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Pocket shows a R$ 55

SP Noise tem público pequeno, ingressos caros e apresentações curtas; show de 30 minutos do Black Mountain, atração principal, fecha o primeiro dia de festival

Por Bruna Veloso Publicado em 24/11/2008, às 08h29

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Parte da boa apresentação dos finlandeses do Flaming Sideburns pode ser creditada ao carisma do vocalista Eduardo - Lucas Lima
Parte da boa apresentação dos finlandeses do Flaming Sideburns pode ser creditada ao carisma do vocalista Eduardo - Lucas Lima

Talvez por conta do primeiro feriado prolongado em seis meses, ou pelo ingresso salgado, a primeira edição do SP Noise se tornou um pequeno conjunto de shows para um pequeníssimo público. A perna paulistana do consagrado Goiânia Noise em nada se assemelhou ao pai (que nesta sexta, 21, iniciou sua 14ª edição). Enquanto no estado lembrado pela emigração de duplas sertanejas o ingresso para um dia na maratona de shows custa R$ 20 (ou R$ 30, fora do preço promocional; para os três dias de festival, o valor varia entre R$ 50 e R$ 70), na metrópole, só a entrada para a sexta-feira saiu por R$ 55. Na porta, o valor subia para R$ 65.

Menos de 200 pessoas saíram de suas casas para ver as seis bandas escaladas para o primeiro dia de Noise em São Paulo. Quem se arriscou, assistiu a uma seqüência de pocket shows com no máximo 30 minutos cada. Nem com as duas bandas finais - os finlandeses do Flaming Sideburns e os canadenses do Black Mountain - foi diferente: ambas as apresentações mantiveram o padrão de pouco tempo no palco, com direito a xingamentos da platéia no show de encerramento.

A Eazy, lugar onde acontecem os shows, tem uma boa estrutura. Dois palcos cobertos são separados por uma pequena área aberta, com algumas barraquinhas vendendo camisetas, bottons e CDs. No palco principal, onde o Black Mountain fechou a noite, fica o bar, que assim como o valor dos ingressos, se mostrou quase como uma afronta, em termos de festivais independentes. Em maratonas como Jambolada (MG), Demosul (PR) e Mada (RN) e o próprio Goiânia Noise a água custa no máximo R$ 1,50 e a cerveja R$ 2; em São Paulo o preço foi de R$ 3 e de R$ 5, respectivamente.

Psicodelia e experimentalismo

O Black Mountain subiu ao palco principal às 21h55, com um público um pouco mais volumoso. A sonoridade psicodélica da banda era esperada por boa parte dos pagantes, que viajaram juntos ao som ora pesado, ora etéreo da guitarra do também vocalista Stephen Mcbean. O músico, com cara de quem acabou de chegar dos anos 1970, com cabelos passando os ombros e uma barba que faria inveja a Marcelo Camelo, fica na maior parte do tempo absorto em seu instrumento. Já Amber Webber, a vocalista postada no centro do palco, parecia não estar muito contente e só se desarmou quando alguém da platéia gritou "I love the leadsinger!", ao que sorriu e apontou para Mcbean. A apresentação passou longe de dar uma boa pincelada nos dois álbuns da banda, um homônimo, de 2005, e In The Future, lançado este ano. Depois de pouco mais de meia hora, com músicas longas, como "Angel", "Wucan" e "Queens Will Play", a banda sai do palco. Ao perceber que o grupo não voltaria, algumas pessoas na esparsa platéia ensaiaram um coro de "filhos da puta". Quem pagou por um show completo teve só um gostinho do que é a banda ao vivo (intensa, apesar de não reagir aos pedidos de bis).

No palco menor, o Flaming Sideburns fez a apresentação mais divertida da noite. A banda chegou com cara de country rock: os integrantes usavam uma camisa preta com detalhes em branco, estilo cowboy, enquanto o vocalista Eduardo "Speedo" Martinez vinha de colete de camurça de franjinhas e calça com estampa de pele de onça pintada. Mas o som parece ter sido mais influenciado por bandas como New York Dolls. Guitarras rápidas e dançantes, com um quê de hard rock, deram o tom em faixas como "Save Rock n' Roll". A boa apresentação é em parte creditada à presença de "Speedo", que não pára no palco: desce à platéia, canta abraçado junto a uma garota que assistia ao show e interage ao final, cantando de joelhos, no chão, pedindo para todos fazerem o mesmo.

Da Bélgica, o Motek trouxe um som experimental, com um baixo marcado e muitos efeitos eletrônicos, alternando momentos soturnos e outros lisérgicos. No palco, os integrantes pareciam satisfeitos em estar no país - no MySpace, a banda postou uma mensagem se dizendo orgulhosa por aterrissar aqui, e que "aprender samba é o maior acontecimento" da vida do grupo. Longos trechos instrumentais fazem parte do repertório. Pena que pouca gente pôde curtir o finalzinho do show, já que o Flaming já tomava o palco menor enquanto o Motek ainda tocava.

Antes disso, o quarteto de Florianópolis Os Ambervisions fez uma mistura de surf music com hardcore. O vocalista Zimmer (que começa o show tocando bateria) surge com a cabeça completamente enfaixada e, bem-humorado, apresenta duas vezes a banda como sendo o Black Mountain. O guitarrista e vocalista Amexa estampa um sorriso no rosto pelas estripulias do colega, que toca maracas, bate as costas contra a parede e desce do palco para abraçar e dar tapinhas nas costas da platéia. No som, a banda saiu perdendo: a sonoridade suja foi prejudicada pelo volume extremamente alto do palco menor, sendo que em diversos momentos o que saía das caixas virava uma massa sonora indistinguível. O problema só seria resolvido na apresentação do Flaming.

Os argentinos do The Tormentos teriam botado um grande público para dançar, caso houvesse um grande público no lugar. Com o simpático baixista Mr. M, que fica ao centro do palco, os argentinos mostraram surf music instrumental, divertido e sem pretensões. O som das guitarras, limpo e com efeitos que fazem lembrar, instantaneamente, uma praia, é a marca do quarteto. Aproximadamente 20 minutos mais cedo, o Black Drawing Chalks abriu a noite, com atraso - e para piorar, a entrada da imprensa só foi liberada quando a apresentação já começava. Os vocais, em inglês, saíram desfavorecidos, como aconteceria no resto da noite, pela altura do volume dos instrumentos. No geral, a banda de Goiânia faz um rock direto e reto, com guitarras distorcidas e poucos solos. Destaque para o competente baterista, um dos mais enérgicos da noite.

O segundo dia do Noise SP acontece neste sábado, 22, com as bandas Helmet (que cancelou, na última quarta, 20, o show que faria em Brasília e anunciou sua vinda à capital paulista), Vaselines e Black Lips. Os ingressos custam R$ 80.