Rolling Stone
Busca
Facebook Rolling StoneTwitter Rolling StoneInstagram Rolling StoneSpotify Rolling StoneYoutube Rolling StoneTiktok Rolling Stone

Realidade 6D: excelentes documentários musicais estão deixando Hollywood no chinelo

20.000 Dias Na Terra, de Nick Cave, é o grande destaque do cinema em 2014

Miguel Sokol Publicado em 03/01/2015, às 10h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Docs são espontaneamente 6D: divertidos, dinâmicos, diferentes, desafiadores, definitivos e disponíveis. - Gabriel Góes
Docs são espontaneamente 6D: divertidos, dinâmicos, diferentes, desafiadores, definitivos e disponíveis. - Gabriel Góes

A despeito de toda a produção hollywoodiana, o filme mais surpreendente que eu vi em 2013 foi o documentário musical de um diretor sueco. Searching for Sugar Man conta a incrível história do cantor e compositor norte-americano Rodriguez. E quando eu digo incrível quero dizer que o mais alucinado dos roteiristas não se atreveria a criar tal enredo nem no seu sonho mais selvagem – no entanto, a trajetória de Rodriguez é real.

O curioso caso do sumiço do rock: muitos tentam, mas o verdadeiro bastião desse gênero é Josh Homme.

Pois aconteceu de novo. A despeito de toda a produção hollywoodiana, o filme mais surpreendente deste ano também é um documentário musical, desta vez inglês. 20.000 Dias Na Terra registra o suposto vigésimo milésimo dia do cantor Nick Cave sobre o planeta em que vivemos. Acontece que a Terra dele não é a mesma que a nossa. Ou melhor, do cidadão Nicholas Edward Cave, pode até ser; mas do artista Nick Cave não é. Este vive em um mundo próprio, criado por ele e habitado por musas, mocinhos e vilões com os quais ele convive diariamente para extrair suas músicas.

A surpresa do filme é que o dia documentado se passa nesse mundo paralelo, poético se preferir, e por isso nada nele é casual, tudo é pensado e roteirizado – e pelo próprio Nick Cave. Ou seja, 20.000 Dias Na Terra é um autodocumentário de ficção, se é que isso é possível.

#choraindie: Um protesto contra quem vai a show de rock para posar de cool em vez de se divertir.

Fato é que, se aconteceu duas vezes, pode e deve acontecer de novo. Os documentários musicais estão a todo vapor, não é à toa que o Foo Fighters vinculou seu novo disco, Sonic Highways, a uma série de oito deles. Só este ano foram lançados Glen Campbell: I’ll Be Me, que relata a turnê de despedida do cantor country norte-americano, em 2012, quando ele já lutava contra o mal de Alzheimer; Finding Fela, sobre o músico nigeriano Fela Kuti, criador do Afrobeat; e The Possibilities Are Endless, a respeito do o roqueiro escocês Edwyn Collins, que após dois derrames, em 2005, só conseguia dizer “sim”, “não”, “Grace” (que é o nome da esposa dele) e “as possibilidades são infinitas” – Edwyn se recuperou e até gravou um disco com participação de Franz Ferdinand e Johnny Marr, entre outros.

Se os documentários musicais estão surpreendendo em quantidade e qualidade, é porque não precisam mais de lançamento em DVD para existir e muito

menos de salas de cinema. A internet veio para ficar e o azar é todinho de Hollywood. Enquanto a indústria aposta suas fichas em chatices 3D, os documentários são espontaneamente 6D: divertidos, dinâmicos, diferentes, desafiadores, definitivos e disponíveis. Só o que falta para a nossa experiência ser completa é legenda.

Baba, Baby, de Quiabo: posicione-se você também diante das mais recentes rusgas do rock.

Por isso eu faço aqui um pedido às equipes da InSUBs, dos Reformados e dos Idiotas Inferiores: pessoal, vocês já são parte fundamental do meu entretenimento com suas legendas fantásticas e gratuitas, mas tem muita coisa legal além de Homeland e Game of Thrones para legendar. Eu conto com vocês, até porque as legendas dos gajos portugueses são todas “lixadas”, que é como eles traduzem “fucked”.