a paixão da vida dos motoboys, que tinha sido exibida mais cedo).

Rafinha, no cargo de produtor-executivo, deverá rever diversos pontos, afinal, fama de ousadia somadas ao estilo “piada de tiozão” dificilmente segurarão audiência e anunciantes (embora as vinhetas comerciais tenham representado alguns dos poucos momentos realmente engraçados do programa), mesmo com o nome Saturday Night Live tendo o peso que tem.