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Popload Festival 2017: PJ Harvey enfrenta calor e Phoenix resgata hits em dia de sol escaldante

AlunaGeorge foi atração surpresa do festival, que aconteceu nesta quarta, 15, no Memorial da América Latina, em São Paulo

Lucas Brêda e Anna Mota Publicado em 16/11/2017, às 00h51 - Atualizado às 12h43

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PJ Harvey e Phoenix no Popload Festival 2017 - Ana Luiza Ponciano
PJ Harvey e Phoenix no Popload Festival 2017 - Ana Luiza Ponciano

O verão brasileiro encontrou o indie gringo e nacional no Popload Festival 2017. Na última quarta, 15, os norte-americanos do Neon Indian começaram a programação quando a temperatura ultrapassava os 30º, e o público ainda se aventurava no cimento quente do Memorial da América Latina, em São Paulo.

Todo de branco, o vocalista Alan Palomo comandou uma festa dançante que terminou com uma cover de "Pop Life", do Prince. Entre copos de cerveja (a R$ 12) e águas (a R$ 5), o público recebeu o político show do Ventre, segunda atração da ocasião e primeira banda brasileira, em uma transição do pop para o rock experimental.

Como de costume, após "Carnaval" e antes de "Mulher", a baterista Larissa Conforto tomou o microfone para falar pela banda fluminense. "Há uma semana, 18 homens brancos, héteros e cis decidiram que o aborto em caso de estupro — que é um crime — deveria ser proibido por lei", enfatizou. "Nós precisamos falar sobre feminicídio."

Todos os primeiros shows foram afetados – direta ou indiretamente – pelo sol incomumente forte na capital paulista. Gabriel Ventura, vocalista do Ventre, tocou sem camiseta e até Salma Jô, líder do Carne Doce (atração seguinte) se molhou constantemente com um copo d'água. E o calor também afetou o público, que, quando não estava buscando refúgio nos espaços com sombra, sofria para assistir às apresentações debaixo do sol.

O Carne Doce já está há algum tempo na estrada com Princesa, disco de 2016 que colocou a banda goiana nos holofotes do público nacional. O quinteto mostrou as apropriadas jams alongadas (foram apenas seis performances completas) e a presença magnética de Salma continua sendo um dos maiores trunfos da dinâmica do grupo ao vivo.

Se o sol foi empecilho para todos os que tocaram de dia, no caso do Daughter, a influência foi ainda mais direta. Isto porque o trio (no palco, em momentos, um quarteto) trouxe uma sonoridade soturna ao ambiente nada condizente do Memorial da América Latina na quarta, 15, de feriado. A vocalista do grupo, Elena Tonra, até teve que trocar a guitarra pelo baixo inesperadamente por um problema técnico nos pedais (devido à quentura).

Por conta dos problemas, o Daughter acabou mudando a ordem do setlist padrão, mas a atmosfera das performances acabou pouco afetada pelos imprevistos. O trio britânico fez a trilha reflexiva da tarde quente, com o single “Numbers” puxando o clima para “To Belong”, “Humans”, “No Care” e um catado do cancioneiro de dois álbuns do trio.

PJ Harvey, coheadliner e uma das atrações mais esperadas do dia, teve o privilégio de subir ao palco – alguns minutos atrasada – já no fim da tarde, quando o sol se escondia. Com uma banda numerosa (oito integrantes finamente vestidos e bastante sérios, revezando-se entre guitarras, violões percussões e sintetizadores, entre outros), ela criou uma parede sonora, puxada pela voz que surgiu como força motriz no aglomerado de sons emanados do palco do Popload.

A apresentação não foi bombástica: PJ evitou momentos de celebração exacerbada com um setlist basicamente focado nos dois últimos lançamentos dela, os discos Let England Shake (2011) e The Hope Six Demolition Project (2016), evitando hits e momentos protocolares. Sentimentalmente, contudo, o show dela é hipnotizante: cada elemento no palco contribui, à sua maneira, para a construção de uma massa sonora que ganha sentido completo com os vocais precisos e as performances sensíveis da britânica.

O Popload Festival de 2017 também teve uma atração surpresa. O projeto AlunaGeorge assumiu um palco secundário, até então desconhecido, nas adjacências do portão principal do evento. A apresentação reuniu um público considerável, mas pareceu mais uma espécie de “pausa para o DJ”, já que ela se apoiou basicamente em playbacks e reprodução de sons. A cantora brasileira IZA foi convidada dela e até animou a plateia em meio a um show pouco vibrante.

Ti Amo, disco mais recente do Phoenix, é uma grande fuga das catástrofes cinematográficas que tem rondado o mundo atualmente. E o show da banda francesa no Popload também foi uma grande corrida do novo álbum (lançado este ano e marcando a quebra de um hiato de quatro depois de Bankrupt!, de 2013).

O setlist indie-experimental-eletrônico, contudo, foi baseado majoritariamente nos sucessos de um passado não tão distante. "Lisztomania", quarta da apresentação, foi inevitavelmente a mais celebrada. Neste momento, o público lembrou o porquê de o grupo comandado por Thomas Mars ter sido convidado para ser o headliner do Popload Festival de 2017 – mesmo com um nome como PJ Harvey no line-up). Em músicas como "Ti Amo", o público aproveitou a catarse para se transportar para outras realidades.

Por estar divulgando um novo álbum, apresentação do Phoenix foi digna, mostrando um pouco do momento atual do grupo e resgatando os poucos hits que o grupo tem no cancioneiro. Se comparado ao ano passado do Popload Festival, cujos headliners foram Wilco e Libertines, o Phoenix não demandou tanta energia – e nem evocou uma quantidade de canções relevantes e hits suficientes.