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Por "barulho & peso"

16ª edição do Goiânia Noise Festival marcou o fim de ano do Centro-Oeste em clima de muito rock

Por Cristiano Bastos Publicado em 23/11/2010, às 15h02

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O The Mummies em show no Goiânia Noise Festival - Divulgação/Jorge Bernardo Oliveira
O The Mummies em show no Goiânia Noise Festival - Divulgação/Jorge Bernardo Oliveira

Atualizada às 15h01

O Goiânia Noise Festival, que, neste ano, aconteceu dentro da programação da 3ª Conferência Brasil Central Music, iniciada no último dia 13, em Goiânia, mais uma vez mostrou vital importância para a solidificação do cenário independente de rock brasileiro e da América do Sul.

As atividades começaram na última quarta-feira, 17. Foram três encontros especiais: Superguidis com Philippe Seabra, da Plebe Rude, Lucy and The Popsonics com John Ulhoa, do Pato Fu, e Diego de Moraes e O Sindicato. As três combinações agradaram ao público. Foi a primeira vez que Lucy and The Popsonics tocaram juntos ao vivo com Ulhoa, que produziu o novo álbum da banda brasiliense, Fred Astaire. A medir pela empolgação de todos os presentes, a alquimia entre foi boa. Os Superguidis apresentaram o muito bem testado, Brasil afora, repertório de seus três álbuns lançados. O ponto alto foi a participação de Philippe Seabra, também produtor da banda, que atacou canções da Plebe Rude (que, em 2011, comemora 30 anos com o lançamento de um DVD ao vivo), como "Até Quando Esperar". Usando palavras do vocalista Andrio, "o concreto do Martim Cererê [local onde aconteceu o show] quase rachou" ao som protestante de "Rockin' in the Free World", clássico do canadense Neil Young. "Os Guidis não caem nessa onda de hype, nas armadilhas de ser a bola da vez, onde tem muito lobby e pouca canção", observou o guitarrista da Plebe.

Com 15 anos de estrada, o Krisiun, nome consagrado do death metal mundial, com sete álbuns na bagagem, imprimiu também o lema "barulho & peso" do festival. Na sexta, 19, a banda provou que faz, atualmente, o mais mortal, preciso, rápido e brutal death metal do país. O trio formado pelos irmãos Kolesne Camargo tocou músicas do último disco, Southern Storm (2008). Em Goiânia, mostraram ter fôlego e criatividade suficientes para reformular a cansada fórmula do metal extremo.

A inglesa Viv Albertine, ex-The Slits (cuja vocalista, Ari Up, morreu no último mês de outubro), foi amiga de ícones do punk, como Joe Strummer, Mick Jones e Johnny Thunders, e chegou a ter uma banda com o mártir Sid Vicious, a The Flowers of Romance. Foi como guitarrista das Slits, porém, que ficou conhecida. Formada apenas por mulheres, em 1976, a banda foi um dos grandes marcos do punk britânico. Viv subiu ao palco antes dos Walverdes e levou ao Goiânia Noise certo charme de 1977, o ano mais importante da história do punk. Ainda que com décadas de delay, a presença de Viv foi marcante no festival.

Em seguida, os Walverdes mostraram o recém-lançado disco Breakdance - e, segundo o próprio Fabrício Nobre (vocalista da MQN e presidente da Abrafin, a Associação Brasileira de Festivais Independentes), "sem o MQN para atrapalhar". "Em 2009 quebramos tudo com o 'megablaster' show Walverdes+MQN. Hoje, não vamos ter a companhia de nossos parceiros goianos para enganar o público: é tudo com a gente mesmo", brincou o guitarrista e vocalista Gustavo "Mini" Bittencourt.

Também na sexta, a banda argentina El Mató A Un Policía Motorizado, a qual prima pelas guitarras distorcidas e, conforme definição deles, "melodias fogo negro", derramou tonalidades platinas sobre o Noise. El Mató A Un Policia Motorizado, que já passou anteriormente pelo Brasil, é um dos mais respeitados nomes do indie rock argentino. No festival o grupo mostrou canções lançadas em seus quatro discos. O sotaque castelhano da banda não afugentou o público goiano - que tem como uma das principais características prestigiar, sem preconceitos, todas as vertentes sonoras. Definitivamente, Goiânia, muito além do sertanejo que exporta, é uma cidade com fome e sede de rock'n'roll.

O sábado, 20, teve o Musica Diablo, projeto paralelo de Derrick Green, vocalista do Sepultura, com integrantes das bandas como Nitrominds e Threat. A banda se formou em 2008, a partir de jam sessions feitas apenas para tocar covers de Kreator, Nuclear Assault e Municipal Waste. Em pouco tempo de existência, o Musica Diablo finalizou 15 músicas próprias, muitas das quais foram apresentadas em Goiânia.

A paulistana Vespas Mandarinas, banda nova de Chuck (ex-Forgotten Boys), Mauro Motoki (Ludov), Mike (ex-Video Hits) e Thadeu Meneghini (Banzé) fez o décimo segundo show da carreira no festival. "Estamos indo muito bem para o que começou de um encontro quase informal entre amigos. Agora começamos a virar algo mais sério. Hoje a banda está mais efetiva em nossas vidas, mais para uns e menos para outros", conta Meneghini. Ele diz que é uma baita responsabilidade tocar no Noise que, ao lado do Abril Pro Rock, é uns dos festivais independentes mais bem organizados do Brasil. "Aqui no Martim Cererê, eles tiram o melhor som que uma banda pode ter nesse circuito" - mesmo que alguns problemas de energia elétrica tenham interrompido o show do Vespas. O grupo tocava uma versão para "Rádio Blá", de Lobão, quando faltou energia. "O público não nos deu mole, não. Eles estavam de olho, conferindo quem somos nós e porque diabos uma banda que nem CD lançado tem estava lá", continua Meneghini, que adianta, para o ano que vem, o plano da banda, entre outros, de lançar a canção "O Inimigo", com participações especiais de artistas como Nasi e Pitty.

Comemorando 30 anos de banda, um dos mais importantes representantes do punk nacional, o Cólera, mostrou as músicas que fazem parte da atual turnê, 30 Anos Sem Parar. Foi um dos mais aguardados shows. O Cólera fez uma releitura da própria obra com músicas de cada época da banda, além de outras faixas que estarão presentes no próximo álbum, Acorde Acorde Acorde, que deve sair em 2011.

O Cólera esquentou os ânimos para o headliner do festival, os californianos dos The Mummies. Envoltos em uma roupa que imita gase, Larry Winther (guitarra), Maz Kattuah (baixo), Trent Ruane (teclados e sax) e Russell Quan (bateria), demoliram tudo desfilando seu estressado, sujo e alto garage rock.

O Goiânia Noise acabou no domingo, 21, no campus da Universidade Federal de Goiás que, aos 50 anos de existência, presenteou o público de cerca de quatro mil pessoas com o encontro de Gilberto Gil e o trio Macaco Bong. "Esperem tudo do Macaco Bong e tudo do Gilberto Gil. Ao mesmo tempo não esperem nada do Macaco Bong e nada do Gilberto Gil". Assim o mestre-de-cerimônias Fabrício Nobre definiu o show para o público. Quem esperava um show tradicional, se surpreendeu. O trio cuiabano começou tocando seu rock instrumental, que balançou o público. E, em seguida, Gilberto Gil entrou no palco cantando "Aquele Abraço", para a alegria de todos. Gil agradeceu a oportunidade de tocar em Goiânia. "Eu não encontrava o público daqui há algum tempo", destacou. O cantor fez uma apresentação curta, mas intensa. Após despedir-se ele voltou ao palco e até desceu para o meio da plateia, repetindo a música "Palco". Depois, o power trio Macaco Bong literalmente quebrou tudo no final com a guitarra apitando durante alguns minutos. Bem ao gosto do Goiânia Noise Festival.